sábado, 30 de janeiro de 2010

Agradecimento ao Jornal Nova Fronteira

Barreiras, 23 de janeiro de 2010.

Caríssima equipe do Jornal Nova Fronteira

Saudações cordiais!



Parabenizo e agradeço por meio deste pelo gesto nobre de publicação da carta/e-mail que enviei ao jornal solicitando publicação. Tal gesto demonstrou uma grandeza de espírito, consciência e maturidade política. Ainda, demonstrou possuir uma postura diferente de outros meios de comunicação social, ou profissionais da área visivelmente com uma postura de comentários aligeirados, reducionistas, vazio, estéril e prenhe de um sensacionalismo vulgar e barato, tudo enfim, em nome da audiência, ibope e/ou notoriedade pública. Tal como o apresentador do Jornal da Band representante da dita elite intelectual de direita ultra conservadora e reacionária Boris Casoy que pousa de defensor da democracia e dos direitos humanos, mas que nos bastidores tem uma prática e postura de repugnância aos setores e as classes menos favorecidas. Como atesta o comentário feito por ele a um gari que desejava Feliz Ano Novo na televisão. Como ele mesmo diz: Isso é uma vergonha!!!



Nada mais havendo a tratar despeço-me com um abraço todo cordial em toda a equipe do Jornal Nova Fronteira e renovando os agradecimentos pelos preciosos impulsos dados no atendimento de minha solicitação.



Claudio Roberto de Jesus.


Programa supremo da existência humana:

Estou na TV, logo existo!


Os “moralistas” de plantão, ou melhor, os falsos moralistas estão no limiar de criarem o seu sindicato. O motivo são os ridículos programas, que ultimamente vêm sendo veiculados pelas emissoras de TV do Brasil, sobretudo os programas de auditório e de realite show. Afinal de contas a televisão foi criada para um fim mais nobre!
A pioneira nos programas de realite show no Brasil foi o SBT, com o programa Casa dos Artistas, protagonizado por artistas famosos. Esse programa foi copiado de outro programa internacional, para variar. E, como na TV nada se cria, tudo se copia, a idiotizadora / idiotizante Rede Bobo lançou o Big Brother Brasil, que se encontra na décima edição. Ah, agora tem também a tal da Fazenda na Rede Recópia.
Esses programas Casa dos Artistas, Big Brother Brasil e Fazenda têm provocado reações diversas no Brasil. Por um lado, as pessoas de poder aquisitivo maior e que ao menos teoricamente possui um ensino melhor, ao invés de discutirem quem vai ganhar esses programas, como fazem as pessoas de baixo poder aquisitivo e que ao menos teoricamente, não possui um grau muito elevado e qualificado de instrução, discutem a contribuição que esses programas trazem para as pessoas, ou os malefícios dos mesmos. Destaca-se entre aqueles que questionam esses programas alguns críticos ou falsos moralistas.
Antes de prosseguir com o texto, é de suma importância dissipar toda e qualquer sombra de dúvida a respeito do que foi falado acima. Não se pode generalizar que as pessoas que teoricamente possui um ensino melhor, sejam totalmente contra esses programas, até mesmo porque a maioria dos participantes desses programas geralmente são da classe média alta. Até mesmo porque a pessoa que escreve este texto não é da classe média alta, pelo contrário faz parte daqueles que possuem um baixo poder aquisitivo. Sendo assim, está desfeito qualquer eventual mal entendido, baixo poder aquisitivo, não é sinônimo de pouca e desqualificada instrução, e, nem poder aquisitivo maior é sinônimo de elevada e qualificada instrução.
Todavia, nós temos que convir que são as pessoas de baixo poder aquisitivo quem garante o sucesso e lucro desses programas. Preste atenção nas chamadas que Rede Boba de Televisão faz, sobre o BBB, nas pessoas que elas entrevistam!
Como nunca se falou tanto em moral, ética, censura, informação, privacidade, cultura, etc,..., como nos dias de hoje.
Programas como Casa dos Artistas, Big Brother Brasil e Fazenda, não estimulam o pensamento, não informam, nem sequer representam a realidade. Mas, não só de pensamentos, informações e realidade, vive o homem. Estes programas, estão apenas elucidando e manifestando mais claramente esse pensamento.
Pena, que só agora isso está sendo percebido!
Pena, que o alvo das críticas acerba e maldosa, dos falsos moralistas, sejam as pessoas erradas – os empresários e donos das emissoras enquanto que o alvo de suas censuras deveriam ser os participantes (protagonistas, colaboradores,...) desses programas, os telespectadores (lenientes e morosos) do mesmo, e, eles próprios, os críticos e falsos moralistas.
E por falar em alvos de críticas e censuras, uma pergunta tomou conta de muitos: “O que leva um cidadão a não preservar sua intimidade?” Ah! sim, é a busca desenfreada de aparecer na TV, de conquistar a fama, é a busca de status. É a copiação da vida medíocre dos norte-americanos, numa busca frenética e desnecessária de popularidade.
Mas, foi rebaixando-se que muitos artistas, atores e outros famosos, chegaram onde estão hoje. Como exemplo, lembremos de Carla Perez, Dercy Gonçalves, Xuxa,... Eis a formula. Mas, não é em qualquer lugar, que se deve e pode tentar a “promoção social”. Tem que ser no melhor e mais eficiente local ou lugar para tanto. E, qual local melhor do que a TV? Ah!estar na TV e logo existir! Mesmo que seja a preço de banana, a troco de nada, sem ter nada a dizer, nenhuma habilidade a demonstrar,... Eis o programa supremo da existência humana: “Estou na TV, logo existo!”
Ainda sobre o que deveria ser os alvos das criticas e censuras dos falsos moralistas. O que será que garante tanto sucesso a esses programas? Não será, porventura, os telespectadores, e, coisa estranha, os falsos moralistas também aqui, estão incluídos.
São eles e somente eles, que estão lá, defronte à TV, de “antenas ligadas”, fielmente assistindo e torcendo para verem um cena de sedução e de triângulos amorosos.
Como se fosse a primeira e a derradeira vez, que aquilo acontecia. Até parece que não estão acostumados a verem, exaltarem, ovacionarem, etc,..., os que assim o fazem nas novelas, filmes pornográficos, com as mulheres que pousam nuas para as revistas masculinas,...
Por sua vez, os telespectadores, com certeza dariam tudo para estar na TV, e conseguir o seu minuto de fama. É com esse intento, que eles assistem esperançosos estes programas.
Será que há só perdas em tudo isso? Não. “Todos” ganham, como toda “sociedade capitalista” que se preze, há os que ganham mais e os que ganham menos, ou nada.
Os telespectadores, - isentando a classe dos falsos moralistas -, ganham o prazer, - por muitos considerado indevido -, e, o que é melhor, atualizam os eu “almanaque da vida alheia”. Sabendo quem está namorando, quem fez sexo com quem, etc,... Mas, vale salientar que isso vale mais no programa Casa dos Artistas e Fazenda, protagonizado, por pessoas que tiveram que fazer o que os participantes do Big Brother Brasil estão fazendo.
Disputa acirrada mesmo, está entre os participantes desse programas e os falsos moralistas. De um lado, os participantes, fazendo aquele papelão, que se vê nas câmeras, assumindo e reproduzindo fielmente seu mau caráter e sua falta de personalidade. Nisso os programas têm êxito, mostrando quem realmente são as pessoas. De outro lado os falsos moralistas, com seus artigos “farisaicos”, almejando serem convidados por alguma emissora de TV, a dar a sua opinião sobre o programa, e assim, estar na TV, e logo existir.
Indubitavelmente, quem mais ganha são as emissoras, com audiência, dinheiro, etc,...
Há, também, os que tiram casquinha, ou ficam com as sobras, são os colunistas (fofoqueiros), revistas do mesmo estilo, etc,...

