terça-feira, 28 de junho de 2011


E-mail enviado por um estudante de teologia de Boston para Laura Schlessinger, uma personalidade do rádio americano que distribui conselhos para pessoas que ligam para seu show.Recentemente ela disse que a homossexualidade é uma abominação de acordo com Levíticos 18:22 e não pode ser perdoada em qualquer circunstância.O texto abaixo é uma carta aberta para Dra. Laura, escrita por um cidadão americano e também disponibilizada na Internet.


Cara Dra. Laura Obrigado por ter feito tanto para educar as pessoas no que diz respeito à Lei de Deus. Eu tenho aprendido muito com seu show, e tento compartilhar o conhecimento com tantas pessoas quantas posso.Quando alguém tenta defender o homossexualismo, por exemplo, eu simplesmente o lembro que Levítico 18:22 claramente afirma que isso é uma abominação. Fim do debate.Mas eu preciso de sua ajuda, entretanto, no que diz respeito a algumas leis específicas e como seguí-las:a) Quando eu queimo um touro no altar como sacrifício, eu sei que isso cria um odor agradável para o Senhor (Levítico 1:9). O problema são os meus vizinhos. Eles reclamam que o odor não é agradável para eles. Devo matá-los por heresia?b) Eu gostaria de vender minha filha como escrava, como é permitido em Êxodo 21:7. Na época atual, qual você acha que seria um preço justo por ela?c) Eu sei que não é permitido ter contato com uma mulher enquanto ela está em seu período de impureza menstrual (Levítico 15:19-24). O problema é: como eu digo isso a ela ? Eu tenho tentado, mas a maioria das mulheres toma isso como ofensa.d) Levíticos 25:44 afirma que eu posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, se eles forem comprados de nações vizinhas. Um amigo meu diz que isso se aplica a mexicanos, mas não a canadenses. Você pode esclarecer isso?
Por que eu não posso possuir canadenses?e) Eu tenho um vizinho que insiste em trabalhar aos sábados. Êxodo 35:2 claramente afirma que ele deve ser morto. Eu sou moralmente obrigado a matá-lo eu mesmo? f) Um amigo meu acha que mesmo que comer moluscos seja uma abominação (Levítico 11:10), é uma abominação menor que a homossexualidade.Eu não concordo. Você pode esclarecer esse ponto? g) Levíticos 21:20 afirma que eu não posso me aproximar do altar de Deus se eu tiver algum defeito na visão. Eu admito que uso óculos para ler. A minha visão tem mesmo que ser 100%, ou pode-se dar um jeitinho?h) A maioria dos meus amigos homens apara a barba, inclusive o cabelo das têmporas, mesmo que isso seja expressamente proibido em Levíticos 19:27. Como eles devem morrer? i) Eu sei que tocar a pele de um porco morto me faz impuro (Levítico 11:6-8), mas eu posso jogar futebol americano se usar luvas? (as bolas de futebol americano são feitas com pele de porco)j) Meu tio tem uma fazenda. Ele viola Levítico 19:19 plantando dois tipos diferentes de vegetais no mesmo campo. Sua esposa também viola Levítico 19:19, porque usa roupas feitas de dois tipos diferentes de tecido (algodão e poliester). Ele também tende a xingar e blasfemar muito. É realmente necessário que eu chame toda a cidade para apedrejá-los (Levítico 24:10-16)?Nós não poderíamos simplesmente queimá-los em uma cerimônia privada, como deve ser feito com as pessoas que mantêm relações sexuais com seus sogros (Levítico 20:14)?Eu sei que você estudou essas coisas a fundo, então estou confiante que possa ajudar.Obrigado novamente por nos lembrar que a palavra de Deus é eterna e imutável.
 
Seudiscípulo e ardoroso.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Carta aberta a Walter Pinheiro, senador petista homofóbico.

Fiquei completamente puto dentro das calças quando li que você, um dos nossos melhores e mais formidáveis quadros, participou da imundície chamada Marcha da Família, que teve como um dos organizadores o pulha direitista e notório pastor homofóbico Silas Malafaia porque, que isso fique bem claramente assentado, organizadores e participantes da tal marcha não estavam ali para defender a família porra nenhuma: vocês todos reuniram-se para proclamar a mais abjeta e completa homofobia decorrente da religiosidade obtusa que vocês professam.

