quarta-feira, 17 de março de 2010

As Veias Abertas do Haiti: defender o Haiti é defender todos nós. (Celi Taffarel)

Camaradas segue texto da profesora Celi, militante do PT. Ele está disponível no site: link - boletim CEPEHU www.cepehu.com.br

“....Temos guardado um silêncio bastante parecido com a estupidez...”
(Proclamação Insurrencial da Junta Tuitiva na cidade de La Paz, em 16 de junho de 1809. In: GALEANO, Eduardo. Veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979.)

O Ano de 2010 iniciou de maneira drástica com o terremoto ocorrido no Haiti no dia 12 de janeiro, anunciando a vulnerabilidade da vida humana no planeta. Desta vez a catástrofe nos chega pela força da natureza que segue seu curso conhecido pela humanidade, visto que a ciência é capaz de explicar o que aconteceu, acontece e poderá acontecer com um planeta ainda em acomodação, um planeta sujeito a devastação determinada pelo modo de produção capitalista. A ciência é capaz de explicar a tragédia e o que ela revela, a saber, um país golpeado em sua soberania. A Ciência negada, usurpada e vilipendiada pelos imperialistas que não permitiram e não permitem a uma nação como o Haiti, construir seu próprio lastro educacional, científico e tecnológico que pode contribuir, SIM, para evitar as conseqüências drásticas de uma catástrofe natural previsível, como a ocorrida recentemente no Haiti e que ceifou aproximadamente 150 mil vidas humanas.
O Haiti vem sendo sangrado há séculos. Eduardo Galeano ao descrever a sangria das Américas pelos colonizadores e imperialistas apresenta dados sobre as sucessivas explorações, em grande escala a que foram sujeitos os países das Américas do Sul e Central – os países do Caribe como Barbados, Jamaica, Haiti, Guadalupe, Cuba, Dominicana, Porto Rico. Nestes países ocorreram brutais regimes escravocratas, ditaduras militares, as terras foram devastadas, para saciar a sede dos gananciosos imperialistas.
Já em 1791 eclodia no Haiti a revolução pela independência do jugo colonial Francês. A guerra pela libertação custou rios de sangue e devastação. A revolução Haitiana coincidiu com a revolução Francesa. Como nos relata Galeano (1976, 14º p. 78) “o Haiti sofreu, também, na própria carne”, o bloqueio imperialista. Cedendo a pressão francesa o Congresso dos Estados Unidos proibiu o comércio com o Haiti em 1806. Em 1825, a França teve que reconhecer a independência de sua antiga Colônia, mas em troca de uma gigantesca indenização em dinheiro. Esta indenização em dinheiro tornou-se segundo Galeano, “uma pedra esmagadora sobre as costas dos haitianos independentes que haviam sobrevivido ao banho de sangue das sucessivas expedições militares enviadas contra eles”. Um dos países mais ricos da América Central, o primeiro a proclamar a libertação dos escravos e sua independência, foi submetido a sucessivas ditaduras e condenado a ruínas, com apoio dos imperialistas. O Haiti não se recuperou jamais: hoje é o mais pobre e arrasado das Américas. Suas veias continuam sangrando. Um povo, que promoveu a única revolução de escravos vitoriosa na história da humanidade, que derrotou o imperialismo francês, inglês e o norte americano em inúmeros levantes e enfrentamentos continua sendo "punido" historicamente pela sua história e tradição de luta.
Para Luis Suarez Salazar (2006, p. 01-17), autor do livro “Madre América: Un siglo de violência y dolor (1898-1989)”. Habana, Cuba. Editorial de Ciências Sociales. 2006, os mais recentes cinco séculos da história latinoamericana e caribenha bem poderiam definir-se como quinhentos anos de solidão, de amargura, de injustiças, violência e dor demonstrados por inúmeros fatos e acontecimentos que foram por ele arrolados em seu livro.