Cláudio Roberto de Jesus.
O Jornal Nova Fronteira em sua edição nº 373 publicou no Editorial um texto initulado Dia da Consciência Negra, como de acordo a interpretação que fiz do mesmo encontrei algumas análises deturpadas e equivocadas acerca do Dia da Consciência Negra e da história do Negro no Brasil enviei o e-mail abaixo à redação do Nova Fronteira. Na carta mencionada fiz a solicitação da publicação da mesma no Jornal Nova Fronteira (que foi publicada) e de outros artigos/textos que havia enviado por e-mail a equipe do Jornal, que por motivos alheios à vontade do Jornal Nova Fronteira não foi publicado ou não pôde ser.
Barreiras, 10 de dezembro de 2009.

Caríssima equipe do Jornal Nova Fronteira

Saudações cordiais!

O motivo deste deve-se ao editorial da edição 373 do Jornal Nova Fronteira, intitulado Dia da Consciência Negra. No supracitado algumas análises e informações inexatas e deturpadas, análises e concepções reproduzidas dos livros de histórias/livros didáticos de matriz eurocêntrica, produzidos pela elite dita intelectual em sua grande maioria branca causaram em mim sentimentos negativos.
Na condição de negro afro-descendente, de lutador/militante social (movimento estudantil e partido político), de educador, acadêmico e de ter participado por duas vezes da organização da Semana da Consciência Negra aqui em Barreiras, inclusive neste ano, sinto-me na obrigação de prestar algumas explicações com o objetivo de dissipar toda e qualquer deturpação consciente ou inconsciente, voluntária ou involuntária, às vezes até mesmo despercebida.
Pois bem, o texto afirma que aqui em nossa cidade o Dia da Consciência Negra passou batido sem nenhum evento, programação ou comemoração. Ainda, afirma que segundo o que a equipe do Nova Fronteira apuraram no Estado da Bahia foi assim. Ora, é sabido de todas (os) nós que o presidente Lula aqui na Bahia, mais precisamente em Salvador, anunciou de antemão que no próximo ano o dia 20 de novembro será feriado nacional. O anúncio foi feito quando o mesmo em companhia de sua futura candidata a presidente da república e comitiva em plena campanha eleitoral ilegal participava de um dos eventos de comemoração ao Dia da Consciência Negra em Salvador. Este fato foi noticiado por “toda” imprensa escrita e falada nacionalmente. Ainda, a Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade distribuiu um encarte intitulado Novembro Negro – Mês da Consciência Negra com a programação de eventos, programação ou comemoração em várias cidades da Bahia, não somente durante a semana ou Dia da Consciência Negra, mas durante todo o mês de Novembro.
Conforme já revelei fiz parte por duas vezes da Comissão Organizadora da Semana da Consciência Negra promovida pelo Núcleo de Ética e Cidadania – NUEC da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. O evento se encontra em sua quinta edição e este ano foi realizado com o tema: Brasil, Africanidades e Resistências pelo Grupo de Pesquisa em Cultura, Resistência, Etnia e Linguagem – CREL do qual atualmente eu tenho a honra de pertencer. Informo também que ainda este ano foi realizado o primeiro Encontro de História do Oeste Baiano: História e Literatura Afro-brasileira nos dias 05 e 06 de junho promovido pelo Colegiado de letras da UNEB. Ainda, tenho noticias que no Povoado do Mucambo, que inclusive se salvo me engano, é considerado remanescente quilombola e que possui um grande contingente de negros em sua população, também houve uma programação com eventos de comemoração ao Dia da Consciência Negra. Surpreendentemente tais eventos não têm obtido o destaque merecido e necessário nos “nossos’ meios de comunicação social.
Aproveito o ensejo para abrir um pequeno parênteses. Como se pode ver a UNEB e o povo negro tem recebido o mesmo tratamento discriminatório, de esquecimento e indiferença. Essa augusta Instituição de Ensino Superior, a maior e melhor do norte-nordeste, que por mais de vinte anos foi a única Instituição de Ensino Superior pública a contribuir direta e efetivamente com o desenvolvimento desta cidade e da região oeste, a despeito de manifestar nitidamente a sua atualidade, vitalidade e o seu vigor ao estabelecer de maneira pioneira o diálogo e a parceria com ou em favor dos setores historicamente renegados, tem recebido o mesmo tratamento de esquecimentos e friezas do nosso sofrido, valente e forte povo negro.
O pioneirismo sem sombra de dúvidas tem sido a vocação da UNEB. Enquanto algumas Instituições de Ensino Superior públicas aqui mesmo na Bahia, por motivos sei lá quais permaneceram “deitada eternamente em berço esplêndido” a UNEB pioneiramente com sua missão inaugural de democratizar o acesso ao Ensino Superior desbravou as longínquas terras da Bahia realizando o sonho de milhares de possuírem um diploma superior. Aqui em barreiras, a UNEB sempre tem participado e colaborado de forma direta, efetiva e eficaz em todos os eventos de relevância social, seja contribuindo com o seu mais rico, competente, eficaz e qualificado quadro profissional ou com sua limitada estrutura. Porém, nunca se furtando de sua missão/responsabilidade social.
Todavia, tanto essa contribuição, participação e/ou a realização de seus eventos não tem recebido o reconhecimento, a divulgação e o destaque necessários e merecidos por parte da sociedade e, sobretudo dos meios de comunicação social, principalmente os que detentores de uma concessão pública, portanto devendo atender aos interesses públicos e até mesmo por aqueles que não tem ou não precisam de concessão pública, mas que se propõe e se proclamam como meios de comunicação a serviço da sociedade.