Não, prezado companheiro Walter, não perca seu precioso tempo com este velho militante sem importância tentando mostrar-me que você não é homofóbico porque, no máximo, e lamba os beiços, posso considerá-lo um homofóbico discreto, um homofóbico de baixos teores ou meio desnatado, que não é virulento como o patife do Silas Malafaia e outros sinistros deputadões e senadores que formam na definitivamente lamentável tropa do atraso que se reúne na chamada Frente Parlamentar Evangélica.

Tenho três filhos e o mais novo deles é gay, e eu o amo incondicionalmente. Ele tem 17 anos, é amoroso e inteligente, ótimo aluno (acabou de passar no vestibular da UFPR, sem ter concluído ainda o segundo grau), tem um talento especial para trabalhar coletivamente, escreve peças e é ator de teatro e, na recente tragédia que se abateu sobre nossa cidade, fez trabalho voluntário com crianças de famílias que estavam em abrigos públicos (meu menino saia de casa antes das oito da manhã e só retornava depois das oito da noite, e organizava e participava de brincadeiras e atividades com a piazada).
Significa dizer, senador petista homofóbico, que meu filho não ameaça a nenhuma família como você af irma quando resolve participar da imundície organizada, dentre outros patifões religiosos, pelo notório patifão do malafaia.

Quando meu menino resolveu viver integral e publicamente sua sexualidade eu, pai imperfeito que sou, decidi que faria tudo para proteger sua vida, sua integridade e seus valores, de modo que homofobia como a sua será por mim tratada, do pescoço pra baixo, a pontapés, até porque a cada 36 horas um integrante da banda LGTB é assassinado no Brasil. A sua homofobia mesmo quando desnatada, Walter, mata.

Sua fé, mesmo que evidentemente obtusa, merece meu respeito e se algum dia a liberdade religiosa estiver sob ameaça, quero ser convocado para defende-la irrestritamente mas, como é próprio, cada vez que vocês acenderem as fogueiras da inquisição eu, nos meus limites e forças, farei o que for possível para apagá-las.

Estou aqui para defender meu filho, e o farei, bando de homofóbicos religiosos filhos-da-puta!


Paulo Roberto Cequinel mora em Antonina e é autor do blog O Ornitorrinco – prcequinel.blogspot.com

sábado, 25 de junho de 2011

Os gays e a Bíblia
É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homoafetivos.
No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda. Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as “pessoas diferenciadas”...).

Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc).

No 60º aniversário da Decclaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela “despenalização universal da homossexualidade”.

A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu Catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homoafetivos.

Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hétero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.

São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a homofobia não se justifica apenas pela violência física sofrida por travestis, transexuais, lésbicas etc. Mais grave é a violência simbólica, que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.
A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo. Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que “quem ama conhece a Deus” (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama...).

Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrimônio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?
Ora, direis ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subtendem, como o amor entre Davi por Jônatas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os “eunucos de nascença” (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.
Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homoafetivos de direitos civis e religiosos?
Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados. A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei.
Frei Betto

segunda-feira, 6 de junho de 2011

‘Dilma se precipitou’, diz Jean Wyllys sobre suspensão de kit contra homofobia



Jean Wyllys (PSOL) diz que bancada evangélica teve reação histérica e compara ao ocorrido no 2º turno das eleições de 2010
*Flávia Salme, iG Rio de Janeiro 27/05/2011 07:01
Deputado afirma que campanha contra kit que combate homofobia tem como alvo o PLC 122, que criminaliza a homofobia: “Querem criar uma onda de terrorismo”, acusa
Assumidamente gay e um dos maiores defensores das causas LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis e Transsexuais) na Câmara, o deputado federal Jean Wyllys, do PSOL, recorre à máxima de Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) para comentar a decisão da presidenta Dilma Rousseff de suspender a distribuição de cartilhas contra homofobia nas escolas públicas. “Me lembra o Febeapá, o Festival de Besteiras que Assola o País”, revolta-se.
Wyllys diz que a bancada evangélica, com o apoio de “setores da imprensa”, detonou uma “histeria coletiva sobre o tema”, por conta da “maneira mentirosa” como a proposta do kit contra a homofobia foi apresentada à sociedade. “(O deputado) Garotinho e companhia apresentaram um material do Ministério da Saúde para a redução de danos entre travestis como se fosse o projeto Escola sem Homofobia. Isso é agir de má fé”.
Para o parlamentar, a presidenta Dilma Rousseff agiu açodadamente sobre o tema. “Achei precipitado a presidenta tomar uma decisão sem ouvir os atores em questão. Ela devia ter conhecimento de todos os pareceres favoráveis ao projeto. Os pareces da Unesco, do Conselho Federal de Psicologia, da UNE, e do próprio Conselho de Classificação Indicativa. Não é possível que essas instituições estejam erradas”, sustenta.
Wyllys acredita que a “grita” da bancada evangélica em torno do kit contra a homofobia tem um alvo: o PLC 122 (que criminaliza a homofobia). “Essa campanha já está em curso. Tentam criar uma onda de terrorismo, uma histeria coletiva, como fizeram no segundo turno das eleições.”
Eleito com 13.016 votos, graças aos 240.671 mil votos que seu colega de legenda, o deputado Chico Alencar, cabalou no último pleito, o parlamentar Jean Wyllys (PSOL) está certo de que seu mandato ganhou vida própria. “Meu partido alcançou um número de votos suficiente para eleger dois deputados. Fui o segundo mais votado, não vim na rabeira de ninguém”, avalia. “Faço meu trabalho com muita honestidade”.
A seguir, o político – e ex-BBB – analisa em detalhes a polêmica em torno do kit contra homofobia, comenta sobre seu mandato e diz que ainda não pode aproveitar a decisão do STF que reconheceu a união estável entre casais homoafetivos. “Parece que as pessoas perderam o interesse sexual em mim. Estou solteiro”, informa. Veja mais:

