sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

RECEITA DE ANO NOVO


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas

nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

FELIZ ANO NOVO!!!


Cortar o tempo

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente!

(Carlos Drumond de Andrade)

sábado, 25 de dezembro de 2010

SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR


HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI
(Trechos da Homilia)
Basílica Vaticana24 de Dezembro de 2010



Amados irmãos e irmãs!
(...)
Deus não Se limitou a inclinar o olhar para baixo, como dizem os Salmos; Ele «desceu» verdadeiramente, entrou no mundo, tornou-Se um de nós para nos atrair a todos para Si. Este menino é verdadeiramente o Emanuel, o Deus conosco. O seu reino estende-se verdadeiramente até aos confins da terra. Na imensidão universal da Sagrada Eucaristia, Ele verdadeiramente instituiu ilhas de paz. Em todo o lado onde ela é celebrada, temos uma ilha de paz, daquela paz que é própria de Deus. Este menino acendeu, nos homens, a luz da bondade e deu-lhes a força para resistir à tirania do poder. Em cada geração, Ele constrói o seu reino a partir de dentro, a partir do coração. Mas é verdade também que «o bastão do opressor» não foi quebrado. Também hoje marcha o calçado ruidoso dos soldados e temos ainda incessantemente a «veste manchada de sangue» (Is 9, 3-4). Assim faz parte desta noite o júbilo pela proximidade de Deus. Damos graças porque Deus, como menino, Se confia às nossas mãos, por assim dizer mendiga o nosso amor, infunde a sua paz no nosso coração. Mas este júbilo é também uma prece: Senhor, realizai totalmente a vossa promessa. Quebrai o bastão dos opressores. Queimai o calçado ruidoso. Fazei com que o tempo das vestes manchadas de sangue acabe. Realizai a promessa de «uma paz sem fim» (Is 9, 6). Nós Vos agradecemos pela vossa bondade, mas pedimos-Vos também: mostrai a vossa força. Instituí no mundo o domínio da vossa verdade, do vosso amor – o «reino da justiça, do amor e da paz».
(...)Supliquemos-Lhe: Senhor Jesus, Vós que quisestes nascer como o primeiro de muitos irmãos, dai-nos a verdadeira fraternidade. Ajudai-nos a tornarmo-nos semelhantes a Vós. Ajudai-nos a reconhecer no outro que tem necessidade de mim, naqueles que sofrem ou estão abandonados, em todos os homens, o vosso rosto, e a viver, juntamente convosco, como irmãos e irmãs para nos tornarmos uma família, a vossa família.
No fim, o Evangelho de Natal narra-nos que uma multidão de anjos do exército celeste louvava a Deus e dizia: «Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens que Ele ama» (Lc 2, 14). A Igreja ampliou, no hino «Glória...», este louvor que os anjos entoaram à vista do acontecimento da Noite Santa, fazendo dele um hino de júbilo sobre a glória de Deus. «Nós Vos damos graças por vossa imensa glória». Nós Vos damos graças pela beleza, pela grandeza, pela tua bondade, que, nesta noite, se tornam visíveis para nós. A manifestação da beleza, do belo, torna-nos felizes sem que devamos interrogar-nos sobre a sua utilidade. A glória de Deus, da qual provém toda a beleza, faz explodir em nós o deslumbramento e a alegria. Quem vislumbra Deus, sente alegria; e, nesta noite, vemos algo da sua luz. Mas a mensagem dos anjos na Noite Santa também fala dos homens: «Paz aos homens que Ele ama». A tradução latina desta frase, que usamos na Liturgia e remonta a São Jerônimo, interpreta diversamente: «Paz aos homens de boa vontade». Precisamente nos últimos decênios, esta expressão «os homens de boa vontade» entrou de modo particular no vocabulário da Igreja. Mas qual é a tradução justa? Devemos ler, juntas, as duas versões; só assim compreendemos retamente a frase dos anjos. Seria errada uma interpretação que reconhecesse apenas o agir exclusivo de Deus, como se Ele não tivesse chamado o homem a uma resposta livre e amorosa. Mas seria errada também uma resposta moralizante, segundo a qual o homem com a sua boa vontade poder-se-ia, por assim dizer, redimir a si próprio. As duas coisas andam juntas: graça e liberdade; o amor de Deus, que nos precede e sem o qual não O poderemos amar, e a nossa resposta, que Ele espera e até no-la suplica no nascimento do seu Filho. O entrelaçamento de graça e liberdade, o entrelaçamento de apelo e resposta não podemos dividi-lo em partes separadas uma da outra. Ambas estão indivisivelmente entrançadas entre si. Assim esta frase é simultaneamente promessa e apelo. Deus precedeu-nos com o dom do seu Filho. E, sempre de novo e de forma inesperada, Deus nos precede. Não cessa de nos procurar, de nos levantar todas as vezes que o necessitamos. Não abandona a ovelha extraviada no deserto, onde se perdeu. Deus não se deixa confundir pelo nosso pecado. Sempre de novo recomeça conosco. Todavia espera que amemos juntamente com Ele. Ama-nos para que nos seja possível tornarmo-nos pessoas que amam juntamente com Ele e, assim, possa haver paz na terra.
Sim, Senhor, nós Vos damos graças por vossa imensa glória. Nós Vos damos graças pelo vosso amor. Fazei que nos tornemos cada vez mais pessoas que amam juntamente convosco e, conseqüentemente, pessoas de paz. Amém.

domingo, 19 de dezembro de 2010

O Sol da Justiça e da Paz vem nos visitar!

Irmãs e irmãos / Companheiras e companheiros,



Paz e Bênçãos!

Neste Natal nosso Deus se aproxima de nós e nos mostra Jesus Salvador. Ele vem nos ensinar o caminho da Justiça e da Paz. Ele vem despertar nosso coração para o amor. Jesus vem para nos devolver a esperança e nos levar a sonhar e a lutar por dias melhores.

Mais uma vez, desejo que todas (os) sejam fortalecidas (os) na fé e vejam o sorriso de Deus na criança de Belém. Que todas (os) nós sejamos mensageiras (os) da alegre notícia de que Deus está conosco e nos ama.

“Como o sol nasce da aurora, de Maria nascerá, Àquele que a terra seca em jardim converterá! OH! abramos nossos braços ao Pastor, que a nós vem, veio e virá na forma de uma criança!”

Feliz e abençoado Natal para todas (os)!

Feliz Ano Novo com muito Amor, Paz e Alegria!

Fraternalmente,

Claudio Roberto de Jesus.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Por que não se deve aumentar a passagem do transporte coletivo de Barreiras?

Ônibus perde freio e causa acidente no centro de Barreiras

Publicado: 06/12/2010 17:43

Texto e fotos Eduardo Lena

A falta de freio foi o motivo alegado por José Bernardo dos Santos, 54 anos, motorista do ônibus da Real Maia, para avançar o sinal e bater contra a lateral de uma caminhonete S10.

O acidente aconteceu por volta das 17h20 de hoje, 06, no cruzamento entre as ruas Severino Vieira e Barão de Cotegipe, centro de Barreiras.

José Bernardo disse que o sinal estava fechado e quando ele foi parar o veículo, percebeu que estava sem freio. “Tentei parar, mas faltou freio. Eu ainda dei sorte, pois por pouco não passei por cima de uma motociclista que estava parada esperando o sinal abrir. Só deu tempo de jogar para o lado”, disse o motorista do ônibus.

Segundo Lourdes Giaretton, 67anos, condutora da caminhonete S10, de placa JOD 9070/Barreiras/BA, quando abriu o sinal ela arrancou e não percebeu o ônibus vindo em sua direção. “Foi tudo muito rápido, nessas horas é que a gente percebe o quanto é fácil morrer. Só falei meu Deus, meu Deus. Achei que a caminhonete fosse capotar”, desabafou Lourdes Giaretton, agradecendo por estar sozinha na hora. “Ainda bati a cabeça contra o vidro lateral, mas não foi nada de mais”.

Pelo estado aparente do ônibus, é possível afirmar que o veículo tem vários anos de uso e as condições de trafegabilidade são questionáveis. Mas isso só quem vai poder afirmar é a equipe de policiais que registrou a ocorrência.

O ônibus pertencente a empresa Real Maia, de propriedade da Auto Viação Princesa do Oeste e fazia a linha Barreiras/Barrocão. Felizmente a batida só gerou danos materiais.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Diga NÃO AO AUMENTO DA PASSAGEM DE ÔNIBUS!!!


CALENDÁRIO DE MOBILIZAÇÕES:

29/11 (segunda-feira) caminhada da Câmara Municipal às 17h00 até a Pça Castro Alves com confecção de materiais em praça pública.

30/11 (terça-feira)acompanhar a sessão da Câmara às 16h00.

GRANDE ATO PÚBLICO CONTRA O AUMENTO na quarta-feira, 01/12. Concentração em frente à Prefeitura às 15h00 em direção à Câmara Municipal

LEVANTE E LUTE!
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Sugestão: Coloque essa imagem no seu álbum no Orkut e se possível e você quiser no perfil do Orkut e no MSN. Vamos fazer uma campanha virtual também!!!



segunda-feira, 22 de novembro de 2010

“Até quando você vai ficar levando porrada? Até quando vai ser saco de pancada?”

Nesse final de ano, as trabalhadoras e os trabalhadores de Barreiras, os pais de famílias que estão desempregados, as/os estudantes acompanham, pelos noticiários, o circo armado pelos “donos” (Quem são eles?) das empresas de ônibus, Prefeitura Municipal de Barreiras e Câmara Municipal de Vereadores de Barreiras que, mais uma vez em 2010, reclamam do preço da passagem e pleiteiam o aumento da tarifa, que já é uma das mais caras. É o presente de NATAL que a “nossa mãe” (a prefeitura/prefeita) com as outras matriarcas municipais (a Presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Barreiras, a outra vereadora...) quer nos dar esse ano. Afinal, “... Dos filhos deste solo és mãe gentil...” Eita, que mãe gentil!

A alegação “dos empresários” (ou empresário) é sempre a mesma: o sistema de transporte em Barreiras é deficitário. É a única vez que vejo em uma sociedade capitalista alguém ficar em um ramo que não lhe dá lucro, lhe dá prejuízo e desse ramo não abrir mão, não largar o osso de jeito nenhum. Oh, quanta MENTIRA!!! Uma MENTIRA que foi desmascarada quando em 2009 a Rainha funcionava cobrando apenas R$1,00 pela passagem. Baseado nesse fato, podemos ver que o sistema de transporte em Barreiras gera lucros para as empresas. Aliás, é um negócio altamente lucrativo.

A proposta e a intenção “dos empresários” (ou empresário), da Prefeitura Municipal de Barreiras e da Câmara Municipal de Vereadores de Barreiras é de elevar as tarifas de R$1,60 para R$2,05 e criar uma tarifa social aos domingos de R$ 1,00. Ou seja, um aumento médio de quase 30% no preço da passagem. Não bastasse os fatos de superlotação, os atrasos, a carência de linhas e as quebras de veículos que são a rotina do transporte público em Barreiras, o preço da tarifa corre o risco de aumentar, somente para permitir aos empresários (ou empresário) elevar seu faturamento mensal.