Não se pode justificar tais comportamentos por parte da imprensa em virtude da não divulgação ou convite de tais eventos e ou participação. Ora, é nítida a opção pública dos meios de comunicação social pela divulgação, destaque e cobertura de eventos que nada tem que ver com a maioria da população, sobretudo os eventos do agronegócio que ocupam páginas e mais páginas dos jornais. Por que será? Sendo que este em nada tem contribuído ou melhorado a vida do povo, muito pelo contrário todas (os) nós conhecemos muito bem as nefastas conseqüências para as cidades e para a natureza deste predatório e não denunciado agronegócio. Uma outra opção/política adotada pelos meios de comunicação é apresentar alguns fatos delituosos cometidos em sua grande maioria por pessoas pobres, indefesas e negras. E tentar inculcar na mente do povo que a violência e a ladroagem se resolvem com uma boa porrada e cadeia. Por outro lado, se calam diante de uma espécie de um “projeto político em execução de extermínio sumário do povo pobre, sobretudo do povo negro”. Todos os dias pelo menos um jovem negro é executado em nossas favelas e ninguém diz nada!
Um fato da maior gravidade foi a interpretação que fiz do texto, que deixa transparecer e favorece a uma reprodução de algumas análises e concepções propositadamente deturpadas nos nossos livros de história ou didáticos. A idéia de que a população negra aceitou e ainda aceita hoje passiva, dócil e resignadamente sua condição subalterna, o que se caracteriza e se constitui num grande equívoco histórico.
Passando em revista a história do negro no Brasil, descobriremos que esta não significou passividade e apatia, mas sim, luta e organização. A esse processo de luta e organização negra existente desde a época da escravidão, chamamos de resistência negra. Várias foram as formas de resistência negra durante o regime escravocrata. Insubmissão às regras do trabalho nas roças ou plantações onde trabalhavam – os movimentos espontâneos de ocupação das terras disponíveis, revoltas (Revolta dos Malês, Revolta dos Alfaiates ou dos Búzios, Guerra da Balaiada), fugas, abandono das fazendas pelos escravos, assassinatos de senhores das fazendas pelos escravos, assassinatos de senhores e de suas famílias, abortos, quilombos, organizações religiosas, entre outras, foram algumas estratégias utilizadas pelos negros na sua luta contra a escravidão. Outro equívoco que aparece no texto é a idéia distorcida de quilombo. Ora, os negros de Palmares – mais de trinta mil - estabeleceram o primeiro Estado livre nas terras da América, que ainda se encontrava sob os domínios dos portugueses. Os quilombos foram um Estado africano pela forma como foi pensado e organizado, com uma organização política, militar, sociocultural e econômica. Alguns historiadores consideram o Quilombo de Palmares, por exemplo, como o primeiro estado socialista/comunista, bem antes de Kal Marx. Pois, em Palmares, aterra era de propriedade coletiva e os trabalhadores tinham direito a um aparte do que produziam. O Quilombo de Palmares durou um século. Um século de coragem e luta contra a escravidão. Nesse longo período enfrentou tempos de paz e guerra.
Diante de tantas estratégias, lutas, organização e resistência contra a escravidão uma tal Senhora Princesa num ato de astúcia com um interesse histórico-social e outro econômico-politico decretou a “extinção” da escravidão no Brasil. O primeiro interesse visava negar as muitas e variadas formas de luta e resistência negra e apresentar a “libertação” dos negros como um ato de bondade da Branca Senhora Princesa. E o segundo interesse visava atender aos interesses do incipiente sistema capitalista que tem como alicerce: a detenção dos meios de produção; o lucro – diga-se de passagem super lucro; e o consumo. Ora, para que haja lucro é necessário consumo. Sendo assim, como haverá consumo no sistema de mão-de-obra escrava? Era necessário consumidores, portanto libertemos os escravos.
Em suma o fato é que o decreto da branca Senhora Princesa apenas se antecipou – e o fez para como popularmente é dito “sair bem na foto” - ao processo que viria numa questão de mais ou menos tempo em virtude da luta e resistência do povo negro. Ora, em 1830 cinqüenta e oito anos antes da “extinção” da escravidão, os negros constituíam 63% da população total, os brancos 16% e os mestiços 21%. Com uma população superior e com focos de resistência estourando aqui e acolá em todo o Brasil a “libertação” das/dos negras (os) por elas/eles mesmas (os) era certa.
Não se pode perder de vista que a resistência negra após a abolição continuou, porém com outros contornos como por exemplo: Revolta da Chibata, Frente Negra Brasileira, teatro Experimental do negro –TEM e o Movimento das Mulheres Negras. Esse processo de luta e resistência brava persiste ainda hoje com a Resistência Cultural: religiosa (candomblé e a umbanda) os congados, o corpo como expressão de luta, arte e resistência (a capoeira) a dança, as roupas, o cabelo, o rap, o funk, Hip-Hop, a culinária, o próprio Dia da Consciência Negra e as políticas de Ação Afirmativas apesar de toda limitação e vulnerabilidade.
De fato o Dia da Consciência Negra é dedicado à reflexão sobre a inserção da/do negra (o) na sociedade brasileira. Mas, sonhamos com o dia em que não mais precisaremos de um Dia da Consciência Negra. Todavia, os fatos, os esquecimentos, friezas e a falta de apoio ou patrocínio nos eventos com tais temáticas demonstram o quão longe estamos desse dia.
Com o sentimento de dever cumprido ao prestar tais explicações e informações, solicito a publicação deste, bem como dos outros textos que se seguem e despeço-me com um abraço todo cordial em toda a equipe do Jornal Nova Fronteira.

Claudio Roberto de Jesus.