iG: Como o senhor recebeu a declaração da presidenta Dilma de que “não concorda” com o kit contra homofobia?


Jean Wyllys: Achei precipitado a presidenta Dilma tomar uma decisão sem ouvir os atores em questão. Muitos representantes do PT entraram no meu Twitter para falar que fui imperito politicamente por pressionar a presidenta. Que mecanismos nós temos no Estado Democrático de Direito senão as pressões? E olha que estou falando da grande política, não da política suja feita por aqueles que apresentaram um material que não é verdadeiro. A presidenta tinha que ter ouvido o ministro Fernando Haddad, a secretária Cláudia Dutra, as entidades parceiras, a frente LGBT. E deveria ter conhecimento de todos os pareceres favoráveis a esse projeto. Os pareceres da Unesco, do Conselho Federal de Psicologia, da UNE, e do próprio conselho de classificação indicativa. Não é possível que essas instituições estejam erradas.


iG: O senhor acusa “alguns deputados” da bancada evangélica de “mentir” sobre o kit.


Jean Wyllys: Houve um seminário LGBT e o (deputado) Garotinho (PR) e companhia estavam apresentando um material aos outros deputados presentes na Câmara. Vi o material, fui alertado pela deputada Jô Moraes, do PC do B. E o que estava nas mãos deles não era kit do “Escola sem Homofobia”. Pegaram o material do Ministério da Saúde de redução de danos entre travestis e apresentaram como se fosse kit, provocando terrorismo. Agiram de má fé deliberadamente.


iG: O que o senhor classifica como terrorismo?


Jean Wyllys: Deputados da bancada evangélica e o Bolsonaro (PP) diziam que o kit ia seria liberado para crianças de seis anos. Não é verdade. O projeto foi criado para ser distribuído para alunos do ensino médio, professores e monitores. As escolas não seriam obrigadas a receber o kit, teriam que solicitar as cartilhas e os vídeos, que teriam manual de uso. Aí eu lhe pergunto: Como a mentira pôde prevalecer?


iG: Acredita que o governo cedeu à chantagem, já que parlamentares contrários ao projeto ameaçaram convocar o ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, para dar explicações na Câmara?


Jean Wyllys: Mas é claro! Não sou ingênuo. É obvio que ficou muito mais fácil de chantagear a presidenta, e aí não há outra palavra, com o material falso. Mas eles também tinham outras moedas de troca, como a votação do Código Florestal e o caso Palocci. Está todo mundo vendo, está posto. Não gostaria de ver o governo Dilma desestabilizado, mas também não posso deixar de fazer a minha parte nessa história. Sou oposição ao governo, e faço uma oposição responsável. Não posso me calar diante desse absurdo.

iG: O senhor faz coro com os que defendem que o ministro Palocci tem que dar explicações sobre sua evolução patrimonial?


