sexta-feira, 16 de abril de 2010

“O divino pede esmola, mas não é por carecer. Pede para experimentar, ao que seus devotos querem ser!”

É com esse cântico que fiéis católicos e devotos do Divino Espírito Santo há mais de cinqüenta anos mantêm viva a tradição dos festejos do divino aqui em Barreiras. Até quando a tradição dos festejos do divino será mantida viva as/os fiéis não sabem. Pois parece existir uma espécie de “Projeto” que quer por fim a Festa do Divino Espírito Santo em Barreiras-Bahia por parte da Paróquia Catedral São João Batista. Isso é feito com as mudanças adotadas e imlementadas que afugentam cada vez mais as/os foliãs/foliões das esmolas e fazendo com que elas/eles deixem de se interessar pela festa não colocando seus nomes para participar do sorteio. É perceptível a intenção de por fim a uma das pouquíssimas manifestações culturais de massa ou popular da cidade. Talvez pelo fato de ser uma manifestação de massa ou popular com a presença maçiça de pessoas pobres em sua grande maioria negras, da zona rural, dos bairros periféricos,... que essa festa tenha atraído para si uma grande repulsa/aversão por boa parte da Igreja. O fim da Festa do Divino Espírito Santo em Barreiras é feito ou preparado com as mudanças desnecessárias e sem razão de ser implementadas pela Igreja. Entenda-se por Igreja a Paróquia Catedral São João Batista.
As/os fiéis/devotas (os) do Divino Espírito Santo saem depois da Semana Santa de casa em casa, pedindo esmolas para a festa do Divino Espírito Santo que acontece no dia de Pentecostes, cinqüenta dias após a Páscoa do Senhor. Festa que do ano passado para cá teve o seu brilho apagado por determinação da Igreja.
A festa de Pentecostes celebra a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos, reunidos com Maria Santíssima no cenáculo em Jerusalém e para Igreja Católica marca o aniversário da Igreja.
O culto ao Divino Espírito Santo, em suas diversas manifestações, apresentando características distintas em cada local, mas mantendo elementos comuns, como a pomba branca e a santa coroa, a coroação de imperadores e a arrecadação de esmolas, é uma das mais antigas e difundidas práticas do catolicismo popular brasileiro. Sua origem remonta às celebrações realizadas em Portugal a partir do século XIV, nas quais a terceira pessoa da Santíssima Trindade era festejada com banquetes e distribuição de esmolas aos pobres.
Trazida ao Brasil pelos primeiros colonizadores, a Festa do Divino Espírito Santo tem data e local de origem determinados: foi criada por D. Isabel, rainha de Portugal, no início do século XIV, na cidade de Alenquer, para angariar fundos para a construção da igreja do Divino Espírito Santo. No Brasil, ela acontece tanto em pequenas cidades quanto na periferia de capitais, e ganhou características próprias. Cinqüenta dias antes do domingo de Pentecostes (data exata da comemoração), foliões saem pelas ruas carregando a bandeira do Divino (vermelha, com uma pomba branca, símbolo do Espírito Santo) e recolhendo prendas para o evento. No dia da festa, além da missa e do cortejo, acontece a coroação do Imperador do Divino. O personagem é uma criação brasileira dos tempos do Brasil Colônia.