Gostaria de narrar aqui um fato acontecido comigo e outros cidadãos de Barreiras no mês de setembro desse ano, só para tentar ilustrar o serviço de qualidade que essa Associação de Transporte Coletivo de Barreiras presta.

Num belo dia, a caminho do CAIC, escola lócus da realização de um estágio curricular que estava fazendo juntamente com outra colega, o ônibus quebrou no meio da estrada próximo a Rodoviária e nós passageiras (os) tivemos que esperar outro ônibus chegar e prosseguirmos a viagem nele. O ônibus chegou após 20 minutos e assim continuamos a viagem. De repente no meio do caminho, mais precisamente em frente ao Colégio Cleonice Lopes o ônibus pára, entra um funcionário da ATCB informando alegremente que todas (os) deveriam descer porque o ônibus só iria até ali, o resto do caminho deveria ser feito a pé. O ônibus cheio de pais de famílias, estudantes, idosos com seus netos, pessoas com compras... Foi alegado que o ônibus só iria até ali em virtude de algumas obras que estariam sendo feitas na rua. Em outras ocasiões em que havia obras nessa mesma rua o motorista tomava um atalho até o destino final. Mas, excepcionalmente naquele dia eles não queriam ir por outro caminho.

Uma boa parcela dos que estavam no ônibus não aceitaram e se recusaram a descer, passaram a exigir a devolução do dinheiro, a ameaçar quebrar o ônibus, a fornecer denúncia no Ministério Público, a ligar para a polícia, para advogados, TV OESTE, enfim, pressionaram, resistiram, reagiram, lutaram e como prêmio obtiveram o direito garantido de irem até o seu destino final. Depois desse episódio, todos os ônibus estavam indo até o ponto final, pois tinha passado o dia todo até aquele momento deixando as pessoas em menos da metade do caminho do seu destino final. Ao passarmos pela rua não vimos nada de diferente dos outros dias em que ônibus passava por lá e mais ainda, a referida obra estava sendo feita em uma rua transversal.

Não é possível que novamente as/os vereadoras (es) irão aprovar esse aumento! Logo elas/eles que em campanha se comprometeram em moralizar, legalizar, melhorar/aperfeiçoar a meia passagem... Não é possível que as/os vereadoras (es) irão aprovar esse aumento baseados na velha MENTIRA de melhor atendimento ao público usuário.

Aliás, é sempre assim, fala em aumento de passagem com essa prerrogativa, apresentam uns quatro ônibus “novos” (reformados) – já começaram a circular uns ônibus reformados e vão aparecer mais alguns, para se criar a ilusão de que dessa vez vai melhorar. Oh, quanta MENTIRA!

Quer dizer que pelo fato de apresentarem ônibus reformados, não são ônibus novos deve aumentar a passagem? A oferta de um serviço de qualidade está condicionado ao aumento da passagem? Se aumentar eu me comprometo em oferecer o serviço de qualidade? OH, quanta DEMAGOGIA! Quanta MENTIRA!!!

Os ônibus insuficientes que não atendem as necessidades das pessoas especiais, os idosos esprimidos na parte que deveria ser para lhes garantir mais conforto e tranqüilidade durante a viagem. Diante de tudo isso alguém vai me dizer que é justo aumentar o preço da passagem?
Alguém poderá dizer que os ônibus estão necessitando de manutenção. Sim, estão! E daí? Alguém aqui é dono de empresa de ônibus? Nós já pagamos e pagamos caro para trafegarmos em ruas decentes e não temos isso. Vamos ter que pagar mais ainda e continuarmos sem termos ruas e ônibus decentes?

Quanto a passagem social de R$1, 00 aos domingos, seria bem melhor a Prefeitura/prefeita e a Policia Rodoviária fiscalizar e agir na superlotação que ocorre nesses dias levando SERES HUMANOS para o rio. SERES HUMANOS (famílias humanas) não são qualquer bicho! Será que estão esperando ocorrer um acidente, uma tragédia com centenas e centenas de cidadãos para tomar as providências? Esse senhor em nome da lógica do lucro reduz a quantidade de ônibus nesses dias e os motoristas são obrigados a abarrotar o máximo impossível os ônibus, e ninguém faz nada. Está lá, bem nítido a capacidade de cada ônibus. Eles passam em frente a Polícia Rodoviária e nunca vi um, um único se quer ser parado ou ter a viagem interrompida. E as “nossas mães” (Prefeitura, prefeita, Câmara...) o que fazem ou querem fazer? Aumentar a passagem é o prêmio que querem conceder a ilegalidade!!!

Ilegalidade respaldada e legitimada pela Câmara Municipal de Vereadores de Barreiras, pela sua omissão, negligência e leniência com a ilegalidade e com os ilegais. Logo ela que dentre tantas outras atribuições prevista na Lei Orgânica Municipal aprovada pelos próprios edis, diz no seu “Art.38- É de competência exclusiva da Câmara Municipal:

XIII- Apreciar os atos de concessão ou permissão e os de renovação de concessão ou permissão de serviços de transportes coletivos;”

Vale salientar que esse serviço bem como tantos outros serviços públicos só devem ser realizado mediante Licitação, é o que garante a Constituição Federal. Não adianta ninguém querer dizer que não sabia que não existia contrato de concessão. Pois, já foi fornecido denúncia no Ministério Público sobre essa irregularidade ainda na gestão passada e isso foi várias vezes denunciado na imprensa. Logo, as vereadoras (es) que devem fiscalizar, legislar, denunciar...

Só por curiosidade vi alguns de nossas (os) atarefadas (os) vereadoras (es) presente na eleição do Conselho Tutelar. Foram somente votar? Fiscalizar ao andamento das eleições? Ou foram transgredir também ou liderar a transgressão das leis que regiam aquela eleição, viciar aquele processo eleitoral...? Ainda, gostaria de refazer a pergunta Daquele que é o único digno de glória e de louvor, à prefeita Jusmari Oliveira, aos vereadores Bispo Daniel e Pastor Souza: “Quando o Filho do Homem vier, encontrará ainda a fé sobre a terra?” Porque quem não O aceitar, quem O rejeitar, poderá não crer por ver cristãos que vivem mal. E se a vida das/dos filhas (os) de Deus é tão ferida deve se a culpa a indiferença dos cristãos. Pergunto também: Quem, habitará na casa do Senhor? E a resposta nós sabemos: O que for justo e a verdade praticar. Aquele que não pratica a injustiça e opressão; Quem não explora dos pequenos a fraqueza e não se deixa seduzir pela riqueza; Aquele que tem da justiça sede e fome e é perseguido pela causa de seu nome; Aquele que constrói a paz na caridade e é fermento de uma nova humanidade; Aquele que começa em sua casa, cada dia a construir a fraternidade, na alegria. Por fim, gostaria de citar: "Não te acuso pelos teus sacrifícios, teus holoucastos estão sempre à minha frente... Que te adianta divulgar meus mandamentos e ter minha aliança na boca, uma vez que detestas a disciplina e rejeitas as minhas palavras? Se vês um ladrão, corres com ele, e junto aos adúlteros tens a tua parte; abres tua boca para o mal,...Assim te comporta, e eu me calaria? Imaginas que eu seja com tu? Eu te acuso e exponho tudo aos teus olhos.” (Salmo 50, 8. 16-19.21)

Em 2008 no dia 03 de maio a ATCB aumentou o preço da passagem sem autorização e nada foi feito. O então Presidente da Câmara apenas foi conversar com os “empresários”, dizer aos ingênuos empresários que não possuem assessoria jurídica e não sabiam que não podiam aumentar o preço por eles mesmo, que eles não podiam aumentar por si mesmo a passagem. Foi aplicada alguma punição por aquele aumento ilegal? Não foi aplicada nenhuma punição!Pelo contrário no final do ano de 2008, passada as eleições o aumento foi aprovado mesmo com as/os vereadoras (es) dizendo e se comprometendo a não aprovar o aumento.

Existe uma tal de Associação dos Transportes Coletivos de Barreiras – ATCB que há anos vem desrespeitando as leis impunemente. Quem são as/os associadas (os) da mesma? Por que será que essa Associação comporta-se assim como se tivesse plenos poderes? Como é o processo de escolha dos funcionários dessa empresa? Os motoristas os cobradores são indicados por quem? Por que essa associação se comporta assim como se essa cidade não existisse leis, legisladores, fiscalizadores...?

Diante da notícia do aumento da passagem de ônibus muitos são aquelas (es) que estão se indignando e se mobilizando para barrar esse abusivo aumento. Mas, é preciso dizer aos que se mobilizam e se indignam que é necessário uma UNIDADE NA LUTA. Os DA’s da UNEB, UFBA, FASB, UNYAHNA, os sindicatos, APLB, SINDSEMB, os pais de família, as Igrejas, todas (os) devem fazer um MOVIMENTO ÚNICO e ORGÂNICO, para demonstrar poder, insatisfação, indignação, repulsa, repúdio a esse indecente aumento. Ainda, acho que a população deve reagir também com outros comportamentos: pulando a roleta, não pagando a tarifa do ônibus e no dia 26/11/2010 (SEXTA-FEIRA) vamos todos fazer um boicote a ATCB, ao Sr. Zé Maria, a Prefeitura Municipal de Barreiras e a Câmara Municipal de Vereadores de Barreiras, nesse dia TODAS (OS) não vão pegar ônibus. Vamos ao trabalho a pé, vamos estudar de bicicleta, enfim não vamos pegar ônibus numa resposta do que virá acontecer caso esse assalto seja aprovado!
O AUMENTO de passagem em Barreiras, é um ataque ao bolso dos trabalhadores assalariados, com baixo poder aquisitivo, um ataque ao seu, ao meu e ao nosso bolso! Esse aumento é uma indecência, uma imoralidade um assalto a mão armada!

Como Militante do Partido Socialismo e Liberdade - PSOL sou absolutamente contrário a qualquer aumento de passagem, tendo em vista que para a maioria da população, que depende dos ônibus, essa medida significa na prática a diminuição de sua renda e de seu poder de compra. Tenho certeza absoluta que o meu partido também é contra! Não aceitamos que a população de Barreiras sacrifique os seus baixos salários para elevar, ainda mais, os lucros e privilégios de empresas que, há anos, usufruem ilegalmente do monopólio do sistema de transporte público para gerar lucros milionários.

Defendemos que o transporte público seja um instrumento de acesso dos trabalhadores ao emprego, à cultura, ao lazer, à educação e à saúde. E, para que o sistema de transporte possa realmente cumprir esse papel, ele deve ser 100% estatal e estar sobre controle dos trabalhadores e da população. Enquanto o sistema de transporte for apenas mais um meio para enriquecer um punhado de burgueses, nós continuaremos a sofrer com os ônibus velhos e lotados, a carência de linhas, as quebras de veículos, os constantes atrasos e as passagens abusivamente caras.