Jean Wyllys: Claro. As pessoas públicas não têm que ter senões. Se tudo é lícito, não tem por que não aceitar a convocação para se explicar. Não estou dizendo que o que ele tá fazendo é ilícito. Estou dizendo que esse enriquecimento em tão pouco tempo numa atividade que de alguma maneira mistura interesses públicos e privados precisa ser esclarecido. É normal que o governo esteja pressionado por esse motivo. O que é absurdo é que isso seja usado por determinados grupos de parlamentares como moeda de troca.


iG: Na sua avaliação, ainda há tempo de salvar o kit contra a homofobia?
Jean Wyllys: Não há motivo para a presidenta ter suspendido esse projeto. Eu sei que ela não cancelou. Mas suspendeu por quê? Como suspendeu um projeto que já recebeu verba pública e foi aprovado por várias instâncias? Não pode. Apesar de todas as críticas que possamos ter ao governo do PT, é inegável que foi ele o que mais avançou no sentido de estender a cidadania para os homossexuais. O Lula fez um trabalho interessante. Claro que há a expectativa de que a presidenta Dilma dê continuidade a esse trabalho e avance ainda mais. Esse projeto é importantíssimo para uma política publica de educação que erradique o bullying homofóbico entre garotos e garotas adolescentes nas escolas públicas brasileiras.


iG: O senhor acha que a polêmica em torno do kit pode refletir na votação do Projeto de Lei Complementar 122 (que classifica a homofobia como crime) no Senado?


Jean Wyllys: O alvo dessa celeuma é o PLC 122. A cartilha é apenas um meio. Eu já recebi no meu e-mail institucional uma mensagem apócrifa pedindo para que os deputados não votem nesse projeto porque ele vai legalizar a “pedofilia, a imoralidade e o fim da família brasileira”. Se eu recebi, todos os outros deputados também receberam. Essa campanha já está em curso. É criar uma onda de terrorismo, uma histeria coletiva, como fizeram no segundo turno das eleições.


iG: Já foi vítima de preconceito em Brasília?


Jean Wyllys: As pessoas me tratam bem, me respeitam. Pelo menos na minha frente, não sei por trás. Tenho relação excelente com alguns deputados evangélicos. Até mesmo o Garotinho. Semana passada tivemos uma conversa na cantina da Câmara. Contundente, mas civilizada. Fui reclamar da política que ele estava fazendo, apresentar outro material. Claro que ele fugiu do assunto e veio me cobrar questões conceituais. Perguntou se a homossexualidade era genética ou opção. Na cabeça dele é uma opção. A gente simplesmente acorda um dia e fala “Oi, eu vou ser homossexual, vou experimentar toda a sorte de violência, porque eu gosto”. Apesar disso, há respeito. A única pessoa com quem eu não tenho nenhuma relação é com o deputado Jair Bolsonaro, porque é impossível ter qualquer relação com as pessoas que tratam as coisas da maneira como ele trata.


iG: O senhor foi eleito com pouco mais de 13 mil votos. Muitos creditam sua eleição à expressiva votação do deputado Chico Alencar, que obteve mais de 240 mil votos?


Jean Wyllys: Primeiro, as pessoas não compreendem o processo eleitoral nosso, que é injusto. Empresas botam rios de dinheiro nas mãos de determinados candidatos, não porque acreditam no programa daquele candidato, mas por razões que eu não quero me alongar aqui para discutir. Fiz uma campanha barata, invisível, e, mesmo sem cartaz nas ruas, adesivos, outdoor, comes e bebes, e tempo de TV, consegui ser o segundo mais votado no partido. Tem que levar em conta isso. O meu partido fez um número de votos suficiente para eleger dois deputados. Não vim na rabeira de ninguém. Agora, a votação expressiva do deputado Chico Alencar, mas os votos recebidos pelo meu partido, mais os meus próprios votos, garantiram a minha eleição. Tenho de fazer o meu trabalho. E faço com muita honestidade.


iG: Com a decisão do STF, que passou a reconhecer a união estável entre casais gays, o senhor pretende casar?


Jean Wyllys: Pretendo, claro. Mas no momento estou solteiro. Acho que a figura pública e o engajamento nas questões sociais fizeram com que as pessoas perdessem o interesse sexual em mim. Parece que quando você vira a representação de uma luta você perde a sexualidade, de modo que as pessoas chegam para mim e falam “Bacana, Jean, obrigada por você representar a gente tão bem”. Mas ninguém diz “Oi, tudo bem? Bacana, mas vamos tomar um drink?” (risos).


Fonte: Último Segundo – Política Portal iG

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Pela formação profissional qualificada das polícias!