Festa do Divino Espírito Santo em Barreiras

Segundo o livro do médico Luiz Gonzaga Pamplona “Barreiras, Bê-A, da Barra pra cá!” a tradição da FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO, em Barreiras, foi implantada pelo PADRE VIEIRA. Do período de sua implantação aos dias atuais, muita coisa mudou na Festa do Divino bem como nas “esmolas”, período que antecede a festa. A festa possui duas características: uma popular - folclórica-profana - e outra religiosa. A festa folclórica-profana e popular possui uma conotação imperialista, do IMPÉRIO PORTUGUÊS, sempre folclórica e majestosa em Barreiras é marcada pelo esforço empreendido antes e durante as esmolas para a realização da “grande festa” pela comissão responsável pelos festejos (Imperador, Alferes da Bandeira, Capitão do Mastro e Caudatários), escolhida na missa festiva de Pentecostes através de sorteio.
Com o passar do tempo a Igreja introduziu novas práticas e proibiu antigas. As mudanças implementadas pela Igreja, docilmente aceitas e cumpridas pelas comissões do festejo de cada ano subseqüente, objetivaram dar um sentido e caráter religioso as comemorações. Antes, as esmolas eram marcadas por algumas práticas profanas tais como: as músicas não sacras, - quem não se lembra das famosas rimuetas? - e as bebidas alcoólicas que eram servidas durante as esmolas? Hoje elas não mais existem.Faz parte das mudanças também a exigência da Igreja de 30% do que é arrecadado nas esmolas. Quando foi feita essa mudança/exigência era apenas 10%, passou para 15% depois para 20%, 25% e hoje é 30%. Com a proibição da distribuição do almoço, pois agora é servido um lanche/café da manhã no lado da Igreja, praticamente a Igreja fica com tudo que é arrecadado. Além há uma peneira para selecionar os nomes que podem e irão para o sorteio. Ainda, antigamente não era permitido colocar o nome de mulheres no sorteio, agora já é permitido.
A Festa do Divino Espírito Santo constituiu-se em notícias por muitos anos, pela sua beleza e encantamento. Hoje não é mais assim. A missa que antigamente era celebrada no interior da Catedral São João Batista há alguns anos vem sendo realizada do lado de fora da igreja em decorrência da presença maciça das/dos devotos que com o passar dos tempos tornou pequena a nave da igreja, com a ocupação dos corredores e as laterais. Logo após a benção final da emocionante, festiva e ritualmente pomposa missa, as/os fiéis ficam extasiadas (os) com o canto “VINDE ESPÍRITO DIVINO”, lágrimas nos olhos e recordações das/dos entes queridas (os) que já se foram. Segue-se, no final da missa, ao sorteio dos nomes dos futuros responsáveis pelos festejos do ano seguinte que em 2008 ano teve uma surpresa que desagradou a muitos, senão a todos. Descumprindo e quebrando a tradição o pároco, padre José Gregório da Silva, sem apresentar as justificativas, se é que estas existem, retirou do sorteio o “cargo” de Alferes da Bandeira, delegando a responsabilidade de escolha ao novo imperador e capitão do mastro, sujeitas ainda a aprovação do Conselho Paroquial. Essa distorção felizmente foi corrigida no ano subseqüente com a escolha do Alferes feita no sorteio.Antigamente, isto é até o ano de 2008 as/os fiéis acompanhavam o cortejo do IMPERADOR até sua residência onde era oferecido um farto almoço. O almoço foi proibido pela Igreja, não se sabe o motivo.. A missão da antiga comissão do divino encerrou-se no período vespertino com a entrega em casa da coroa, bandeira e de um pequeno mastro aos novos responsáveis pela festa no ano seguinte.
Faz parte também dos festejos do Divino Espírito Santo a levantada e derrubada do mastro na frente da igreja. A levantada ocorre no domingo de encerramento das esmolas dia em que a Igreja celebra a festa da Ascensão do Senhor aos céus. As mulheres carregam um pesado mastro com as cores vermelho e branco até a frente da igreja, e no domingo em que a Igreja celebra a festa da Santíssima Trindade uma semana após a missa de Pentecostes os devotos derrubam o mastro levando-o para a casa do novo Capitão do Mastro escolhido no sorteio da missa do Divino. Tanto no dia da levantada como na derrubada do mastro é servido as/aos devotas (os), comidas e bebidas.
Ninguém por justiça negará que uma das maiores riqueza de um povo ou nação é a sua cultura, uma vez que ela é parte integrante de sua história, caráter e identidade.As/os cidadãos são convidadas (os) a saírem em defesa da tradição e cultura da cidade que os acolhe e na qual vivem e que possui essa identidade e característica. Afinal de contas as festas, tradições e manifestações culturais são do povo e não de uma entidade ou instituição, a não ser que as festas, tradições e manifestações culturais tenham surgido no interior das mesmas e sobrevivido em virtude da defesa feita por elas.Por isso muitas pessoas rejeitam e discordam dos critérios estabelecidos para definir quem participa ou não do sorteio, da proibição da Festa coma distribuição do almoço,... enfim da prática da Paróquia Catedral São João Batista que se assemelhou em muito com o Tribunal da Santa Inquisição com as últimas atitudes na festa do Divino.
AS/OS DEVOTAS DO DIVINO ESPIRITO SANTO REPUDIAM VEEMENTEMENTE A ESPÉCIE DE PROJETO QUE PARECE EXISTIR COM A FINALIDADE DE POR FIM A FESTA EM BARREIRAS!
A Igreja Católica infelizmente carrega uma culpa, pecado e crime cometidos na exterminação de várias culturas e tradições. De tal maneira que a Igreja no passado cristianizou muitos cultos, tradições e culturas consideradas pagãs. Atualmente, a Igreja sofre do seu próprio veneno ao assistir a repaganização dos cultos cristianizados por ela. Logicamente, não se pode reduzir a História da Igreja de mais de dois mil anos ao extermínio de culturas, tradições e cultos. Deus não permita tal loucura! Grandes sumos pontífices em um passado não muito longínquo ajoelharam-se e de maneira muito nobre pediram perdão pelos pecados e erros passados. Oxalá, as atitudes e mudanças impostas de cima para baixo aqui em Barreiras na Festa do Divino não se constituam em um extermínio de uma cultura e tradição tão bela como é a Festa do Divino.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A ELITE INTELECTUAL DA IGREJA X O BOM POVINHO DE DEUS