Exigimos da Prefeita Jusmari Oliveira que retire o Projeto que autoriza aumento das passagens em Barreiras e, principalmente, da Câmara Municipal de Vereadores de Barreiras que se pronunciem sobre o assunto e impeçam, imediatamente, qualquer aumento na tarifa de transporte. Exigimos também que, se inicie o processo de moralização e regularização do transporte coletivo de Barreiras mediante a realização de licitação pública. Não se pode mais deixar que esses empresários (ou empresário) controlem o sistema de transporte público de Barreiras. Solicitamos ao mistério Público que impeça o aumento ao menos durante o período em que não for realizado a Licitação!

Como diz Paula Vielmo precisamos também usar a internet a favor do bem coletivo! “Para começar, lanço a campanha para que as pessoas que acharem o aumento descabido, enviar e-mails para a assessoria de comunicação da câmara: ascom@cmbarreiras.ba.gov.br , para quem sabe sensibilizar a vereança da necessidade de barrar esse aumento e de regularizar a situação do transporte coletivo.”

Abaixo os e-mails dos vereadores: Kelly Magalhães, BI, Pastor Souza, Isabel Rosa (BEZA), Carlão, Tito, Bispo Daniel, Sobrinho, Giovani Mani, Hipólito e Leidiomar.

kelly@cmbarreiras.ba.gov.br, bi@cmbarreiras.ba.gov.br, pastorsouza@cmbarreiras.ba.gov.br, beza@cmbarreiras.ba.gov.br, carlao@cmbarreiras.ba.gov.br, vereadortito@bol.com.br, bispodaniel@cmbarreiras.ba.gov.br, sobrinho@cmbarreiras.ba.gov.br, giovanimani@cmbarreiras.ba.gov.br, hipolito@cmbarreiras.ba.gov.br, leidiomar@cmbarreiras.ba.gov.br


Claudio Roberto de Jesus.

Barreiras, 23 de novembro de 2010
Fogo na Real Parque, desconfiança no ar

Por Débora Prado

No dia 24 de setembro, uma sexta-feira, depois de dois focos de incêndio controlados por moradores, um terceiro queimou centenas de barracos na favela Real Parque, zona sul de São Paulo, além de atingir dois alojamentos ‘provisórios’ em que dezenas de famílias viviam desde outro incêndio que aconteceu há 8 anos. Cerca de 1200 pessoas ficaram sem casa. “Foi muito estranho, o fogo lambeu tudo muito ligeiro, parecia uma boca engolindo os barracos”, relata um morador.

Os casos de incêndio em favelas são recorrentes e tem aumentado tanto que geram suspeitas. Na Real Parque, muitos moradores desconfiam de incêndio criminoso. Segundo eles, o fogo se espalhou com uma velocidade surpreendente. “Teve barraco que queimou de fora pra dentro”, diz um morador. “A perícia não vai acontecer, a prefeitura já limpou o terreno e os técnicos que vieram aqui disseram que vai ser difícil apurar, porque o terreno não foi isolado”, reclama outra moradora.

Criminosos ou não, são fruto de descaso. Os incêndios nas favelas estão ligados à existência da própria favela – em outras palavras à existência de pessoas sem moradia adequada, sem infraestrutura, sem poder aquisitivo, sem voz junto ao Estado e ao conjunto da sociedade.

A área mais atingida pelo fogo é antigo palco de embate entre a comunidade e o poder público. Uma parte do terreno que pertence a EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A.) já tinha sido desocupada por uma ação de despejo em dezembro de 2007. Em nota, a Sehab informa que “a Prefeitura vem enfrentando dificuldades com as lideranças para retirar a população da área, que é considerada de risco”.

No dia do incêndio a consternação era generalizada e, até o fim da tarde da sexta, centenas de pessoas estavam sob a fina garoa paulistana nas ruas da comunidade, sem saber onde iriam passar aquela noite. “A polícia chegou mais rápido que os bombeiros e o carro ainda não tava com o tanque 100% abastecido, tinha uma mangueira furada. Os moradores amarram a mangueira com roupas pra remendar, pra você entender como foi”, conta uma moradora, reclamando da presença da tropa de choque na favela no dia do incêndio.

Em nota, representantes do poder público afirmam que se reuniram com moradores e lideranças e “explicaram que em um primeiro momento iriam cadastrar as famílias”, além de afirmar que “não podiam fazer nada imediato para abrigar as famílias”.

Uma liderança reclama que o tratamento deveria ser mais humanizado. “Cerca de 1200 pessoas perderam tudo e até hoje a prefeitura não voltou aqui, está tudo muito confuso”, disse na segunda-feira, três dias após o incêndio. Ela conta que na reunião foi cobrada uma ação para que as pessoas não dormissem na chuva, mas não houve encaminhamento e ainda assim o Projeto Comunitário Casulo – uma organização social – fechou suas portas no final de semana.

As famílias desabrigadas buscaram abrigo em outras casas na favela. Somente na noite do dia 27, foi feita uma segunda reunião entre poder público e moradores. A Real Parque é considerada uma ZEIS (Zona Especial de Interesse Social) e faz parte de um processo de urbanização. Em 2008, a prefeitura cadastrou 1.131 famílias para receber as moradias que devem ser construídas no local. Após o incêndio, a Sehab informou que “a Prefeitura ofereceu Auxílio Aluguel de R$ 400 mensais para todas as famílias, porém, apenas as famílias que constam do cadastro original, de 2008, terão direito a um apartamento, que será construído em 18 meses”.

A medida não é nenhum benefício, é apenas uma parte de um direito de todo cidadão – o Direito à cidade. Afinal, tanto constituição, quanto o Estatuto da Cidade asseguram que todos deveriam ter uma moradia garantida, além de acesso a serviços urbanos, infraestrutura, trabalho e lazer.

O problema segue, entretanto, para as famílias que foram morar na área atingida depois do cadastro em 2008 - 191 famílias segundo os dados da Sehab. Das 380 famílias, aproximadamente 40 são indígenas Pankararu - uma média de 180 indígenas desabrigados.

Quem perdeu tudo, ainda vai enfrentar um problema até conseguir o auxílio aluguel – a falta de documentos. A reivindicação por uma unidade móvel de Poupatempo ou um mutirão para que as pessoas fizessem novos documentos não tinha sido atendida até o dia 29 de setembro.

O Real Parque é um daqueles cenários que retratam um resumo da perversidade de um sistema econômico baseado na desigualdade e que não permite nenhuma mudança estrutural. Ele atinge as pessoas num dos pontos mais sensíveis – o direito a uma moradia digna. Lá, os barracos dividem a paisagem com as mansões do Morumbi. Os barracos improvisados com materiais distintos – e com uma engenharia de conhecimento popular impressionante – dividem ainda o muro direto com uma grande unidade da loja de materiais de construção Leroy Merlin. Enquanto muitos estavam aliviados porque seus barracos escaparam do fogo, outros perderam tudo o que tinham.

E uma amiga que trabalha na grande imprensa lá perto me disse estarrecida que seus chefes comemoravam o incêndio próximo, que ia alavancar a audiência. Sobre o assunto, reproduzo o email que ela me enviou:

Faltava dez para dez para entrar no trabalho. Faltavam dez minutos para a abertura da Bovespa e há sempre uma competição estranha para saber qual portal vai dar a notícia primeiro. Parece sempre uma questão de tempo, mesmo que isso afete apenas a vida de uns pouquinhos.

Ao entrar na Berrini, já era possível ver a labareda que subia na favela Real Parque bem atrás da ponte estaiada. O carro de bombeiros passou correndo para quase me atropelar. Mais tarde, a notícia que eles chegaram do outro lado da marginal apenas uma hora depois não entrava na minha cabeça. Às vezes não é uma questão de tempo.

Do alto, era possível ver de camarote. Em uma janela, a favela queimava. Na outra, os carrões atravessam sozinhos a ponte estaiada. O dólar caía diante da capitalização da Petrobras e o governo anunciava que não deixaria desvalorizarem a moeda.

Uma empolgação geral tomava a redação. Era muita felicidade. Uma favela queimando aqui do lado! Nem é preciso descer para fotografar e ter as melhores imagens da tragédia. Nada de pé na lama, nada de enfrentar a polícia sempre disposta a partir para a agressão. Pelo menos nada de:

- Como você se sente depois de perder tudo.

E era fechem os obturadores! Drama, muito drama! Assim os cliques vão chover:

- Nossa, quanta sorte!!! Hoje vai ser um dia bom de audiência. Porque é sempre uma questão de audiência também.

A chuva, que de fato caía em São Paulo, não fazia cócegas no fogo que queimava as casinhas tão rapidamente como uma caixinha de fósforos, para o desespero de pessoas que àquela altura pareciam formiguinhas. Ainda mais porque trabalhavam juntas, carregando tantas coisas de um lado para o outro enquanto o zoom buscava o rosto mais desesperado.

Era a festa dos abutres. Voando de um lado para outro, descarregando imagens e dando flashes do trânsito (porque se não é questão de tempo, é questão de trânsito) não observaram o olhar da Neide.

Desolada na Copa. Ela olhava pela mesma janela o fogo na comunidade. Não dava para saber ao certo se o fogo passava perto de seu barraco. Mas a expressão de incredulidade me faz crer que uma daquelas casinhas era dela. Outras moças coladas ao vidro, em completo silêncio. E dava uma dor pensar: quando vai ser questão de gente?

AS FAMÍLIAS NESSE MOMENTO PEDEM APOIO E DOAÇÕES
CONTATOS DO REAL PARQUE
Dora (liderança indígena Pankararu) – Tel.: 8156-7367
Paula (Favela Atitude) – Tel.: 9838-5904
Cris (Favela Atitude) – Tel.: 7503-4948

Débora Prado é jornalista.
debora.prado@carosamigos.com.br

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Nossa africanidade
18/11/2010

Viva a nossa africanidade! Celebremos nossa idade como formação social que tem uma raiz negra tão desprezada pelos dominadores quanto resistente: daí a importância do 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, dia do fim do imorredouro Zumbi dos Palmares, há 315 anos. Daí a importância do 22 de novembro, quando eclodiu a Revolta contra a Chibata, liderada pelo perene João Cândido, há exatos 100 anos. É preciso redescobrir esta consciência no nosso próprio corpo, antes mesmo que na razão. Somos o povo da raça Brasil, nem melhor nem pior que nenhum outro. Único no mundo, como tantos outros!

Menino ainda, com ascendentes nordestinos negros e indígenas, a pressão social era para que meu cabelo crespo ficasse ‘bom’ (!?), isto é, liso. Haja ‘Gumex’, uma espécie de fixador... Custei a me libertar dessa imposição de um padrão europeu, branco, ‘bonito’. Meu cabelo testemunhava minha origem, e a cor da pele confirmava. Mas a sociedade ainda cheia dos estereótipos do ‘belo’, do ‘civilizado’, franzia o cenho para essa condição natural. Só me constituí como pessoa quando, graças a muitos, consegui me descobrir como sou, e ter orgulho de ser o que sou, no corpo e na aflita e esperançosa alma de latino-americano.