Volta e meia tomamos conhecimento nos meios de comunicação e ficamos estarrecidos com os casos de violência praticados justamente por aqueles que têm a função primordial de evitá-las e/ou combatê-las. Estabelecendo desta forma uma inojável promiscuidade com os criminosos.
É o policial que ao realizar abordagens, a faz de maneira despreparada, agressiva, constrangedora, abusiva... É o policial que ao deter uma pessoa que cometeu algum delito, inicia uma série de espancamentos e torturas gratuitas e injustificáveis, sem que o delituoso ao menos reaja a abordagem/prisão.
Eu mesmo fui vitima algumas vezes desse abuso e/ou despreparo. No carnaval desse ano, no meio da multidão estava dançando e em um certo momento esbarrei no pelotão da polícia, o primeiro e segundo policial gentil e educadamente me afastou já o terceiro me deu gratuitamente uma espécie de cotovelada com o cassetete que trazia em mãos. Presenciei um policial fazer a mesma coisa com um cidadão que estava parado conversando com uns amigos.
Outra vez estava chegando mais um amigo na Praça de Alimentação, nossa chegada coincidiu com a chegada de uns dois carros da policia a procura do proprietário de um veículo que estava estacionado nas proximidades da praça. Aos sentarmos na mesa, um policial aproximou-se de nós e de maneira verbalmente agressiva pediu-nos que déssemos a chave do carro. E nós dissemos que não tínhamos carro. Ele saiu. Não satisfeito ele voltou novamente e solicitou de novo com a mesma agressividade verbal a chave e nós dissemos que não tínhamos a chave, ele fez uma revista em nós e saiu. Fico me perguntando por qual motivo ele não fez abordagens nas outras pessoas que estavam a mais tempo na praça, já que fazia muito tempo que o carro estava ali.
Para demonstrar que nem todos os policiais são iguais, revelo que antes desse episódio um outro policial já havia se chegado a mim e perguntado educado e civilizadamente se o carro era meu e quando disse que não ele perguntou com a mesma educação se eu conhecia o proprietário do carro.

Aqui em Barreiras dois casos intrigam e revoltam: Um foi a execução de um jovem, segundo testemunhas por policiais militares de Barreiras. O motivo da morte: o jovem teria várias passagens na polícia e era usuário de drogas. Isso é motivo para se tirar a vida de alguém? O pior que há entre nós quem concorde que sim. Mas, o agravante na história é que a vitima nesse caso não tem passagens pela polícia e nem usava drogas, foi confundido com seu irmão gêmeo.
Outro fato foi o ateamento de fogo nas viaturas da polícia militar no pátio do 10º Batalhão de Polícia Militar da Bahia. Segundo as informações o crime foi praticado pelos próprios policiais. Até hoje a sociedade não sabe e quer saber a motivação de se atear fogo nos próprios carros.
Sugiro ao Se Liga Bocão, Na Mira, Zé Bin e outros programas televisivos deste gênero, esses dois fatos como pauta de reportagem no mesmo estilo com que eles humilham, condenam e expõe a execração pública os pobres, os desvalidos, negros... que cometem algum crime.
Fico me questionando qual a credibilidade, respeitabilidade e moral que uma polícia que mata e que põe fogo nos seus próprios carros tem para realizar qualquer tarefa inerente a sua função.
Ainda, me pergunto: Por que o nome dos envolvidos nesses dois casos não é divulgado, como se faz com o pobre, o negro, os desvalidos...? Os casos correm em segredo de justiça?
Todos esses fatos evidenciam que há uma defasagem na formação desses profissionais tão vitais na sociedade. Fico me perguntando em que consiste o processo de formação dos policiais militares. Me deparo algumas vezes com alguns grupos de futuros policiais na rua, deitando no chão, correndo, fazendo exercícios físicos e cantando aquelas músicas com letras depreciativas, preconceituosas e machistas. Sei que ficam um período no Batalhão e lá fazem alguns testes/provas de conhecimentos. Consiste apenas nisso a formação desse imprescindível profissional?
Faço minhas as palavras da vereadora Heloisa Helena de Maceió (PSOL-AL): “Uma preliminar: minha total solidariedade às vítimas da brutalidade policial e minha repulsa ao policial infrator, torturador e que estabelece a condenável promiscuidade com o crime organizado... Mas explicito da mesma forma e intensidade a minha solidariedade aos policiais que perderam suas vidas ou foram mutilados na tentativa de exercer com dignidade as suas atribuições em precárias condições de trabalho.” Sugiro a leitura do texto: O Degradante Trabalho Policial - "Pela Melhoria das Condições de Salário e Trabalho nas Polícias" (De autoria de Heloísa Helena)


Claudio Roberto de Jesus

Partido Socialismo e Liberdade

O Degradante Trabalho Policial

"Pela Melhoria das Condições de Salário e Trabalho nas Polícias"



