segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Natal

Jesus é a nossa Esperança!

Irmãs e irmãos,

                                                      
Paz e Bênçãos!

É Natal! Vamos celebrar a misericórdia e a gratuidade de Deus por nós. O Natal é a festa do amor que faz renascer em nós a esperança.
Desejo que todas (os) se encontrem no abraço do perdão e da paz e seja fonte de esperança para todo o Brasil Rumo ao Novo Ano.
Feliz encontro com Deus e um abençoado 2012 cheios das bênçãos e luzes do Espírito Santo. Que o Ano Novo seja realmente novo, que não seja novo somente na cronologia, mas na nossa vida, sentimentos, relacionamentos, atitudes, comportamentos, desejos, pensamentos, palavras, obras, ações...

São os sinceros votos de Cláudio Roberto de Jesus.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Mentira repetida muitas vezes… CPMF

Os Aprendizes de Goebbels – publicitário de estimação de Hitler que tornou famosa a frase “uma mentira cem vezes repetida, torna-se verdade” – repetem em cantilena que o caos na Saúde Pública é motivado pela ausência de recursos financeiros no país e que precisam criar um novo imposto para resolver tão grave problema! Essa conversa fiada se arrasta desde a Lei Federal 9.311 de 1996 quando a IPMF – criada em 1993 – foi reeditada com o pomposo nome Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira (pelo tamanho do nome já dá pra ver a enrolação!) que em seu artigo 18 previa a destinação da arrecadação “ao Fundo Nacional de Saúde para financiamento das ações e serviços de saúde”. A CPMF tinha o mérito de ser uma importante ferramenta contra a sonegação de impostos, pois o Governo Federal podia – através do cruzamento de informações dos recolhimentos com os valores declarados pelos contribuintes – identificar receitas evadidas e poderia ter sido preservada em alíquotas insignificantes do ponto de vista financeira! Em 2007 foi derrotada no Senado pela legítima pressão da população que percebeu que o dinheiro foi desviado para fins inimagináveis e os Serviços de Saúde continuavam em estado de barbárie! De lá para cá o típico vagabundismo político patrocinou uma troca de posições entre os favoráveis e os contrários sem a necessária e ética explicação pública… Mas deixemos as mutações do oportunismo político de lado e vamos aos fatos que provam a trapaceira repetição da mentira sobre o assunto!

É importante registrar que o financiamento do SUS já está previsto em lei – tanto na Constituição Federal como nas Leis 8.080 e 8.142 de 1990 – e já estabelece as fontes de financiamento, os percentuais a serem gastos em saúde, a forma de divisão e repasse dos recursos entre as esferas de governo, os critérios e mecanismos essenciais para a base de cálculo como perfil epidemiológico, rede instalada, população, desempenho técnico/econômico-financeiro, etc… E para dúvidas não deixar sobre o financiamento da saúde ainda tramitou desde 2000 a Emenda Constitucional 29 que após aprovação em 2009 passa agora a ser Regulamentada e se dúvidas antes já não existiam imagine agora! Mas o problema mesmo não tem nada a ver com isso… O problema está na covardia do Governo Federal em alterar o Planejamento e a Gestão Pública garantindo Eficácia e Resolutividade Administrativa e especialmente alterando a Política Econômica. Um país que tem um Orçamento Federal com Receita Total de R$ 2.118.273.683.441,00 (dois trilhões, cento e dezoito bilhões, duzentos e setenta e três milhões…) e se dá ao “luxo” de patrocinar uma política de juros tão absurda para favorecer os parasitas do capital financeiro e financiadores de campanhas eleitorais que compromete R$ 653.282.592.607,00 (seiscentos e cinqüenta e três bilhões, duzentos e oitenta e dois milhões…)… Esses Governos não têm autoridade moral para falar em ausência de recursos e solicitar a aprovação de mais tributos especialmente diante da gigantesca carga tributária aos mais pobres – via tributação indireta – e assalariados, pois o grande setor empresarial tem como preservar as faixas de lucros repassando o novo imposto aos preços ou reduzindo custos com as demissões de trabalhadores!
A Presidência, o Congresso Nacional, os Governadores e Prefeitos deviam ter vergonha de se dirigir à opinião pública com mais essa farsa… Quando as Excelências Governamentais promoverem alteração na Política de Juros – uma redução de menos de 2% já compensaria financeiramente o que eles querem saquear do povo com a nova CPMF; Reforma Tributária isentando de tributos aos menos a cesta básica de consumo dos mais pobres e atualizando a tabela de imposto de renda dos assalariados; Taxação das Grandes Fortunas, da Remessa de Lucros ao Exterior e do Capital Parasita Financeiro, etc… e claro que não podem roubar os cofres públicos! Portanto, propostas com toda a viabilidade e razoabilidade necessárias na administração pública não faltam!