Somos também 4 séculos de escravidão. ‘Em troca do seu trabalho os escravos recebiam três “pês”: pau, pano e pão’, lembrei, com Marcus Venício Ribeiro e Lúcia Carpi, no livro do História da Sociedade Brasileira. Continuamos lembrando a saga desses povos expatriados que tornaram-se a nossa gente: ‘os negros escravizados reagiam a tantos tormentos suicidando-se, evitando a reprodução, assassinando feitores, capitães-do-mato, proprietários. Em seu cultos os escravos resistiam, simbolicamente, à dominação. Os cultos afros eram, e continuam a ser, um ritual de liberdade, protesto, reação à opressão do Deus dos brancos. Rezar, batucar, dançar e cantar eram maneiras de aliviar a asfixia da escravidão. A resistência acontecia também no real – na fuga das fazendas e na formação de quilombos, aldeias de negros foragidos que tentavam reconstituir nas matas brasileiras sua vida africana. Cada quilombo era uma “Angola janga”, isto é, uma pequena Angola.

Durante todo o período colonial, formaram-se quilombos em muitas partes do território, como no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, no Mato Grosso, na Bahia, em Pernambuco. Sem dúvida, mais conhecido foi o Quilombo de Palmares, localizado na Serra da Barriga, no atual Estado de Alagoas. Os mocambos – grupos de casebres cobertos com folhas de palmeira – estendiam-se por 27.000 Km2 e seus milhares de habitantes (cerca de 50.000 em 1670) cultivavam principalmente milho, além de feijão, batata-doce, mandioca, banana e cana-de-açúcar. Nessa “Angola janga” não viveram apenas negros escravos: brancos (talvez foragidos da justiça colonialista), mulatos livres e índios integraram-se nessa comunidade onde quem chegasse por esforço próprio era considerado livre. Os trazidos à força só alcançariam a alforria quando levassem para o mocambo algum negro cativo. Palmares desenvolveu-se tanto que seus habitantes até iniciaram um pequeno comércio com aldeias próximas, ligadas à colonização portuguesa.

Esse mundo era uma ameaça para a ordem colonial-escravagista: “O quilombo era um constate chamamento, um estímulo, uma bandeira para os escravos das vizinhanças – um apelo à rebelião, à fuga para o mato, à luta pela liberdade. As guerras na serra da Barriga e as façanhas dos quilombolas assumiram caráter de lenda, alguma coisa que ultrapassava os limites da força e do engenho humanos. Os negros de fora do quilombo consideravam ‘imortal’ o chefe Zumbi – a flama da resistência contra as incursões dos brancos”. (Edson Carneiro, 1996, p. 5).

A repressão aos quilombos era uma necessidade para os senhores e para a metrópole. O século XVII é marcado pela guerra contra Palmares, movida por holandeses – quando ocupam o Nordeste – e por defensores da colonização lusa, financiados pelo rei ou não. A destruição final de Palmares, com a queda do mocambo principal, a Cerca Real dos Macacos, só ocorre em 1695. Chefiava a força dos “civilizadores” o bandeirante Domingos Jorge Velho.

Relembrar essa grande epopéia histórica é fundamental para celebrar condignamente a Consciência Negra. Onde há opressão, há resistência! Na esteira da luta simbolizada por Zumbi, devemos também destacar o centenário, neste 22 de novembro, do início da dura e gloriosa luta dos marinheiros – na sua maioria negros – contra os castigos corporais na Armada Brasileira, já em plena República. À frente o ‘Almirante Negro’, João Cândido, cantado por Aldir Blanc e João Bosco como o ‘mestre sala dos mares’: glória a todas as lutas inglórias!

A Consciência Negra, o crescente reconhecimento da nossa africanidade fez com que, afinal, o líder desse povo combatente por sua própria dignidade não tivesse mais ‘por monumento as pedras pisadas do cais’. Na Praça XV de Novembro, no Rio de Janeiro, às margens das águas ainda sujas da baía de Guanabara, lá está João Cândido, altaneiro. Como um Zumbi, um Ganga Zumba, ele nos lembra, como Agostinho Neto, primeiro presidente da República Popular de Angola, que ‘minhas mãos colocaram pedras nos alicerces do mundo, mereço meu pedaço de pão’.

Sala das Sessões, 18 de novembro de 2010.
Chico Alencar
Deputado Federal, PSOL/RJ

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Entrevista: Frei David – Educafro

Novembro 18, 2010 Por eliomar coelho

Um dos líderes mais importantes do movimento, o frei franciscano David Raimundo dos Santos, foi mentor e fundador da Rede de Cursinhos Populares Educafro, entidade que preside em São Paulo. Destacou-se no debate nacional sobre Políticas de Ações Afirmativas para afrodescendentes nas Universidades Públicas e atuou efetivamente na implantação do sistema de Cotas na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (RJ), trabalho que procura ampliar em São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Frei David respondeu à perguntas que fiz sobre racismo e desigualdade, às vesperas do Dia da Consciência Negra, 20 de novembro.

1) Qual a importância de leis como a que instituiu a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas cariocas, proposta do meu mandato que foi aprovada na Câmara do Rio?

Considerando a grande mobilização da comunidade negra, temos como marco histórico a promulgação da Lei Ordinária 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade de toda instituição de ensino em promover estudos sobre a história e cultura africana e afro-brasileira, influenciando positivamente na auto-estima dos jovens e crianças negras, e desmistificando a imagem do negro entre as demais crianças. Leis como esta vem para dar maior sustentação a todo o processo de lutas do povo negro. Importa dizer que velar pela memória da cultura afro é destacar nas instituições de ensino do país a grandeza da diversidade que forma as bases culturais brasileiras. Portanto, comungo, em gênero, número e grau com sua justificativa quando aponta que:
A Lei atende à necessidade de resgatar a contribuição do negro e dos povos indígenas nos terrenos histórico e cultural [...] Este resgate visa reconhecer a discriminação sofrida pelos negros e negras do Brasil, a situação de inferioridade à qual foram submetidos durante cinco séculos e o começo de seu verdadeiro reconhecimento e valorização em todos os terrenos.
A seqüência natural desse processo virtuoso deve ser garantida pelo sistema educacional nos seus diferentes segmentos, integrando, a partir dos currículos escolares, as diferentes raças/etnias que existem no país, dedicando igual importância à história e à cultura dos diferentes povos que fazem parte da formação da sociedade brasileira. A aprovação da Lei Federal 10.639, de janeiro de 2003, foi um gigantesco passo adiante no sentido de começarmos, finalmente, a pagar nossa dívida histórica com a população afro-descendente do Brasil.

2) Sabemos que hoje, no país, o percentual de negros já é superior ao de brancos. Mas também sabemos que o acesso às universidades ainda é bastante restrito para estudantes negros, se compararmos com o percentual de estudantes brancos. Qual sua opinião sobre esta defasagem? Por que tanta resistência em relação à política de cotas raciais?
Não existe dúvidas que a postura da elite brasileira se baseia unicamente na questão de meritocracia. Sendo assim, analisando o ensino público, vemos o quão é horroroso e incapaz de qualificar os nossos alunos, negros e carentes, para concorrer em pé de igualdade com a elite branca. O sistema de cotas vem para contrariar este pensamento arcaico de ignorar as diferenças que existem, buscando igualdade de direitos, como ação afirmativa. Vale lembrar que as cotas provocarão o que a luta de 20 anos, pela melhoria do ensino público não conseguiu provocar.
Outrossim, a meritocracia foi uma estratégia da classe dominante. Imagine que se vai organizar uma corrida e para um atleta se dá um excelente treinamento e assistência médica. Para o outro nada. Nem alimento. Quem vai ganhar a corrida? Quem é o autor da perversidade? Assim é a universidade pública brasileira.

3) O que pode ser feito para diminuir a desigualdade entre negros e brancos?

O debate sobre esta questão ainda vai render muitos discursos, mas prefiro seguir a linha de que haverá grandes melhoras acaso consigam tratar esta questão com os olhos dos direitos humanos. Respeitar a diversidade e aumentar os debates informativos. Não se pode esquecer os séculos de humilhação do povo negro nas mãos dos brancos, e muito menos taxar esta situação como uma guerra de raças a dominar o cenário político. Pelo contrário, reconhecer as ações afirmativas como meios de inclusão fará com que grande parte deste misticismo de dominação e superioridade seja colocado em cheque.

4) O mito da democracia racial existe e há quem acredite nele. O que o Sr. tem a dizer sobre isso? Existe racismo no Brasil? O que fazer para combatê-lo?

Nas entrelinhas dos discursos defensivos desta teoria, absurda por sinal, observam-se situações como o negro com menores salários, ocupando, em sua grande maioria, cargos inferiores, negros abordados de forma diferente pelos policiais, dentre outras ações. Para um bom entendedor, ele não perguntaria sobre democracia racial, pois isto é uma idéia que se usa para justificar todos os excessos de tratamentos à população negra que se marginaliza até hoje dentro do cenário nacional. Estaria ciente de que o Brasil é o país mais racista do mundo, principalmente por negar esta situação. O combate vem sendo feito, a comunidade negra tem se articulado e tem conseguido grandes feitos, tais como a lei 10639/03, já citada, o Estatuto da Igualdade Racial e os programas de cotas para universitários negros, como ações afirmativas.

5) Na sua opinião, o Brasil passa por mudanças em relação às questões raciais?

Em alguns setores existe uma certa resistência em reconhecer ou simplesmente ignorar a temática do povo negro. Entretanto, mudanças significativas vem ocorrendo, a promulgação do Estatuto da Igualdade Racial é prova cabal de que a Comunidade Negra está se inserindo no cenário político, buscando efetivar políticas públicas para os seus pares. Nota-se ainda, que há uma crescente aceitação de instituições de ensino no tocante às cotas. O ProUni, também é uma grande conquista ao integrar mais jovens negros e carentes no ensino superior. Vale lembrar que a missão da Educafro diz muito sobre as mudanças no cenário da questão racial, já que busca lutar para que o Estado cumpra suas obrigações, através de políticas públicas e ações afirmativas na educação, voltadas para negros e pobres, promoção da diversidade étnica no mercado de trabalho, defesa dos direitos humanos, combate ao racismo e a todas as formas de discriminação.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Brasil 2011:
Estado festejará
Ano Internacional dos Afrodescendentes
distribuindo livro racista nas escolas

Não é por caso!!!
É o que diria Lélia Gonzalez.

Brasil 2011: Estado festejará Ano Internacional dos Afrodescendentes distribuindo livro racista nas escolas

Eliane Cavalleiro*
Doutora em Educação – USP
Docente na Faculdade de Educação - UNB

A sociedade competitiva e os preconceitos geram uma violência que deve ser combatida pela escola. Ensinar a viver juntos é fundamental, conhecendo antes a si mesmo para depois conhecer e respeitar o outro na sua diversidade. A melhor maneira de resolver os conflitos é proporcionar formas de buscar projetos e objetivos em comum, através da cooperação, pois assim ao invés de confrontar forças opostas, soma-se a diversidade para fortalecer as construções coletivas (Jacques Delors, UNESCO, MEC, Cortez Editora, São Paulo, 1999).