EM MAIO (Oswaldo de Camargo)

Já não há mais razão para chamar as lembranças e mostrá-las ao povo em maio.Em maio sopram ventos desatados por mãos de mando, turvam o sentido do que sonhamos.Em maio uma tal senhora Liberdade se alvoroça, e desce às praças das bocas entreabertas e começa:"Outrora, nas senzalas, os senhores..."Mas a Liberdade que desce à praça nos meados de maio, pedindo rumores, É uma senhora esquálida, seca, desvalida e nada sabe de nossa vida. A Liberdade que sei é uma menina sem jeito,vem montada no ombro dos molequese se esconde no peito, em fogo, dos que jamais irão à praça. Na praça estão os fracos, os velhos, os decadentes e seu grito: "Oh bendita Liberdade!"E ela sorri e se orgulha, de verdade, do muito que tem feito!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

SE QUISERES CULTIVAR A PAZ, PRESERVA A CRIAÇÃO


1. Por ocasião do início do Ano Novo, desejo expressar os mais ardentes votos de paz a todas as comunidades cristãs, aos responsáveis das nações, aos homens e mulheres de boa vontade do mundo inteiro. Para este XLIII Dia Mundial da Paz, escolhi o tema: Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação. O respeito pela criação reveste-se de grande importância, designadamente porque «a criação é o princípio e o fundamento de todas as obras de Deus»[1] e a sua salvaguarda torna-se hoje essencial para a convivência pacífica da humanidade. Com efeito, se são numerosos os perigos que ameaçam a paz e o autêntico desenvolvimento humano integral, devido à desumanidade do homem para com o seu semelhante – guerras, conflitos internacionais e regionais, atos terroristas e violações dos direitos humanos –, não são menos preocupantes os perigos que derivam do desleixo, se não mesmo do abuso, em relação à terra e aos bens naturais que Deus nos concedeu. Por isso, é indispensável que a humanidade renove e reforce «aquela aliança entre ser humano e ambiente que deve ser espelho do amor criador de Deus, de Quem provimos e para Quem estamos a caminho».[2]
2. Na encíclica Caritas in veritate, pus em realce que o desenvolvimento humano integral está intimamente ligado com os deveres que nascem da relação do homem com o ambiente natural, considerado como uma dádiva de Deus para todos, cuja utilização comporta uma responsabilidade comum para com a humanidade inteira, especialmente os pobres e as gerações futuras. Assinalei também que corre o risco de atenuar-se, nas consciências, a noção da responsabilidade, quando a natureza e, sobretudo o ser humano são considerados simplesmente como fruto do acaso ou do determinismo evolutivo. [3] Pelo contrário, conceber a criação como dádiva de Deus à humanidade ajuda-nos a compreender a vocação e o valor do homem; na realidade, cheios de admiração, podemos proclamar com o salmista: «Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que lá colocastes, que é o homem para que Vos lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes?» (Sl 8, 4-5). Contemplar a beleza da criação é um estímulo para reconhecer o amor do Criador; aquele Amor que «move o sol e as outras estrelas».[4]
3. Há vinte anos, ao dedicar a Mensagem do Dia Mundial da Paz ao tema Paz com Deus criador, paz com toda a criação, o Papa João Paulo II chamava a atenção para a relação que nós, enquanto criaturas de Deus, temos com o universo que nos circunda. «Observa-se nos nossos dias – escrevia ele – uma consciência crescente de que a paz mundial está ameaçada (…) também pela falta do respeito devido à natureza». E acrescentava que esta consciência ecológica «não deve ser reprimida, mas antes favorecida, de maneira que se desenvolva e vá amadurecendo até encontrar expressão adequada em programas e iniciativas concretas». [5] Já outros meus predecessores se referiram à relação existente entre o homem e o ambiente; por exemplo, em 1971, por ocasião do octogésimo aniversário da encíclica Rerum novarum de Leão XIII, Paulo VI houve por bem sublinhar que, «por motivo de uma exploração inconsiderada da natureza, [o homem] começa a correr o risco de a destruir e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação». E acrescentou que, deste modo, «não só o ambiente material se torna uma ameaça permanente – poluições e lixo, novas doenças, poder destruidor absoluto – mas é o próprio contexto humano que o homem não consegue dominar, criando assim para o dia de amanhã um ambiente global que se lhe poderá tornar insuportável. Problema social de grande envergadura, este, que diz respeito à inteira família humana».[6]
4. Embora evitando de intervir sobre soluções técnicas específicas, a Igreja, «perita em humanidade», tem a peito chamar vigorosamente a atenção para a relação entre o Criador, o ser humano e a criação. Em 1990, João Paulo II falava de «crise ecológica» e, realçando o caráter prevalecentemente ético de que a mesma se revestia, indicava «a urgente necessidade moral de uma nova solidariedade».[7] Hoje, com o proliferar de manifestações duma crise que seria irresponsável não tomar em séria consideração, tal apelo aparece ainda mais premente. Pode-se porventura ficar indiferente perante as problemáticas que derivam de fenômenos como as alterações climáticas, a desertificação, o deterioramento e a perda de produtividade de vastas áreas agrícolas, a poluição dos rios e dos lençóis de água, a perda da biodiversidade, o aumento de calamidades naturais, o desflorestamento das áreas equatoriais e tropicais? Como descurar o fenômeno crescente dos chamados «prófugos ambientais», ou seja, pessoas que, por causa da degradação do ambiente onde vivem, se vêem obrigadas a abandoná-lo – deixando lá muitas vezes também os seus bens – tendo de enfrentar os perigos e as incógnitas de uma deslocação forçada? Como não reagir perante os conflitos, já em ato ou potenciais, relacionados com o acesso aos recursos naturais? Trata-se de um conjunto de questões que têm um impacto profundo no exercício dos direitos humanos, como, por exemplo, o direito à vida, à alimentação, à saúde, ao desenvolvimento.
5. Entretanto tenha-se na devida conta que não se pode avaliar a crise ecológica prescindindo das questões relacionadas com ela, nomeadamente o próprio conceito de desenvolvimento e a visão do homem e das suas relações com os seus semelhantes e com a criação. Por isso, é decisão sensata realizar uma revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento e também refletir sobre o sentido da economia e dos seus objetivos, para corrigir as suas disfunções e deturpações. Exige-o o estado de saúde ecológica da terra; reclama-o também e sobretudo a crise cultural e moral do homem, cujos sintomas há muito tempo que se manifestam por toda a parte.[8] A humanidade tem necessidade de uma profunda renovação cultural; precisa de redescobrir aqueles valores que constituem o alicerce firme sobre o qual se pode construir um futuro melhor para todos. As situações de crise que está atravessando, de caráter econômico, alimentar, ambiental ou social, no fundo são também crises morais e estão todas interligadas. Elas obrigam a projetar de novo a estrada comum dos homens. Impõem, de maneira particular, um modo de viver marcado pela sobriedade e solidariedade, com novas regras e formas de compromisso, apostando com confiança e coragem nas experiências positivas realizadas e rejeitando decididamente as negativas. É o único modo de fazer com que a crise atual se torne uma ocasião para discernimento e nova projetação.