Ainda hoje a presença das tropas de ocupação da ONU - MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti) não conseguem garantir a segurança e continua sendo aplicado ao Haiti a política do imperialismo, em uma verdadeira desestabilização do país. A presença das tropas da ONU é mais um entrave para a organização popular, sindical e da juventude, protegendo os interesses dos capitalistas, imperialistas, das empresas privadas, os quais são responsáveis pela exploração do povo haitiano há séculos.
Em setembro 2009 a partir do chamado da Conferência « Defender o Haiti é defender a nós mesmos » realizada em dezembro de 2008, cuja bandeira é a Retirada Imediata das Tropas da Minustah, uma Comissão Internacional de Investigação esteve reunida em Porto Príncipe para averiguar a situação do Haiti. A Comissão Internacional, patrocinada pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano, era formada por delegados de vários países. No Haiti, a atividade foi organizada por uma Comissão da qual faziam parte: MODEP (Guy Numa), CATH Central Autônoma dos Trabalhadores do Haiti (Fignole St. Cyr), ADFENTRAH Associação de Mulheres da CATH (Julie Genelus), CTSP Central dos Trabalhadores do Serviço Publico (Raphael Dukens), UNNOH (Josue Merilien), Anten Ouvriye (Reyneld Sanon), RONA (Georgie Desire) e CHANDEL (Jean Petit Derinx e Jackson Doliscar) junto com a ATPC (Associação dos Trabalhadores e Povos do Caribe). A Comissão Internacional de Investigação se concentrou em três objetivos: 1) Investigar a situação do Haiti, especialmente sobre a realidade da classe trabalhadora e os abusos das forças de ocupação da ONU; 2) Produzir um relatório sobre esta realidade e denunciar nacionalmente e internacionalmente; 3) Provar que a Minustah é uma força de ocupação que, portanto, deve sair imediatamente do território. Após ouvir dezenas de testemunhos de indivíduos e de associações, sindicatos e organizações políticas e de sistematizar material fornecido pelas entidades haitianas, tais como noticias publicadas em jornais (Haiti Liberte, The Nouveliste, entre outros), fotografias e relatórios (Acordo entre a ONU e o Governo haitiano sobre o status da operação das Nações Unidas no Haiti – 09/07/2004; Declaração da Terceira Conferência das ATPC, além de ter feito visitas in loco, a Comissão concluiu que a presença da Minustah afeta o país nos seguintes aspectos: 1 – Social : condições de trabalho, situação dos direitos sindicais, desemprego, violência contra as mulheres, assassinatos, etc; 2 – Econômico : exploração dos trabalhadores, reforço do desequilíbrio e da dependência econômica, etc; 3 – Político : perda da soberania nacional, atentado a liberdade de imprensa, prisões arbitrárias e desaparecimentos, repressão a manifestações populares, etc. A Comissão conclui que: - Nos termos do Capítulo 7 da Carta da ONU, uma intervenção militar somente pode ser justificada em caso de : Guerra Civil, Catástrofe natural, Crime contra a humanidade ou Genocídio.
Torna-se vital, portanto, para estancar a hemorragia que sofre o Haiti, que lhe seja restituída a plena soberania, com o fim das ocupações. Que seja anulada imediatamente a dívida externa impagável que pesa sobre o povo haitiano. Que todos os países do mundo abram suas fronteiras para os cidadãos haitianos. E que a solidariedade internacional seja expressa no que realmente é necessidade ao povo haitiano que são médicos, enfermeiros, educadores, engenheiros.
OBS: A autora que é militante do Partido dos Trabalhadores só esqueceu de dizer que o Brasil lidera as tropas intitulada como Força de Paz no Haiti. Mesmo todos os Movimentos Sociais exigindo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a retirada dessas tropas do Haiti.

Um comentário:

  1. Excelente texto da Professora Celi, e melhor ainda a observação de Claudio, sobre um ponto que ela omitiu no texto: a INVASÃO do governo brasileiro no Haiti.
    Valeu Claudio!!!

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