*Heloísa Helena

Uma preliminar: minha total solidariedade às vítimas da brutalidade policial e minha repulsa ao policial infrator, torturador e que estabelece a condenável promiscuidade com o crime organizado. Eu mesma já fui vítima... seja, na minha adolescência, com o assassinato do meu irmão Cosme Luiz - com vários tiros de espingarda 12 – seja contra o meu próprio corpo e minha dignidade pessoal e política. Mas explicito da mesma forma e intensidade a minha solidariedade aos policiais que perderam suas vidas ou foram mutilados na tentativa de exercer com dignidade as suas atribuições em precárias condições de trabalho.
É fato incontestável que em todos os setores da sociedade – na política, justiça, polícia, empresariado, imprensa, etc. – existem aqueles que devem ser chamados de imprestáveis, mas existem também os que dignificam suas profissões e honram as Instituições em que trabalham. A maioria dos trabalhadores das Polícias tenta de forma inconteste zelar pelo cumprimento dos seus deveres mesmo diante das gigantescas dificuldades enfrentadas.
A situação dos trabalhadores civis e militares na área de Segurança Pública constitui uma das maiores aberrações do aparato estatal em Alagoas e em outras unidades da Federação. Daí a absoluta urgência em garantir a melhoria das condições de salário e trabalho para todos (as) que são expostos a estressores e riscos de dimensão extraordinária para o cumprimento das suas obrigações profissionais.
Existem no cotidiano desses profissionais gravíssimas situações de degradação que de forma inimaginável estão corroendo a vida de homens e mulheres que são submetidos a essas ocorrências para o complexo desenvolvimento das suas atividades. São muitos os fatores que mostram a imensa diferença entre a organização do trabalho prescrito e a vivência do trabalho real lidando diretamente com a Vida... situações extremas onde se pode tirar a vida de outro e se pode perder a própria vida, sendo ao mesmo tempo fonte e alvo da violência e experimentando diariamente grandes perdas emocionais e materiais que podem acabar por gerar mais violência.
A degradação acontece pelo cotidiano de longas jornadas de trabalho perigoso e exaustivo, de recursos materiais insuficientes, de insatisfação com a atividade e a remuneração, de dificuldades na ascensão profissional e muitos outros eventos traumáticos que levam à depressão, ao alcoolismo e uso de outras drogas psicotrópicas, a crônicos problemas cardiovasculares, aos transtornos psiquiátricos muito graves e vários outros problemas de saúde. Todos esses fatores constituem risco permanente para os trabalhadores e suas famílias e impactam negativamente no exercício das atividades essenciais na Segurança Pública.
O mais grave é que além do processo degradante no cotidiano das suas atividades institucionais os períodos de folga, licença ou férias não conseguem ser plenamente utilizados para recuperação física e emocional, para o descanso, lazer e fortalecimento dos vínculos afetivos. Os policiais têm o dever de agir – flagrante compulsório e não facultativo - em situação de flagrante delito em qualquer momento independentemente de estar ou não no exercício da sua atividade funcional o que gera mais sobrecarga para esses trabalhadores em condições mais precárias e sem o suporte operacional. Além disso, os miseráveis salários recebidos por eles acabam levando-os ao exercício de atividades laborais complementares (os "bicos") em muitas vezes comprometendo sua imparcialidade nas decisões e fragilizando mais ainda a sua atuação no exercício profissional e a sua própria segurança pessoal.
As propostas são muitas e delas já tratei detalhadamente em artigo neste mesmo periódico como contribuição ao debate sobre alternativas para redução da violência em Alagoas e no Brasil, seja relacionada às Políticas Sociais ou à estruturação do Aparato Institucional de Segurança Pública. E continuo lutando, mesmo sabendo que a maioria dos agentes públicos não trabalha verdadeiramente por isso e se comporta cinicamente como políticos bandidos protegidos por seus carros blindados e seguranças fortemente armados. Mas, no atual momento, a intensidade da precarização nas condições de trabalho e a indignidade salarial nas polícias impõe a agilidade da aprovação no Congresso Nacional das Propostas relacionadas ao Piso Salarial para os Servidores Policiais (a PEC 300 e outras a ela apensadas extensivas aos Bombeiros, Policiais Civis, Agentes Penitenciários, etc.) e implementação imediata em Alagoas de uma política salarial de recuperação da dignidade profissional aos trabalhadores da Segurança Pública.

Heloísa Helena - PSOL