6. Porventura não é verdade que, na origem daquela que em sentido cósmico chamamos «natureza», há «um desígnio de amor e de verdade»? O mundo «não é fruto duma qualquer necessidade, dum destino cego ou do acaso, (…) procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas participantes do seu Ser, da sua sabedoria e da sua bondade».[9] Nas suas páginas iniciais, o livro do Gênesis introduz-nos no projeto sapiente do cosmos, fruto do pensamento de Deus, que, no vértice, colocou o homem e a mulher, criados à imagem e semelhança do Criador, para «encher e dominar a terra» como «administradores» em nome do próprio Deus (cf. Gn 1, 28). A harmonia descrita na Sagrada Escritura entre o Criador, a humanidade e a criação foi quebrada pelo pecado de Adão e Eva, do homem e da mulher, que pretenderam ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-se como suas criaturas. Em conseqüência, ficou deturpada também a tarefa de «dominar» a terra, de a «cultivar e guardar» e gerou-se um conflito entre eles e o resto da criação (cf. Gn 3, 17-19). O ser humano deixou-se dominar pelo egoísmo, perdendo o sentido do mandato de Deus, e, no relacionamento com a criação, comportou-se como explorador pretendendo exercer um domínio absoluto sobre ela. Mas o verdadeiro significado do mandamento primordial de Deus, bem evidenciado no livro do Gênesis, não consistia numa simples concessão de autoridade, mas antes num apelo à responsabilidade. Aliás, a sabedoria dos antigos reconhecia que a natureza está à nossa disposição, mas não como «um monte de lixo espalhado ao acaso»,[10] enquanto a Revelação bíblica nos fez compreender que a natureza é dom do Criador, o qual lhe traçou os ordenamentos intrínsecos a fim de que o homem pudesse deduzir deles as devidas orientações para a «cultivar e guardar» (cf. Gn 2, 15).[11] Tudo o que existe pertence a Deus, que o confiou aos homens, mas não à sua arbitrária disposição. E quando o homem, em vez de desempenhar a sua função de colaborador de Deus, se coloca no lugar de Deus, acaba por provocar a rebelião da natureza, «mais tiranizada que governada por ele».[12] O homem tem, portanto, o dever de exercer um governo responsável da criação, preservando-a e cultivando-a.[13]
7. Infelizmente temos de constatar que um grande número de pessoas, em vários países e regiões da terra, experimenta dificuldades cada vez maiores, porque muitos se descuidam ou se recusam a exercer sobre o ambiente um governo responsável. O Concílio Ecumênico Vaticano II lembrou que «Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos».[14] Por isso, a herança da criação pertence à humanidade inteira. Entretanto o ritmo atual de exploração põe seriamente em perigo a disponibilidade de alguns recursos naturais não só para a geração atual, mas sobretudo para as gerações futuras.[15] Ora não é difícil constatar como a degradação ambiental é muitas vezes o resultado da falta de projetos políticos clarividentes ou da persecução de míopes interesses econômicos, que se transformam, infelizmente, numa séria ameaça para a criação. Para contrastar tal fenômeno, na certeza de que «cada decisão econômica tem conseqüências de caráter moral»,[16] é necessário também que a atividade econômica seja mais respeitadora do ambiente. Quando se lança mão dos recursos naturais, é preciso preocupar-se com a sua preservação prevendo também os seus custos em termos ambientais e sociais, que se devem contabilizar como uma parcela essencial da atividade econômica. Compete à comunidade internacional e aos governos nacionais dar os justos sinais para contrastar de modo eficaz, no uso do ambiente, as modalidades que resultem danosas para o mesmo. Para proteger o ambiente e tutelar os recursos e o clima é preciso, por um lado, agir no respeito de normas bem definidas mesmo do ponto de vista jurídico e econômico e, por outro, ter em conta a solidariedade devida a quantos habitam nas regiões mais pobres da terra e às gerações futuras.
8. Na realidade, é urgente a obtenção de uma leal solidariedade entre as gerações. Os custos resultantes do uso dos recursos ambientais comuns não podem ficar a cargo das gerações futuras. «Herdeiros das gerações passadas e beneficiários do trabalho dos nossos contemporâneos, temos obrigações para com todos, e não podemos desinteressar-nos dos que virão depois de nós aumentar o círculo da família humana. A solidariedade universal é para nós não só um fato e um benefício, mas também um dever. Trata-se de uma responsabilidade que as gerações presentes têm em relação às futuras, uma responsabilidade que pertence também a cada um dos Estados e à comunidade internacional».[17] O uso dos recursos naturais deverá verificar-se em condições tais que as vantagens imediatas não comportem conseqüências negativas para os seres vivos, humanos e não humanos, presentes e vindouros; que a tutela da propriedade privada não dificulte o destino universal dos bens;[18] que a intervenção do homem não comprometa a fecundidade da terra para benefício do dia de hoje e do amanhã. Para além de uma leal solidariedade entre as gerações, há que reafirmar a urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade entre os indivíduos da mesma geração, especialmente nas relações entre os países em vias de desenvolvimento e os países altamente industrializados: «A comunidade internacional tem o imperioso dever de encontrar as vias institucionais para regular a exploração dos recursos não renováveis, com a participação também dos países pobres, de modo a planificar em conjunto o futuro».[19] A crise ecológica manifesta a urgência de uma solidariedade que se projete no espaço e no tempo. Com efeito, é importante reconhecer, entre as causas da crise ecológica atual, a responsabilidade histórica dos países industrializados. Contudo os países menos desenvolvidos e, de modo particular, os países emergentes não estão exonerados da sua própria responsabilidade para com a criação, porque o dever de adotar gradualmente medidas e políticas ambientais eficazes pertence a todos. Isto poder-se-ia realizar mais facilmente se houvesse cálculos menos interesseiros na assistência, na transferência dos conhecimentos e tecnologias menos poluidoras.
9. Um dos nós principais a enfrentar pela comunidade internacional é, sem dúvida, o dos recursos energéticos, delineando estratégias compartilhadas e sustentáveis para satisfazer as necessidades de energia da geração atual e das gerações futuras. Para isso, é preciso que as sociedades tecnologicamente avançadas estejam dispostas a favorecer comportamentos caracterizados pela sobriedade, diminuindo as próprias necessidades de energia e melhorando as condições da sua utilização. Ao mesmo tempo é preciso promover a pesquisa e a aplicação de energias de menor impacto ambiental e a «redistribuição mundial dos recursos energéticos, de modo que os próprios países desprovidos possam ter acesso aos mesmos».[20] Deste modo, a crise ecológica oferece uma oportunidade histórica para elaborar uma resposta coletiva tendente a converter o modelo de desenvolvimento global segundo uma direção mais respeitadora da criação e de um desenvolvimento humano integral, inspirado nos valores próprios da caridade na verdade. Faço votos, portanto, de que se adote um modelo de desenvolvimento fundado na centralidade do ser humano, na promoção e partilha do bem comum, na responsabilidade, na consciência da necessidade de mudar os estilos de vida e na prudência, virtude que indica as ações que se devem realizar hoje na previsão do que poderá suceder amanhã.[21]
10. A fim de guiar a humanidade para uma gestão globalmente sustentável do ambiente e dos recursos da terra, o homem é chamado a concentrar a sua inteligência no campo da pesquisa científica e tecnológica e na aplicação das descobertas que daí derivam. A «nova solidariedade», que João Paulo II propôs na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1990,[22] e a «solidariedade global», a que eu mesmo fiz apelo na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2009,[23] apresentam-se como atitudes essenciais para orientar o compromisso de tutela da criação através de um sistema de gestão dos recursos da terra melhor coordenado a nível internacional, sobretudo no momento em que se vê aparecer, de forma cada vez mais evidente, a forte relação que existe entre a luta contra a degradação ambiental e a promoção do desenvolvimento humano integral. Trata-se de uma dinâmica imprescindível, já que «o desenvolvimento integral do homem não pode realizar-se sem o desenvolvimento solidário da humanidade».