De acordo com Delors, a transmissão de conhecimento sobre a diversidade humana, bem como a tomada de consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos do planeta constituem fundamentos da educação. Entretanto, às vésperas do Ano Internacional dos Afrodescendentes, o Ministério da Educação do Brasil rejeita consideração do Conselho Nacional de Educação, que atento às Leis que regem a Educação Nacional, pondera sobre a distribuição do livro de literatura infantil Caçadas de Pedrinho (1), de Monteiro Lobato, que, originalmente publicado no ano de 1933, difunde visão estereotipada sobre o negro e o universo africano, apresentando personagens negras subservientes, pouco inteligentes, até mesmo aludindo a animais como o macaco e o urubu quando se referem à personagem negra, como no trecho: "Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão".

Os movimentos sociais negros há tempos reivindicam ação substantiva por parte do Estado brasileiro em políticas públicas para a educação das relações étnico-raciais. Os movimentos sociais brancos e a elite, por sua vez, recusam toda e qualquer medida que visa combater o racismo e seus derivados na sociedade brasileira. Por sua vez, identificam-se setores progressistas da sociedade que lutam pelos direitos humanos, direitos das mulheres, gays e indígenas, mas que infelizmente se calam diante da luta antirracista.

Na questão em debate, de maneira previsível, debocham da pesquisadora e professora universitária e conselheira do CNE Nilma Lino Gomes, responsável maior pelo parecer, que possui formação intelectual que não fica atrás de nossa elite branca, uma vez que possui doutorado pela Universidade de São Paulo e Pós-Doutorado na Universidade de Coimbra, sob orientação de um dos maiores nomes da intelectualidade atual, a saber, Boaventura de Sousa Santos. Mesmo com esse histórico intelectual, ela tem sido vista pelos racistas de plantão como incompetente e racista ao inverso. Isso somente reforça a obsessão pela continuidade da estrutura racista em nossa sociedade. Sobre o autor, Monteiro Lobato, nascido no século XIX, eugenista convicto, diz-se apenas ser uma referencia clássica. Certamente uma clássica escolha da elite nacional, que do alto de sua arrogância e prepotência acredita que seus eleitos sejam intocáveis e não passíveis de qualquer crítica e consideração.

O MEC tem o dever de combater qualquer tipo de situação discriminatória para qualquer grupo racial. Assim, o que deve ganhar nossa atenção nessa contenda é o fato de que mesmo o edital do PNBE/2010, estabelecido pelo MEC/FNDE, ter traçado como objetivo a “Observância de princípios éticos necessários à construção da cidadania e ao convívio social republicano” e ter estabelecido, conforme anexo III do referido edital, que “Serão excluídas as obras que: 1.3.1. veicularem estereótipos e preconceitos de condição social, regional, étnico- racial, de gênero, de orientação sexual, de idade”, temos um ministro que defende a distribuição irrestrita do livro por compreendê-lo como adequado para a educação de crianças em pleno processo de socialização.

Considerando que os doutos e doutas que administram o MEC leram Jaques Delors, Paulo Freire, Edgar Morin e tantos outros que adoram citar, não se pode alegar ingenuidade por parte da equipe diretiva do MEC, que aceitou parecer favorável à compra e à distribuição desse livro nas escolas públicas, cujo conteúdo fere o próprio edital por eles instituído. O que deve tomar o centro dessa discussão é o fato de o MEC anunciar uma política que vai ao encontro do disposto nas leis e também das reivindicações dos movimentos negros organizados, em nível nacional e internacional, mas na prática permitir o descumprimento de seu edital.

Ao ferir o edital, o próprio MEC abre precedente para que as editoras, cujas obras tenham sido excluídas por veicularem estereótipos, reivindiquem também a distribuição dos livros excluídos. Por que somente Lobato com estereótipo racial? Que tal o MEC também distribuir literatura sexista? Que tal textos com manifestações anti-semitas? Será que assim a sociedade se incomodaria?

Mas, por enquanto, mais uma vez magistralmente setores conservadores e/ou tranquilos com as consequências da discriminação racial nesta sociedade buscam inverter a discussão, de modo a que o maior problema passe a ser o tal “o racismo ao revés e a radicalidade dos movimentos negros”, e joga-se para debaixo do tapete o que deveria ser o centro da análise: o esfacelamento dos objetivos de combater a disseminação de estereótipos e preconceitos na política do PNBE, MEC.

Sejamos de fato coerentes e anti-racistas, reconheçamos a não-observação aos critérios do estabelecidos no Edital do PNBE/2010, insistamos na pergunta e exijamos do MEC uma pronta resposta: o que de fato ele tem realizado, quanto tem investido e qual a consistência e a efetividade de suas realizações, sobretudo em comparação com o que tem investido nas demais questões ligadas à diversidade e aos grupos historicamente discriminados? Dos livros selecionados pelo PNBE 2010, quantos favorecem a educação das relações de gênero? Quantos promovem o conhecimento positivo sobre a história e cultura dos povos indígenas? Se o MEC tivesse respeito por nós, seríamos informados sobre o cumprimento das metas para a implementação do artigo 26ª da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) (Lei n. 9394/96), que se refere à obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras, indo ao encontro de tratados internacionais como a Convenção Contra a Discriminação na Educação (1960) e o Plano de Ação decorrente da III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Intolerância Correlata (2001), ambos sob os auspícios da Unesco.

Em 17 de abril de 2008, em entrevista à Agência Brasil, apos receber críticas sobre o retrocesso nas políticas para o combate ao racismo, o diretor do Departamento de Educação para Diversidade e Cidadania do MEC, Armênio Schmidt, confirmou a suspensão da distribuição de material didático e de ações de formação de professores na área étnico-racial em 2007. Segundo ele, a interrupção, apenas externa, nas ações voltadas à questão racial ocorreu por causa das mudanças no sistema de financiamento do MEC. Para o diretor tal suspensão se justificava pelo fato de o MEC estar, em 2007, “construindo uma nova forma de indução de políticas, de relação com estados e municípios, que foi o Programa de Ações Articuladas”. Para ele: “Durante [aquele] ano ... [2007] realmente não houve publicações e formação de professores. Mas, na nossa avaliação, não houve um retrocesso, porque isso vai possibilitar uma nova alavanca na questão da Lei [10.639]. Agora estados e municípios vão poder solicitar a formação de professores na sua rede, e o MEC vai produzir mais publicações e em maior número”(2).

Em 2010, além de não percebermos o fortalecimento da política, tampouco a retomada das publicações e uma consistente e sistemática formação de professores, flagramos o MEC permitindo a participação de livro cujo conteúdo veicula estereótipos e preconceitos contra o negro e o universo africano, constituindo assim flagrante inobservância das normas estabelecidas.

O atual presidente Lula, em seu começo de mandato, evidenciou, no campo da educação, a importância do combate ao racismo, promulgando a Lei 10.639/03, que, como já mencionado, alterou a LDB, tornando obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileiras na Educação Básica. Tal alteração contou com a pronta atenção do CNE, que, sob responsabilidade da conselheira Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, elaborou as Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino das Relações Étnico-Raciais e de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (CNE/CP 3/2004), cuja homologação foi assinada pelo então ministro da Educação, Tarso Genro. Contudo, embora conte com 83% de aprovação por parte da população e tenha ao longo de seu mandato visitado várias vezes o continente africano e discursado eloquentemente sobre a necessidade de reconhecimento do valor dos afrodescendentes na formação de nosso Estado Nacional, ele encerra seu mandato permitindo um declínio acentuado na elaboração e na implementação de políticas anti-racistas no campo da educação.

Se em 2003 podíamos reconhecer, ainda que timidamente, o fato de o combate ao racismo fazer parte da agenda política brasileira; em 2010, devemos denunciar o descompromisso com essa luta. Descompromisso que pode ser percebido pela redução acentuada do orçamento para a educação das relações raciais, pelo enxugamento da equipe de trabalho da Coordenação Geral de Diversidade e Inclusão Educacional/SECAD/MEC, responsável pela implementação das ações de diversidade étnico-racial. Ainda vale ressaltar que houve a retirada do portal de diversidade da rede do MEC; a interrupção de publicações sobre o tema para a formação de profissionais da educação, pelo frágil apoio que das secretarias de educação para o cumprimento do proposto no parecer CNE/CP 3/2004. Essas constituem algumas referências negativas, entre várias outras apontadas pelos estudos sobre o tema.

Nós negros, cidadãs e cidadãos, que trabalhamos duramente longos anos para a eleição do presidente Lula esperávamos mais. Esperávamos mais tanto do presidente quanto da sua equipe executiva que administra a educação brasileira. Esperávamos minimamente que ao longo desses anos a equipe tivesse compreendido o alcance e o impacto do racismo em nossa sociedade. Esperávamos que eles, respeitando os princípios de justiça social, independentemente dos grupos no poder, emitissem manifestações veementes pelo combate ao racismo na educação. Pelo visto as promessas de parcerias e acolhimento das nossas considerações eram falsas.

O que temos como resposta, para além do silêncio de toda Secretaria de Educação, Alfabetização e Diversidade, é o posicionamento por parte do ministro, que não vê racismo na obra, colocando-se favorável à sua distribuição irrestrita, que, em companhia de outros elementos no cotidiano escolar, sabemos, contribuirá para a formação de novos indivíduos racistas, como já se fez no passado. Sem dúvida, o discurso do ministro mostra-se engajado com sua própria raça, classe e gênero. O mais irônico é saber que em pleno século XXI o Brasil será visto como um país que avança na economia e retrocede nos direitos humanos da população negra.

Muitos admiram Monteiro Lobato. Eu admiro Luiz Gama que se valeu das páginas da imprensa em defesa da liberdade dos escravizados e disse, sintetizando nossa ainda atual resistência cotidiana: “Em verdade vos digo aqui, afrontando a lei, que todo o escravo que assassina o seu senhor, pratica um ato de legítima defesa”. O conhecimento é a arma que dispomos para lutar pela defesa de nossa história, nossa existência, bem como do futuro de nossos filhos e filhas. Essa é uma luta desigual, portanto desonesta. Mas ainda que muitos queiram nosso silêncio, seguiremos lutando e denunciando essa forma perversa de racismo que perdura na sociedade brasileira.

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(1) Tal obra foi selecionada pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola/2010, que objetiva a “seleção de obras de apoio pedagógico destinadas a subsidiar teórica e metodologicamente os docentes no desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem nos respectivos campos disciplinares, áreas do conhecimento e etapas/modalidades da educação básica” (Brasil. Edital PNBE 2010. Brasília: MEC/FNDE, 2010).

(2) Agência Brasil. Pesquisadora aponta retrocesso na política de combate ao racismo nas escolas. Disponível em:
http://verdesmares.globo.com/v3/canais/noticias.asp?codigo=216721&modulo=450 . Acessado em: novembro de 2010.