Muitos teólogos, bispos, padres, religiosas (os) e leigas (os) engajadas (os) examinam com espírito critico certas manifestaçãoes populares espontâneas de amor e de devoção. O que para um católico fervoroso comum, sem grandes luzes intelectuais, pode parecer evidentemente verdadeiro, nem sempre é suficiente para contentar o exigente intelectual teólogos, bispos, padres, religiosas (os) e leigas (os) engajadas (os).
Ao bom povinho de Deus, que muitas vezes intui certas realidades de ordem sobrenatural sem entretanto explicálas e, mesmo sem sentir qualquer necessidade de explicá-las, soa como fria, pouco fervorosas, até suspeita, a atitude reservada das/dos exigentes intelectual teólogos, bispos, padres, religiosas (os) e leigas (os) engajadas (os).
Tais posturas podem sem dúvida pecar por excesso: de uma lado, cair-se na credulidade infantil e pouco explicada; de outro, no espírito ácido e hiper-crítico.
Curiosamente, se observarmos ao longo da História da Igreja o processo de explicitação de certos dogmas veremos que ambas as vertentes ou posturas, a popular e a douta, embora tenham até certo ponto se entrechocado, na realidade colaboraram intimamente entre si. Numa como noutra trabalhava a graça de Deus.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A RELIGIOSIDADE POPULAR

Segundo os ensinamentos da Igreja promulgados nos documentos do Concilio Vaticano II a religiosidade popular prolonga a vida litúrgica da Igreja compreendida nas celebrações litúrgicas da Sagrada Missa, a celebração dos sacramentos – batismo, confissão, eucaristia, crisma, matrimônio, ordem e unção dos enfermos – e a Liturgia das Horas. Abaixo farei a transcrição de trechos que aludem a religiosidade popular, sobretudo como manifestação cultural, em outras palavras como uma das diversas culturas da mulher e do homem.

“Além da liturgia sacramental e dos sacramentais, a catequese tem de levar em conta as formas da piedade dos fiéis e da religiosidade popular. O senso religioso do povo cristão encontrou, em todas as épocas, sua expressão em formas diversas de piedade que circundam a vida sacramental da Igreja, como a veneração de relíquias, visitas a santuários, peregrinações, procissões, via-sacra, danças religiosas, o rosário, as medalhas etc.
Estas expressões prolongam a vida litúrgica da Igreja, mas não a substituem: "Considerando os tempos litúrgicos, estes exercícios devem ser organizados de tal maneira que condigam com a sagrada liturgia, dela de alguma forma derivem, para ela encaminhem o povo, pois que ela, por sua natureza, em muito os supera”. (§1674 -§1675 Catecismo da Igreja Católica)

Entenda-se por liturgia sacramental as celebrações do batismo, confissão, eucaristia, crisma, matrimônio, ordem e unção dos enfermos, e dos sacramentais a benção de medalhas, rosário,... Por religiosidade popular entende-se as novenas, rezas, procissões, peregrinações à lugares santos ou santificados, via-sacar, Folia dos Santos Reis, do Divino Espírito Santo,...

“... A religiosidade do povo em seu núcleo, é um acervo de valores que responde com sabedoria cristã às grandes incógnitas da existência. A sabedoria popular católica tem uma capacidade de síntese vital; engloba criativamente o divino e o humano, Cristo e Maria, espírito e corpo, comunhão e instituição, pessoa e comunidade, fé e pátria, inteligência e afeto. Esta sabedoria é um humanismo cristão que afirma radicalmente a dignidade de toda pessoa como filho de Deus, estabelece uma fraternidade fundamental, ensina a encontrar a natureza e a compreender o trabalho e proporciona as razões para a alegria e o humor, mesmo em meio a uma vida muito dura. Essa sabedoria é também para o povo um principio de discernimento, um instinto evangélico pelo qual capta espontaneamente quando se serve na Igreja ao evangelho e quando ele é esvaziado e asfixiado com outros interesses.” (§1675 Catecismo da Igreja Católica)

A fé procura a inteligência por vários caminhos dentre eles o da sabedoria popular, das diversas tradições populares e manifestações culturais dos povos. A união da Igreja com as diversas formas de cultura resulta num enriquecimento tanto para a Igreja como para as diferentes culturas. Deus nos falou e nos fala de acordo com a cultura própria de diversas épocas das/dos mulheres/homens.