[24] Muitas são hoje as oportunidades científicas e os potenciais percursos inovadores, mediante os quais é possível fornecer soluções satisfatórias e respeitadoras da relação entre o homem e o ambiente. Por exemplo, é preciso encorajar as pesquisas que visam identificar as modalidades mais eficazes para explorar a grande potencialidade da energia solar. A mesma atenção se deve prestar à questão, hoje mundial, da água e ao sistema hidrogeológico global, cujo ciclo se reveste de primária importância para a vida na terra, mas está fortemente ameaçado na sua estabilidade pelas alterações climáticas. De igual modo deve-se procurar apropriadas estratégias de desenvolvimento rural centradas nos pequenos cultivadores e nas suas famílias, sendo necessário também elaborar políticas idôneas para a gestão das florestas, o tratamento do lixo, a valorização das sinergias existentes no contraste às alterações climáticas e na luta contra a pobreza. São precisas políticas nacionais ambiciosas, completadas pelo necessário empenho internacional que há de trazer importantes benefícios sobretudo a médio e a longo prazo. Enfim, é necessário sair da lógica de mero consumo para promover formas de produção agrícola e industrial que respeitem a ordem da criação e satisfaçam as necessidades primárias de todos. A questão ecológica não deve ser enfrentada apenas por causa das pavorosas perspectivas que a degradação ambiental esboça no horizonte; o motivo principal há de ser a busca duma autêntica solidariedade de dimensão mundial, inspirada pelos valores da caridade, da justiça e do bem comum. Por outro lado, como já tive ocasião de recordar, a técnica «nunca é simplesmente técnica; mas manifesta o homem e as suas aspirações ao desenvolvimento, exprime a tensão do ânimo humano para uma gradual superação de certos condicionamentos materiais. Assim, a técnica insere-se no mandato de “cultivar e guardar a terra” (cf. Gn 2, 15) que Deus confiou ao homem, e há de ser orientada para reforçar aquela aliança entre ser humano e ambiente em que se deve refletir o amor criador de Deus».[25]
11. É cada vez mais claro que o tema da degradação ambiental põe em questão os comportamentos de cada um de nós, os estilos de vida e os modelos de consumo e de produção hoje dominantes, muitas vezes insustentáveis do ponto de vista social, ambiental e até econômico. Torna-se indispensável uma real mudança de mentalidade que induza a todos a adotarem novos estilos de vida, «nos quais a busca do verdadeiro, do belo e do bom e a comunhão com os outros homens, em ordem ao crescimento comum, sejam os elementos que determinam as opções do consumo, da poupança e do investimento».[26] Deve-se educar cada vez mais para se construir a paz a partir de opções clarividentes a nível pessoal, familiar, comunitário e político. Todos somos responsáveis pela proteção e cuidado da criação. Tal responsabilidade não conhece fronteiras. Segundo o princípio de subsidiariedade, é importante que cada um, no nível que lhe corresponde, se comprometa a trabalhar para que deixem de prevalecer os interesses particulares. Um papel de sensibilização e formação compete de modo particular aos vários sujeitos da sociedade civil e às organizações não-governamentais, empenhados com determinação e generosidade na difusão de uma responsabilidade ecológica, que deveria aparecer cada vez mais ancorada ao respeito pela «ecologia humana». Além disso, é preciso lembrar a responsabilidade dos meios de comunicação social neste âmbito, propondo modelos positivos que sirvam de inspiração. É que ocupar-se do ambiente requer uma visão larga e global do mundo; um esforço comum e responsável a fim de passar de uma lógica centrada sobre o interesse egoísta da nação para uma visão que sempre abrace as necessidades de todos os povos. Não podemos permanecer indiferentes àquilo que sucede ao nosso redor, porque a deterioração de uma parte qualquer do mundo recairia sobre todos. As relações entre pessoas, grupos sociais e Estados, bem como as relações entre homem e ambiente são chamadas a assumir o estilo do respeito e da «caridade na verdade». Neste contexto alargado, é altamente desejável que encontrem eficaz correspondência os esforços da comunidade internacional que visam obter um progressivo desarmamento e um mundo sem armas nucleares, cuja mera presença ameaça a vida da terra e o processo de desenvolvimento integral da humanidade atual e futura.
12. A Igreja tem a sua parte de responsabilidade pela criação e sente que a deve exercer também em âmbito público, para defender a terra, a água e o ar, dádivas feitas por Deus Criador a todos, e antes de tudo para proteger o homem contra o perigo da destruição de si mesmo. Com efeito, a degradação da natureza está intimamente ligada à cultura que molda a convivência humana, pelo que, «quando a “ecologia humana” é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental».[27] Não se pode pedir aos jovens que respeitem o ambiente, se não são ajudados, em família e na sociedade, a respeitar-se a si mesmos: o livro da natureza é único, tanto sobre a vertente do ambiente como sobre a da ética pessoal, familiar e social.[28] Os deveres para com o ambiente derivam dos deveres para com a pessoa considerada em si mesma e no seu relacionamento com os outros. Por isso, de bom grado encorajo a educação para uma responsabilidade ecológica, que, como indiquei na encíclica Caritas in veritate, salvaguarde uma autêntica «ecologia humana» e conseqüentemente afirme, com renovada convicção, a inviolabilidade da vida humana em todas as suas fases e condições, a dignidade da pessoa e a missão insubstituível da família, onde se educa para o amor ao próximo e o respeito da natureza.[29] É preciso preservar o patrimônio humano da sociedade. Este patrimônio de valores tem a sua origem e está inscrito na lei moral natural, que é fundamento do respeito da pessoa humana e da criação.
13. Por fim não se deve esquecer o fato, altamente significativo, de que muitos encontram tranqüilidade e paz, sentem-se renovados e revigorados quando entram em contato direto com a beleza e a harmonia da natureza. Existe aqui uma espécie de reciprocidade: quando cuidamos da criação, constatamos que Deus, através da criação, cuida de nós. Por outro lado, uma visão correta da relação do homem com o ambiente impede de absolutizar a natureza ou de a considerar mais importante do que a pessoa. Se o magistério da Igreja exprime perplexidades acerca de uma concepção do ambiente inspirada no ecocentrismo e no biocentrismo, fá-lo porque tal concepção elimina a diferença ontológica e axiológica entre a pessoa humana e os outros seres vivos. Deste modo, chega-se realmente a eliminar a identidade e a função superior do homem, favorecendo uma visão igualitarista da «dignidade» de todos os seres vivos. Assim se dá entrada a um novo panteísmo com acentos neopagãos que fazem derivar apenas da natureza, entendida em sentido puramente naturalista, a salvação para o homem. Ao contrário, a Igreja convida a colocar a questão de modo equilibrado, no respeito da «gramática» que o Criador inscreveu na sua obra, confiando ao homem o papel de guardião e administrador responsável da criação, papel de que certamente não deve abusar, mas também não pode abdicar. Com efeito, a posição contrária, que considera a técnica e o poder humano como absolutos, acaba por ser um grave atentado não só à natureza, mas também à própria dignidade humana. [30]
14. Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação. A busca da paz por parte de todos os homens de boa vontade será, sem dúvida alguma, facilitada pelo reconhecimento comum da relação indivisível que existe entre Deus, os seres humanos e a criação inteira. Os cristãos, iluminados pela Revelação divina e seguindo a Tradição da Igreja, prestam a sua própria contribuição. Consideram o cosmos e as suas maravilhas à luz da obra criadora do Pai e redentora de Cristo, que, pela sua morte e ressurreição, reconciliou com Deus «todas as criaturas, na terra e nos céus» (Cl 1, 20). Cristo crucificado e ressuscitado concedeu à humanidade o dom do seu Espírito santificador, que guia o caminho da história à espera daquele dia em que, com o regresso glorioso do Senhor, serão inaugurados «novos céus e uma nova terra» (2 Pd 3, 13), onde habitarão a justiça e a paz para sempre. Assim, proteger o ambiente natural para construir um mundo de paz é dever de toda a pessoa. Trata-se de um desafio urgente que se há de enfrentar com renovado e concorde empenho; é uma oportunidade providencial para entregar às novas gerações a perspectiva de um futuro melhor para todos. Disto mesmo estejam cientes os responsáveis das nações e quantos, nos diversos níveis, têm a peito a sorte da humanidade: a salvaguarda da criação e a realização da paz são realidades intimamente ligadas entre si. Por isso, convido todos os crentes a elevarem a Deus, Criador onipotente e Pai misericordioso, a sua oração fervorosa, para que no coração de cada homem e de cada mulher ressoe, seja acolhido e vivido o premente apelo: Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação.
Vaticano, 8 de Dezembro de 2009.