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Os grifos são de MLG
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Os créditos de Eliane Cavalleiro foram incluídos por MLG, pelas razões óbvias que o texto impõe.

* Eliane Cavalleiro é Doutora em Educação - USP. Foi consultora UNESCO - Oficina Regional de Educação para América Latina e Caribe/OREALC, responsável pelo desenvolvimento da pesquisa: Discriminación y Pluralismo: Valorando la Diversidade em la Escuela. Atuou como Coordenadora Geral de Diversidade e Inclusão Educacional, na Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – MEC (2004 a 2006). Livros: Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil, Contexto, 2000; Racismo e anti-racismo na educação: repensando nossa escola, Selo Negro/Summus, 2001; Veredas das noites sem fim: socialização e pertencimento racial em gerações sucessivas de famílias negras , Editora UNB. Docente na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília-UNB, tutora do Programa de Educação Tutorial (PET) da Faculdade de Educação. Foi Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores(as) Negros(as)>

terça-feira, 16 de novembro de 2010

NOVEMBRO NEGRO


SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Barreiras – Ba
2010
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS-CAMPUS IX
Colegiado de Letras
CREL – GRUPO DE PESQUISA EM CULTURA, RESISTÊNCIA, ETNIA E LINGUAGEM.

Dia 16 – 19H00 às 22H30


Conferência de abertura: Profº Joaquim Pedro Soares Neto – Diretor da UNEB/DCH-Campus IX (Barreiras-Bahia0, Professor Ricardo Tupiniquim e representante da embaixada de escritores Angolanos Cadido.
Participação do Bancando Literatura.

Dia 17 – 19H00 às 22H30

Oficinas temáticas.

Dia 18 – 19H00 às 22H30

Mini-cursos e comunicações.

Dia 19 – 19H00 às 22H30

Encerramento com apresentações culturais e apresentação do projeto da Professora Maria Almeida, de temática contra a violência doméstica.

Local:
UNEB.

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SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Barreiras – Ba
2010

Na semana de 17 a 20 de novembro. Barreiras será sede de um evento de extrema importância nacional: A Semana da Consciência Negra, organizado pelo Dr. Isidro Cardoso da Cruz e pela professora Maria helena, da Coordenadoria Municipal de Cultura.
O evento busca mobilizar a sociedade barreirense para refletir e se conscientizar da contribuição da população negra na construção da nossa sociedade e da luta para o alcance das relações de igualdade de oportunidades, que valorizam a pluralidade e a diversidade cultural do povo brasileiro.
Venha! Participe conosco deste momento!

PROGRAMAÇÃO

DIA 13 – 19H00

1º Encontro nacional de capoeira do grupo IUNA.
Curso de capoeira com os filhos do mestre Bimba.

Local: Escola Municipal Padre Vieira.

Dia 14 – 19H00

Oficinas:
• Hip-Hop
• Dança Afro

Local: Mercado Cultural Caparrosa

Dia 17 – 19H30

Sessão Solene – Câmara Municipal de Barreiras – por Kelly Magalhães

Apresentação Cultural – Dança Afro 9alunos do PETI – Mucambo).

Palestra: A historia da Consciência Negra
Orador: DR. Isidro Cardoso

Apresentação Musical – Alunos do PETI – Sede.
Palestra: O Estatuto da Igualdade racial
Oradora: Drª Débora Moraes Rego de Castro – Juíza da vara do Trabalho em barreiras

Local: Câmara Municipal de Barreiras


Dia 18 – 19H30

Palestra: A posição do negro no mercado de trabalho, na distribuição de renda e no grau de instrução nas últimas décadas.

Orador: Cap. PM Bel. Cristiano Andrade da gama – Sub-comandante da PM de LEM-BA

Local: Palácio das Artes

Dia 19 – 19H30

Palestra: Política de cotas como forma de inclusão e exclusão.

Orador: Prof. Edson carvalho de Souza Santana – mestrando em educação e Contemporaneidade pela UNEB.

Mesa Redonda: Políticas de Cotas – profº Edson carvalho, Dr. Isidro Cruz e Profª Luciângela Silva Costa.

Local: Mercado Cultural Caparrosa

Dia 20 – 19H00

Desfile da Beleza Negra
Apresentação de Hip-Hop, dança Afro, maculelê e capoeira.

Agradecimentos.
Encerramento.

Local:
Mercado Cultural Caparrosa

“A inspiração do ser humano independe da cor de sua epiderme”. (Isidro Cruz)

Consciência negra

Sou a alma que ontem nasceu no mundo.
Sou a filha da África,
Dos olhos de pérolas,
Do sorriso de marfim,
Dos sons dos atabaques em noite de luar,
Da roda de capoeira,
Do jongo ao macule lê.

Sou da raça que irradia perfume de alegria.
Sou semente da história humana,
De vida apesar de tanta dor.

Dos canaviais e senzalas,
Das mãos calejadas, exploradas e
injustiçadas.

Podem tirar a minha vida,
Menos o direito de sonhar,
De ter esperança...
De lutar por dignidade e respeito,
Nem que seja em grito mudo,
Clamando por igualdade e justiça,
E de acreditar num amanhã melhor.

Sarah Janaína Leibovitch


ORGANIZADORES

Dr. Isidro Cardoso Cruz
Profº Maria helena Alves Leite

COLABORADORES

Prefeitura Municipal de Barreiras
Departamento de Cultura
Luciângela Silva Costa
Kelly Cristina Alves Santos

PATROCINADORES

Câmara Municipal de Barreiras
Panificadora Italiana
Supermercado Safra
Panificadora Delícia
Prefeitura Municipal de Barreiras
Cangraf
Unyahna
FASB

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A Revolta dos Búzios e a luta por igualdade.

No dia 12 de agosto, há 212 anos, as ruas de Salvador amanheceram repleta de panfletos nos quais se destacava a seguinte frase: "Animai-vos Povo baiense que está para chegar o tempo feliz da nossa Liberdade: o tempo em que todos seremos irmãos: o tempo em que todos seremos iguais." O panfleto era um plano para que a população baiana se revoltasse contra a autoridade no movimento que ficou conhecido como Revolta dos Búzios ou Conjuração Baiana e que, sem dúvidas, dos movimentos que almejaram independência foi o mais popular! Por isso, ele carrega uma simbologia de resistência negra aliada a ideais republicanos que são muito inspiradoras!

A Revolta dos Búzios representa a luta do nosso povo pela liberdade e por um Brasil que pudesse vivenciar a igualdade, numa época que os nossos antepassados eram escravos, vários jovens, mais de 30 jovens foram denunciados e castigados e dentre estes Manoel Faustino, com 18 anos, João de Deus com 24 anos, Lucas Dantas também com 24 anos e Luís Gonzaga com 36 anos foram condenados a morte de forma exemplar. A morte desses guerreiros não foi em vão. Não tenho dúvidas de que eles vivem e sempre viveram quando nós nos posicionamos contra todas as formas de desigualdade e, sobretudo, contra o racismo no nosso dia a dia, contra a faxina étnica que ataca o nosso povo.

Como socialistas nós aguardamos o tempo feliz de nossa liberdade!
Manoel Faustino, presente!
João de Deus, presente!
Lucas Dantas, presente!
Luís Gonzaga, presente!

domingo, 14 de novembro de 2010

Desempenho de cotistas fica acima da média

http://www.estadao. com.br/estadaode hoje/20100717/ not_imp582324, 0.php

Mariana Mandelli - O Estado de S.Paulo
Estudos realizados pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pela Universidade de Campinas (Unicamp) mostraram que o desempenho médio dos alunos que entraram na faculdade graças ao sistema de cotas é superior ao resultado alcançado pelos demais estudantes.

O primeiro levantamento sobre o tema, feito na Uerj em 2003, indicou que 49% dos cotistas foram aprovados em todas as disciplinas no primeiro semestre do ano, contra 47% dos estudantes que ingressaram pelo sistema regular.

No início de 2010, a universidade divulgou novo estudo, que constatou que, desde que foram instituídas as cotas, o índice de reprovações e a taxa de evasão totais permaneceram menores entre os beneficiados por políticas afirmativas.

A Unicamp, ao avaliar o desempenho dos alunos no ano de 2005, constatou que a média dos cotistas foi melhor que a dos demais colegas em 31 dos 56 cursos. Entre os cursos que os cotistas se destacaram estava o de Medicina, um dos mais concorridos - a média dos que vieram de escola pública ficou em 7,9; a dos demais foi de 7,6.

A mesma comparação, feita um ano depois, aumentou a vantagem: os egressos de escolas pública tiveram média melhor em 34 cursos. A principal dificuldade do grupo estava em disciplinas que envolvem matemática.

17 de julho de 2010 0h 00

sábado, 13 de novembro de 2010

Livros de ensino religioso em escolas públicas estimulam homofobia e intolerância, diz estudo.

Uma pesquisa da UnB (Universidade de Brasília) concluiu que o preconceito e a intolerância religiosa fazem parte da lição de casa de milhares de crianças e jovens do ensino fundamental brasileiro. Produzido com base na análise dos 25 livros de ensino religioso mais usados pelas escolas públicas do país, o estudo foi apresentado no livro “Laicidade: O Ensino Religioso no Brasil”, lançado na última terça-feira (22) em Brasília.

“O estímulo à homofobia e a imposição de uma espécie de ‘catecismo cristão’ em sala de aula são uma constante nas publicações”, afirma a antropóloga e professora do departamento de serviço social, Débora Diniz, uma das autoras do trabalho.

- Na sua opinião, o ensino religioso estimula a homofobia?

http://www3. uol.com.br/ redir/gd- educacao- livros-de- ensino-religioso .jhtm

A pesquisa analisou os títulos de algumas das maiores editoras do país. A imagem de Jesus Cristo aparece 80 vezes mais do que a de uma liderança indígena no campo religioso -limitada a uma referência anônima e sem biografia-, 12 vezes mais que o líder budista Dalai Lama e ainda conta com um espaço 20 vezes maior que Lutero, referência intelectual para o Protestantismo. João Calvino nem mesmo é citado.

- Errata: João Calvino

http://noticias. uol.com.br/ erratas/2010/ 06/23/uol- educacao- --livros- de-ensino- religioso- em-escolas- publicas- estimulam- homofobia- e-intolerancia- diz-estudo. jhtm

O estudo aponta que a discriminação também faz parte da tarefa. Principalmente contra homossexuais. “Desvio moral”, “doença física ou psicológica”, “conflitos profundos” e “o homossexualismo não se revela natural” são algumas das expressões usadas para se referir aos homens e mulheres que se relacionam com pessoas do mesmo sexo. Um exercício com a bandeira das cores do arco-íris acaba com a seguinte questão: “Se isso (o homossexualismo) se tornasse regra, como a humanidade iria se perpetuar?”.