A cultura deriva imediatamente da natureza racional e social do homem. Ela precisa incessantemente de justa liberdade para desenvolver-se e de legitima autonomia de ação. Exige respeito e possui até uma certa inviolabilidade. Pois, na cultura ou por ela as/os mulheres/homens expressam sua maneira de pensar e de sentir.

“53. A palavra «cultura» indica, em geral, todas as coisas por meio das quais o homem apura e desenvolve as múltiplas capacidades do seu espírito e do seu corpo; se esforça por dominar, pelo estudo e pelo trabalho, o próprio mundo; torna mais humana, com o progresso dos costumes e das instituições, a vida social, quer na família quer na comunidade civil; e, finalmente, no decorrer do tempo, exprime, comunica aos outros e conserva nas suas obras, para que sejam de proveito a muitos e até à inteira humanidade, as suas grandes experiências espirituais e as suas aspirações.
Daqui se segue que a cultura humana implica necessàriamente um aspecto histórico e social e que o termo «cultura» assume frequentemente um sentido sociológico e etnológico. É neste sentido que se fala da pluralidade das culturas. Com efeito, diferentes modos de usar das coisas, de trabalhar e de se exprimir, de praticar a religião e de formar os costumes, de estabelecer leis e instituições jurídicas, de desenvolver as ciências e as artes e de cultivar a beleza, dão origem a diferentes estilos de vida e diversas escalas de valores. E assim, a partir dos usos tradicionais, se constitui o património de cada comunidade humana. Define-se também por este modo o meio histórico determinado no qual se integra o homem raça ou época, e do qual tira os bens necessários para a promoção da civilização.” ( Gaudium et Spes – Sobre a Igreja no mundo de hoje / CAPÍTULO II A CONVENIENTE PROMOÇÃO DO PROGRESSO CULTURAL: A cultura e a sua relação com o homem)

“44. Assim como é do interesse do mundo que ele reconheça a Igreja como realidade social da história e seu fermento, assim também a Igreja não ignora quanto recebeu da história e evolução do gênero humano.
A experiência dos séculos passados, os progressos científicos, os tesouros encerrados nas várias formas de cultura humana, os quais manifestam mais plenamente a natureza do homem e abrem novos caminhos para a verdade, aproveitam igualmente à Igreja. Ela aprendeu, desde os começos da sua história, a formular a mensagem de Cristo por meio dos conceitos e línguas dos diversos povos, e procurou ilustrá-la com o saber filosófico. Tudo isto com o fim de adaptar o Evangelho à capacidade de compreensão de todos e às exigências dos sábios. Esta maneira adaptada de pregar a palavra revelada deve permanecer a lei de toda a evangelização. Deste modo, com efeito, suscita-se em cada nação a possibilidade de exprimir a mensagem de Cristo segundo a sua maneira própria, ao mesmo tempo que se fomenta um intercâmbio vivo entre a Igreja e as diversas culturas dos diferentes povos (22).” ( Gaudium et Spes – Sobre a Igreja no mundo de hoje /Ajuda que a Igreja recebe do mundo)

“Do mesmo modo, a Igreja, vivendo no decurso dos tempos em diversos condicionalismos, empregou os recursos das diversas culturas para fazer chegar a todas as gentes a mensagem de Cristo, para a explicar, investigar e penetrar mais profundamente e para lhe dar melhor expressão na celebração da Liturgia e na vida da multiforme comunidade dos fiéis.” ( Gaudium et Spes – Sobre a Igreja no mundo de hoje /A mensagem de Cristo e a cultura humana)

“À autoridade pública pertence, não determinar o caráter próprio das formas de cultura, mas favorecer as condições e as ajudas necessárias para o desenvolvimento cultural de todos, mesmo das minorias de alguma nação (10). Deve, por isso, insistir-se, antes de mais, para que a cultura, desviando-se do seu fim, não seja obrigada a servir as forças políticas ou econômicas.” ( Gaudium et Spes – Sobre a Igreja no mundo de hoje /Harmonia entre as diversas ordens humanas e culturais)

“Pela primeira vez na história dos homens, todos os povos têm já a convicção de que os bens da cultura podem e devem estender-se efetivamente a todos.” ( Gaudium et Spes – Sobre a Igreja no mundo de hoje /Aspirações mais universais do gênero humano)