BENEDICTUS PP. XVI

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE BENTO XVI

PARA A CELEBRAÇÃO DO DIA MUNDIAL DA PAZ
1 DE JANEIRO DE 2010
Devido à real criminalização das religiões de matriz africanas e do seu reforço no caso do menino das agulhas, reproduzo abaixo a nota que recebi por e-mail:

NOTA PÚBLICA


NÓS DA REDE RELIGIOSA DE MATRIZ AFRICANA DO SUBÚRBIO (RREMAS[1]), VIMOS A PÚBLICO MANIFESTAR NOSSA INDIGNAÇÃO DIANTE DE MAIS UMA BRUTALIDADE QUE A IGNORÂNCIA POPULAR ATRIBUI A NóS COMO PRÁTICA RELIGIOSA. MAIS AINDA, NOS INDIGNAMOS COM O FATO EM SÍ QUE VITIMOU UM SER PEQUENINO NO TAMANHO, MAS GRANDE EM SUA ESSÊNCIA , INOCENTE E POR TUDO ISSO SAGRADO PARA NóS: UMA CRIANÇA (QUE ATÉ O NOME ESQUECERAM E QUE ESTÁ SENDO CHAMADO “MENINO DAS AGULHAS”); VÍTIMADA PELA INSANIDADE DE PESSOAS VISIVELMENTE DESCOMPENSADAS.

TÃO PASMOS COMO TODA POPULAÇÃO, TEMOS ACOMPANHADO AS REPORTAGENS ESPERANDO PARA ELE UM DESFECHO POSITIVO E QUE OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO ACORRAM ÀS NOSSAS LIDERANÇAS RELIGIOSAS PARA ALGUMA DECLARAÇÃO, COMO É DE PRAXE SE FAZER, EM CIRCUNSTÂNCIAS COMO ESTA , QUANDO UM IMPORTANTE SEGMENTO DA SOCIEDADE É CITADO OU RESPONSABILIZADO.