Nazismo

A pesquisadora afirma que o estímulo ao preconceito chega ao ponto de associar uma pessoa sem religião ao nazismo – ideologia alemã que tinha como preceitos o racismo e o anti-semitismo, na primeira metade do século 20. “É sugerida uma associação de que um ateu tenderia a ter comportamentos violentos e ameaçadores”, observa Débora. “Os livros usam de generalizações para levar a desinformação e pregar o cristianismo”, completa a especialista, uma das três autoras da pesquisa.

Os números contrastam com a previsão da Lei de Diretrizes e Base da Educação de garantir a justiça religiosa e a liberdade de crença. A lei 9475, em vigor desde 1997, regulamenta o ensino de religião nas escolas brasileiras.
“Há uma clara confusão entre o ensino religioso e a educação cristã”, afirma Débora. A antropóloga reforça a imposição do catecismo. “Cristãos tiveram 609 citações nos livros, enquanto religiões afro-brasileiras, tratadas como ‘tradições’, aparecem em apenas 30 momentos”, comenta a especialista.

**com informações da Agência UnB*

Socializando informação: 23/06/2010 - 07h00
FONTE:
http://educacao. uol.com.br/ ultnot/2010/ 06/23/livros- de-ensino- religioso- no-brasil- estimulam- homofobia- e-intolerancia- diz-estudo- da-unb.jhtm

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Associação Atlética Brás Cubas & Macunaíma Futebol Clube selam acordo: RUMO A 2014!

Por Luiz Ricardo Leitão

Se algum demiurgo burlesco convertesse os maiores ícones da malandragem de nossas letras em patronos de agremiações esportivas, os novos clubes decerto arrebanhariam inúmeros sócios entre as elites de Bruzundanga. Não é difícil prever que a fração secular da burguesia tropical que até hoje se comporta como herdeira de Brás Cubas (aquele defunto-autor cujas memórias foram dedicadas ao verme que pela primeira vez lhe roeu as frias carnes do cadáver) logo assumiria a direção da briosa entidade, ao passo que o grupo mais arrivista e solerte não hesitaria em eleger o Conselho Deliberativo do Macunaíma Futebol Clube (uma homenagem ao herói sem nenhum caráter que, com sua ambiguidade, mimetiza o mote da identidade nacional – esse velho fantasma que há muito assusta a intelligentsia da colônia).

Os sócios da Associação Atlética Brás Cubas até hoje preservam os costumes do seu protetor: gostam de zombar do povo com a mesma desfaçatez que o narrador de Machado de Assis reservava aos leitores e jamais se preocupam em honrar as promessas que, com rara grandiloquência e cinismo, enunciam na vida pública, fazendo corar até o defunto-senador Collor de Melo. Já os associados do Macunaíma F. C. são meros aprendizes na arte da maracutaia, que, apesar de sua eventual esperteza e picardia, se tornam o mais das vezes peças muito úteis para a execução das grandes ‘jogadas’ do capital nestas plagas. Tão preguiçosos e manhosos quanto o patrono, eles se deitam em berço esplêndido, sonhando em viver nas Oropas; à falta de saúvas, divertem-se decepando salários dos tapuias, mas, quando põem os olhos em dinheiro, se movem com extrema rapidez para dandar vintém...

A face mais óbvia da moeda

O Sr. Ricardo Teixeira, que desde 1989 segue à frente da CBF, seria um nome perfeito para a presidência honorária do clube. Há anos sua figura se associa às mais escusas negociatas do “país do futebol”: afilhado do todo-poderoso João Havelange (capo mor da FIFA de 1976 a 1998), com cuja filha esteve casado até 1997, Teixeira aprimorou-se na grande arte de mudar para não mudar (traço essencial da modernização sem ruptura nesta via periférica de capitalismo), sobrevivendo sem maiores sequelas aos inúmeros escândalos que colecionou na CBF. Após uma falida incursão pelo mercado financeiro (em sociedade com o próprio sogro, o pai e um irmão), ele fez da entidade seu balcão preferencial de negócios e, por isso, teve de responder a sucessivas denúncias de nepotismo e corrupção, que incluem convocações para duas CPIs no Congresso (a do Futebol e a da CBF-Nike) e investigações da Receita por omissão de declarações de rendimentos nos anos 90, além da importação irregular de equipamentos para a choperia El Turf, no Rio de Janeiro, depois da Copa de 94 e do histórico voo da muamba.

Enquanto a mídia da província e a nebulosa opinião pública debatem acirradamente quais são os “culpados” pela precoce eliminação dos soldadinhos de Dunga na África, especulando a todo vapor sobre o nome e o perfil (liberal ou disciplinador / discreto ou midiático?) do futuro técnico da seleção, o ambicioso “Rico” Terra porta-se como uma eminência parda em terras da Mãe África. Pouco importa se o time que ele representa já foi embora, amargando a segunda pior campanha desde a Copa de 90: 2014 já está logo ali, bem ao alcance dos consórcios e empresas que operam o futebol, sem dúvida a mais valiosa mercadoria da sociedade espetacular pós-moderna. Não é à toa que o Sr. Rico, há 21 anos no cargo, agora se apressa em pregar renovação (obviamente, só para o time e o técnico), sob a cúmplice chancela da TV Globo, a emissora ‘oficial’ da festa. De fato, há muito a faturar com a próxima Copa...

Que o diga a onipotente FIFA, que somente pelos direitos de transmissão do Mundial 2010 recebeu das redes televisivas a bagatela de 2,5 bilhões de dólares, mais que o dobro do que se pagou há quatro anos na Copa da Alemanha. O evento da África, aliás, parece ter sido o ápice da gestão mafiosa e Blatter & Cia: com cotas mínimas de US$ 240 milhões para cada sponsor (patrocinador, na língua do capital), logrou uma arrecadação total não inferior a US$ 3,4 bilhões, dos quais ‘míseros’ 30 milhões são destinados ao campeão do torneio. Graças à ‘magia da bola’, em meio a rumorosos casos de corrupção, suborno, compra de votos e desvio de ingressos (vale a pena ler o livro do jornalista esportivo Andrew Jennings, ainda inédito no Brasil, Foul! The secret World of FIFA), cresce o faturamento da entidade, que em 2009 obteve uma receita de US$ 1,059 bilhão, ao passo que os grandes clubes europeus acumulam centenas de milhões em dívidas (o deficit de Manchester United e Real Madri supera US$ 800 milhões!).

Cá na terrinha, Brás Cubas e Macunaíma já selaram seu acordo rumo a 2014. A Copa promete, sem dúvida, lucros fabulosos para as entidades promotoras e, como sempre, despesas infindáveis para o poder público, como bem o sabe a África do Sul, que continuará a pagar cifras astronômicas para custear o torneio (R$ 2,92 bilhões pelos estádios + 3,32 bi em transporte + 325 milhões por segurança, segundo informa o Ministério das Finanças de lá). Não é difícil prever o destino da tão decantada parceria público-privada (PPP), a fórmula mágica com a qual a tchurma de Teixeira justificou às nossas ‘autoridades’ o financiamento do convescote. A atual previsão de gastos para o evento em Bruzundanga já gira em torno de R$ 17 bilhões (estádios + transporte + infraestrutura urbana), além de R$ 5 bi para os aeroportos, um valor total duas vezes maior do que a despesa sul-africana. Quem pagará essa conta, Dilma?

A outra face imponderável do (vil) metal

Em meio às expectativas pela partilha dos contratos, há surdas e renhidas disputas políticas em jogo, como a sinuosa definição do estádio de abertura da Copa, um imbróglio de que participam desde os tucanos e demos paulistas até os aliados do Sr. “Rico”. O cenário, sem dúvida, é de dar dó: quando vejo Orlando Silva, Sérgio Cabral e outras sorridentes criaturas na telinha, logo ponho a mão no bolso, ciente do que nos aguarda. Depois de décadas de infortúnio com os governos do PMDB, desde o casal Little Rose & Little Boy até o atual Playboy, o Rio arcará com mais essa conta. Não faltarão, decerto, confete e serpentina para o carnaval de inverno, enquanto os professores permanecem há nove anos sem reajuste, com salários mensais de R$ 540,00 (culpa dos royalties do pré-sal!, diz o playboy), e o nível do ensino médio no estado disputa com Sergipe o último lugar no país (cf. os dados do IDEB 2009).

Contudo, ao contrário de alguns pares, desanimados com a pífia atuação dos canarinhos e com a enxurrada de maracutaias que se anuncia, vislumbro nos fatos mais recentes alguns sinais auspiciosos para o futuro. Não me incomoda o fascínio da pelota: nascido em um pacato subúrbio carioca e criado desde os dez anos na Vila de Noel, o futebol representa a primeira paixão de minha vida. Socializei-me nas peladas de rua e desde cedo me encantei com as artimanhas do jogo. Militante clandestino na luta contra o regime militar e torcedor do Botafogo de João Saldanha, Afonsinho e Paulo César Caju, jamais dissociei a política do futebol. Os embates que esses craques sustentaram contra os ‘donos da bola’ me ensinaram precocemente que nem tudo deve ser conformismo nas manifestações da cultura popular.

Por conta disso, escrevi esta semana em uma crônica que, apesar da Jabulani e do famigerado padrão toyotista do “futebol de resultados”, nem tudo é motivo para pessimismo no planeta-bola. A Copa da África, em especial, suscitou um intenso debate acerca das relações sociais e mercantis que gravitam ao redor do bilionário espetáculo. Até as mazelas desta era pós-moderna e biocibernética do capital nos foram expostas, como atesta o total desequilíbrio da França de Raymond Domenech, retrato da fratura étnica e social do país, onde a imigração pós-colonial africana assusta a ‘elegante’ burguesia e acirra as reações racistas dos torcedores, que, três dias após o vexame na África, invadiram a sede da Federação para exigir “uma seleção branca e cristã”, sem nenhum atleta negro ou muçulmano.

O próprio duelo entre Dunga e a mídia nos ensejou uma rara chance de refletir sobre o estágio em que se encontra a civilização de Bruzundanga, onde os atos de truculência e destempero são uma súmula irretocável do comportamento que as elites da colônia cultivam há séculos, hoje disseminado pelo conjunto da classe média e já visível em vários estratos populares. A turma de Brás Cubas e Macunaíma também não se esqueceu de destilar seu ódio de classe contra os vizinhos do Mercosul, mas, ao menos desta vez, o tiro parece ter saído pela culatra, como se viu na tosca matéria do Sportv sobre o Paraguai, tachado de “paraíso obscuro do mundo” pelo canal – a agressão, similar àquela que o tucano Serra fez à Bolívia de Evo Morales, gerou reação indignadas do público e um inédito pedido de desculpas ao vivo.

Malgrado o sucesso dos europeus, a Pátria Grande terá sido, afinal, a grande personagem da primeira Copa em solo africano. Além de belos gestos de fair-play dos atletas, atos como o apoio dos argentinos à indicação das Avós da Plaza de Mayo para o Nobel da Paz, ou a singela iniciativa uruguaia de firmar um acordo de intercâmbio técnico com seus anfitriões na África, indicam-nos que ainda há sinais de vida inteligente entre nós. Se o chauvinismo barato de Galvão & Cia parece estar em baixa e até Lulinha Paz & Amor já sugeriu à CBF que realize eleições de 8 em 8 anos, é bom que os donos da pelota não se esqueçam de que toda moeda possui o seu reverso – a contraface inelutável do (vil) metal.

Luiz Ricardo Leitão é escritor e professor adjunto da UERJ. Doutor em Estudos Literários pela Universidade de La Habana, é autor de Noel Rosa: Poeta da Vila, Cronista do Brasil (lançado em 2009 pela Expressão Popular).

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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Brincando de democracia

Por Igor Ojeda

Só mesmo Hillary Clinton e a grande mídia internacional e nacional acreditam que o golpe de Estado em Honduras acabou e que, agora, a democracia no país centro-americano reina novamente. Na verdade, não acreditam: tanto a secretária de Estado dos EUA quanto a imprensa hegemônica sabem muito bem o que acontece por lá. Mas preferem fazer de conta que não é com eles.

E o que acontece por lá? O mesmo desde 28 de junho de 2009, quando o presidente constitucional Manuel Zelaya foi deposto. Ou seja, o terrorismo de Estado contra os opositores ao golpe continua prevalecendo. Mas, para Hillary, assassinatos, torturas e detenções ilegais não são motivos suficientes para a Organização dos Estados Americanos (OEA) não aceitar Honduras de volta, como ela prega há meses, com o argumento de que as eleições gerais de novembro restabeleceram a democracia no país.

Com ou sem democracia, o fato é que, passado um ano, os setores golpistas são os grandes vencedores desse imbróglio que envolveu diversos países do continente, especialmente o Brasil e sua embaixada em Honduras. Apesar do surgimento da valorosa e heróica Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP) – um dos maiores e mais bem organizados movimentos da história de Honduras –, Manuel Zelaya não retornou ao país, como exigia o Itamaraty, e a classe política, econômica e militar que arquitetou o quartelaço continua sendo a dona do Estado hondurenho.

O gabinete montado pelo atual presidente Porfirio “Pepe” Lobo – ele próprio apoiador do golpe – é composto, em grande parte, por golpistas ou indicados por estes. O Congresso e a Corte Suprema continuam sob controle ferrenho da oligarquia, que mantém forte presença em setores estratégicos, como a Hondutel – estatal hondurenha de telecomunicações, que, hoje, está sob o comando de ninguém menos que Romeo Vásquez Velásquez, ex-chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas quando da deposição de Zelaya – e, principalmente, nos corpos de segurança que dirigem a repressão, sob o pretexto do combate ao crime organizado.

Repressão seletiva

Mas, agora, preocupado com a repercussão internacional em tempos de internet, twitter, iphone e celular com câmera fotográfica e filmadora, o regime golpista decidiu “sofisticar” sua atuação. A repressão ficou mais seletiva: o alvo dos sequestros, prisões e assassinatos são os principais líderes e dirigentes do movimento de resistência ao golpe.

Um comunicado divulgado pela FNRP em 27 de junho deste ano afirma que, desde janeiro, quando Pepe Lobo tomou posse, pelo menos 310 casos de violações de direitos humanos foram denunciados, 21 pessoas foram assassinadas e 53 foram detidas ilegalmente. Os que não sofrem violências físicas, são processados judicialmente.

Por isso mesmo, a saída de cena oficial dos golpistas em janeiro – quando Pepe Lobo tomou posse – revelou-se uma hábil jogada. Além de se livrarem da classificação de “ditadores”, foi uma maneira de “lavar” o golpe e tentar ganhar o reconhecimento internacional para o novo regime. Afinal, a América Latina mudou. Ditaduras e golpes de Estado não são mais tolerados: a democracia está na ordem do dia no continente, mesmo que ela seja apenas formal, não importando se a sociedade como um todo é, de fato, democrática.

Mudou mesmo?

Mas, infelizmente, as coisas não mudaram tanto assim. É verdade que o golpe de junho de 2009 deixou evidente que os EUA já não exercem total controle sobre as ações dos demais países latino-americanos, como ficou explícito na expulsão de Honduras da OEA, na condenação quase unânime ao quartelaço e na própria postura vacilante e contraditória do governo estadunidense em relação ao ocorrido.

No entanto, a ação da oligarquia hondurenha mostrou também que, mesmo sob essa nova realidade vivida pelo continente, não se foi possível reverter uma situação, na teoria, fácil de ser revertida, dada a pouca margem de manobra que tinham os golpistas, no comando de um país de pequenas dimensões e influência geopolítica como Honduras.

Isso se explica, obviamente, pelo apoio dos EUA ao governo de fato. Se, por um lado, a diplomacia estadunidense anunciou a aplicação de tímidas sanções, como o bloqueio de passaportes e contas de alguns golpistas, por outro, insistiu em tratar (especialmente, Hillary Clinton) o assunto como um conflito entre duas partes equivalentes em força e em razão, quando, na verdade, o lado a se tomar era um só.

O golpe deixou claro, também, que a comovente retórica de Obama era nada mais que pura farsa – seja intencional, seja porque ele se vê de mãos atadas, não importa. Dois meses depois de o presidente estadunidense proclamar “novas relações com a América Latina” em Trinidad e Tobago, Manuel Zelaya era deposto com o apoio decisivo da embaixada dos EUA em Honduras e de agências estadunidenses de “apoio à democracia”, como USAID e NED.

Contra-ofensiva reacionária

Numa perspectiva mais pessimista, mas a ser considerada, a consolidação do golpe em Honduras pode significar, ainda, o esboço de uma espécie de contra-ofensiva da direita institucional no continente latino-americano. (Digo “institucional” porque a elite econômica mais “moderna”, como as transnacionais e os bancos, não chegaram a perder muito de seu poder, inclusive sob governos mais radicais, como os de Bolívia e Venezuela que, apesar dos inegáveis avanços, ainda não conseguiram promover grandes rupturas no campo da economia).

Ela já recuperou terreno no Chile, com a vitória eleitoral de Sebastián Piñera sobre a candidatura da Concertação (aqui, não cabe entrar no mérito de quão à esquerda são ou eram alguns governos, como, por exemplo, o de Michelle Bachelet). Na Colômbia, um dos principais responsáveis pela criminosa política de segurança do governo Uribe, o ex-ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, foi eleito com folga em 20 de junho deste ano. Na Venezuela, Hugo Chávez e seu PSUV correm o risco de perder várias cadeiras na Assembleia Nacional, nas eleições legislativas de setembro (o que já aconteceu com o casal Kirchner, em junho do ano passado). E, no Paraguai, os avanços prometidos por Fernando Lugo continuam a ser barrados no parlamento, totalmente dominado pela oligarquia tradicional.

Por isso, o peso do Brasil na conjuntura latino-americana continuará sendo muito importante. Pois, se, por um lado, a política externa do governo Lula trabalha arduamente para abrir mercados nos países da América Latina para a vergonhosa atuação das transnacionais brasileiras (desenvolver e fortalecer um capitalismo brasileiro com inserção mundial parece ser um dos projetos centrais do governo do PT), por outro, a diplomacia do Itamaraty tem sido fundamental para conter determinadas tentativas de desestabilização de governos progressistas na região.

Igor Ojeda é editor de internacional do semanário Brasil de Fato. Entre outubro de 2007 e outubro de 2008, foi correspondente na Bolívia pela mesma publicação.

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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

8 de novembro - 211 anos da Conjuração Baiana

Bandeira da Conjuração Baiana. As cores da bandeira do movimento (Azul, branca e vermelha) são até hoje as cores da Bahia.


Manuel Faustino, presente! -Lucas Dantas, presente! -Luis Gonzaga, presente! -Joao de Deus, presente!

"Animai-vos Povo baiense que está para chegar o tempo feliz da nossa Liberdade: o tempo em que todos seremos irmãos: o tempo em que todos seremos iguais." (in: RUY, Afonso. A primeira revolução social do Brasil. p. 68.)

Durante a fase de repressão, centenas de pessoas foram denunciadas - militares, clérigos, funcionários públicos e pessoas de todas as classes sociais. Destas, quarenta e nove foram detidas, a maioria tendo procurado abjurar a sua participação, buscando demonstrar inocência.
Finalmente, no dia 8 de Novembro de 1799, procedeu-se à execução dos condenados à pena capital, por enforcamento, na seguinte ordem:

1. soldado Lucas Dantas do Amorim Torres;

2. aprendiz de alfaiate Manuel Faustino dos Santos Lira;

3. soldado Luís Gonzaga das Virgens; e

4. mestre alfaiate João de Deus Nascimento.

O quinto condenado à pena capital, o ourives Luís Pires, fugitivo, jamais foi localizado. Pela sentença, todos tiveram os seus nomes e memórias "malditos" até à 3a. geração. Os despojos dos executados foram expostos da seguinte forma:

• a cabeça de Lucas Dantas ficou espetada no Campo do Dique do Desterro;

• a de Manuel Faustino, no Cruzeiro de São Francisco;

• a de João de Deus, na Rua Direita do Palácio (atual Rua Chile); e

• a cabeça e as mãos de Luís Gonzaga ficaram pregadas na forca, levantada na Praça da Piedade, então a principal da cidade.

Esses despojos ficaram à vista, para exemplo da população, por cinco dias, tendo sido recolhidos no dia 13 pela Santa Casa de Misericórdia (instituição responsável pelos cemitérios à época do Brasil Colônia), que os fez sepultar em local desconhecido.
Os demais envolvidos foram condenados à pena de degredo, agravada com a determinação de ser sofrido na costa Ocidental da África, fora dos domínios de Portugal, o que equivalia à morte. Foram eles:

• José de Freitas Sacota e Romão Pinheiro, deixados em Acará, sob domínio holandês;

• Manuel de Santana em Aquito, então domínio dinamarquês;

• Inácio da Silva Pimentel, no Castelo da Mina, sob domínio holandês;

• Luís de França Pires em Cabo Corso;

• José Félix da Costa em Fortaleza do Moura;

• José do Sacramento em Comenda, sob domínio inglês.

Cada um recebeu publicamente 500 chibatadas no Pelourinho, à época no Terreiro de Jesus, e foram depois conduzidos para assistir a execução dos sentenciados à pena capital. A estes degredados acrescentavam-se os nomes de:

• Pedro Leão de Aguilar Pantoja degredado no Presídio de Benguela por 10 anos;

• o escravo Cosme Damião Pereira Bastos, degredado por cinco anos em Angola;

• os escravos Inácio Pires e Manuel José de Vera Cruz, condenados a 500 chibatadas, ficando seus senhores obrigados a vendê-los para fora da Capitania da Bahia;

• José Raimundo Barata de Almeida, degredado para a ilha de Fernando de Noronha;

• os tenentes Hermógenes Francisco de Aguilar Pantoja e José Gomes de Oliveira Borges, permaneceram detidos por seis meses em Salvador;

• Cipriano Barata, detido a 19 de Setembro de 1798, solto em Janeiro de 1800.