VIMOS A FALA DO MÉDIUM DIVALDO FRANCO, POR QUEM DEVOTAMOS RESPEITO; CONTUDO, NÃO PODE SER CONSIDERADA COMO BASTANTE A PONTO DE NÃO SE BUSCAR OUVIR OUTROS SEGMENTOS ESPIRITUALISTAS, PRINCIPALMENTE, O CITADO PELO REU-CONFESSO.

PREOCUPADOS COM O CRESCIMENTO DA CALÚNIA, ESTAMOS NOS ANTECIPANDO, PARA QUE NÃO CRESÇA SOBRE NÓS A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA OU PIOR, O ÓDIO RELIGIOSO, JÁ TÃO FORTEMENTE DISCEMINADO POR DETERMINADOS SETORES NEOPENTECOSTAIS, ATRAVÉS DE SUAS TÃO PÚBLICAS E “NOTÓRIAS” ATIVIDADES MERCADOLÓGICAS.

PORTANTO, DECLARAMOS QUE NUNCA HOUVE E NÃO HÁ EM NENHUMA DAS NAÇÕES RELIGIOSAS, DE CULTO A ANCESTRALIDADE AFRICANA E BRASILEIRA, AS QUAIS CHAMAMOS DE “RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA”, RITUAL, DE QUALQUER OBJETIVO, ENVOLVENDO SACRIFÍCIO DE VIDA HUMANA, SEJA QUAL FOR A FAIXA ETÁRIA, MUITO MENOS HAVERIA DA INFANTIL, QUE É POR NÓS TÃO RESPEITADA.

VALE RESSALTAR, QUE NÃO HÁ EM NENHUM DOS SACRIFÍCIOS RITUAIS QUE REALIZAMOS COM ANIMAIS, REQUINTES DE CRUELDADE. AS FAMÍLIAS BRASILEIRAS CONSOMEM TODOS OS DIAS, TONELADAS E MAIS TONELADAS DE CARNE ANIMAL SEM QUESTIONAR QUAIS OS MÉTODOS ADOTADOS PARA ABATÊ-LOS E, PODEMOS GARANTIR QUE NÃO SÃO NADA GENEROSOS, BOA PARTE DELES SÃO EXTREMAMENTE CRUÉIS. A DISPEITO DO QUE TRATAMOS AQUI, CONSIDERAMOS UMA RESSALVA IMPORTANTE, POIS QUE COMPLETA A INFORMAÇÃO E SE ANTECIPA AS ARGUMENTAÇÕES, HIPÓCRITAS E AMORAL EM SUA MAIORIA , DE QUE SACRIFICAMOS ANIMAIS.

AINDA VALE OUTRA RESSALVA, PARA O FATO DE QUE MESMO SE UMA DAS ACUSADAS FOSSE IYÁLÒRIXÁ (“MÃE DE SANTO”), NÃO SE PODERIA CONDENAR O CANDOMBLÉ; POIS QUE QUANDO UM MÉDICO ERRA, NÃO SE CONDENA TODA A MÉDICINA. ASSIM COMO O ERRO DE LÍDERES RELIGIOSOS, NÃO SE ATRIBUE ÀS SUAS MATRIZES RELIGIOSAS.

NÃO HÁ HISTÓRICO NEM LUGAR PARA ESTA MONSTRUOSIDADE QUE INSISTEM EM DAR VISIBILIDADE NO DISCURSO IGNORANTE E NÃO INOCENTE (PORQUE BUSCA SE EXIMIR DA RESPONSABILIDADE) , DO CRIMONOSO, DE QUE UMA DAS ACUSADAS USAVA “OS CABOCLOS E ORIXÁS”, PARA SUA PRÁTICA ASSASSINA E DOENTIA. OS CABOCLOS, ORIXAS, VODUNS E INQUICES, DE CERTO VÃO COBRAR DELE E DE QUEM MAIS AFIRMAR TAL BARBARIDADE. ELES SÃO SERES DE LUZ E NA LUZ, RESPONSÁVEIS PELO EQUILÍBRIO DA TERRA, DAS PESSOAS E DE SUAS RELAÇÕES.

POR FIM, CONCLAMAMOS A TODAS AS ORGANIZAÇÕES DOS “POVOS DE SANTO” A QUEM PREFERIMOS CHAMAR DE “POVOS DE TERREIRO”, DA BAHIA E DE TODO O PAÍS, A SE MANIFESTAREM, PARA QUE MAIS ESTA INJUSTIÇA _ QUE ALIÁS, JÁ DESPONTA EM OUTROS ESTADOS , A EXEMPLO DO MARANHÃO, COMO “MAGIA NEGRA” E, AÍ AUTOMATICAMENTE AFIRMAM AUTORIA A Nós _ NÃO SE ATRIBUA A NOSSA TÃO BONITA RELIGIÃO. EMBORA, DIGA-SE DE PASSAGEM, NADA TEM HAVER O TERMO “MAGIA NEGRA” COM O CONHECIMENTO DA MAGIA AFRICANA, PASSADA DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO HÁ MILHARES DE ANOS, , QUE MANIPULA OS ELEMENTOS DA NATUREZA PARA NOS EQUILIBRAR DIANTE DELA E NOS RELIGAR A ANCESTRALIDADE, LEMBRANDO QUE A HUMANIDADE SURGIU NA ÁFRICA. VALE DESTACAR, QUE MAGIA NEGRA é COISA DE SÉCULOS REMOTOS DA EUROPA.

AXÉ.


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[1]Comissão Organizadora: ILÊ AXÉ TORRUNDÊ / ILÊ AXÉ ODETOLÁ / ILÊ AXÉ OYÁ DEJI / ILÊ AXÉ OMIN ALA / ILÊ AXÉ GEDEMERÊ / TERREIRO GÊGE DAHOMÉ / ILÊ AXÉ IYÁ TOMIN / ILÊ AXÉ OGODOGÊ / ILÊ AXÉ LOGEMIN – contatos: 9966-6506 / 3394-8184,Guilherme de Xangô - Bàbálòrixá; 9908-5566 / 3408-1455 Valdo Lumumba-Ogan; 8716-5833 Edvaldo Pena - Huntó; 3521-1423 Dari Mota – Bàbálòrixá; 3394-8175, Wilson Santos - Bàbálòrixá.