Quem me conhece sabe que se houvesse realmente carência de recursos financeiros para o setor Saúde ou para quaisquer áreas das Políticas Sociais – independentemente de qualquer pressão política – eu defenderia com todas as minhas forças todos os mecanismos que pudessem garantir na vida cotidiana da população as conquistas já asseguradas na legislação em vigor, especialmente no SUS. Mas ninguém poderá jamais contar comigo para compartilhar farsas técnicas como a “Nova CPMF” inclusive manipulando desavergonhadamente em palavreado ardiloso o que de mais belo existe nos preciosos sentimentos humanos de solidariedade e fraternidade no coração do nosso povo!

*Heloísa Helena é avó de Júlia, professora UFAL/ Enfermeira, ex-senadora, candidata à Presidência, hoje vereadora pelo PSOL em Maceió (AL). ” Melhor Coração Partido que Alma Vendida!”

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Alento aos desolados da Igreja


Atualmente há muita desolação com referência à Igreja Católica institucional. Verifica-se uma dupla emigração: uma exterior, pessoas que abandonam concretamente a Igreja e outra interior, as que permanecem nela mas não a sentem mais como um lar espiritual. Continuam a crer apesar da Igreja.
E não é para menos. O atual Papa tomou algumas iniciativas radicais que dividiram o corpo eclesial. Assumiu uma rota de confronto com dois importantes episcopados, o alemão e francês, ao introduzir a missa em latim; elaborou uma esdrúxula reconciliação com a Igreja cismática dos seguidores de Lefebvre; esvaziou as principais intuições renovadoras do Concílio Vaticano II, especialmente o ecumenismo, negando, ofensivamente, o título de "Igreja" às demais Igrejas que não sejam a Católica e a Ortodoxa; ainda como Cardeal mostrou-se gravemente leniente com os pedófilos; sua relação para com a AIDs beira os limites da desumanidade. A atual Igreja Católica mergulhou num inverno rigoroso. A base social de apoio ao modelo velhista do atual Papa é constituída por grupos conservadores, mais interessados nas performances mediáticas, na lógica do mercado, do que propor uma mensagem adequada aos graves problemas atuais. Oferecem um "cristianismo-prozac", apto para anestesiar consciências angustiadas, mas alienado face à humanidade sofredora.
Urge animar estes cristãos em vias de emigração com aquilo que é essencial ao Cristianismo. Seguramente não é a Igreja que não foi objeto da pregação de Jesus. Ele anunciou um sonho, o Reino de Deus, em contraposição com o Reino de César, Reino de Deus que representa uma revolução absoluta das relações desde as individuais até as divinas e cósmicas.
O Cristiansimo compareceu primeiramente na história como movimento e como o caminho de Cristo. Ele é anterior a sua sedimentação nos quatro evangelhos e nas doutrinas. O caráter de caminho espiritual é um tipo de cristianismo que possui seu próprio curso. Geralmente vive à margem e, às vezes, em distância crítica da instituição oficial. Mas nasce e se alimenta do permanente fascínio pela figura e pela mensagem libertária e espiritual de Jesus de Nazaré. Inicialmente tido como "heresia dos Nazarenos" (At 24,5) ou simplesmente "heresia" (At 28,22) no sentido de "grupelho", o Cristianismo foi lentamente ganhando autonomia até seus seguidores, nos Atos dos Apóstolos (11,36), serem chamados de "cristãos."
O movimento de Jesus certamente é a força mais vigorosa do Cristianismo, mais que as Igrejas, por não estar enquadrado nas instituições ou aprisionado em doutrinas e dogmas. É composto por todo tipo de gente, das mais variadas culturas e tradições, até por agnósticos e ateus que se deixam tocar pela figura corajosa de Jesus, pelo sonho que anunciou, um Reino de amor e de liberdade, por sua ética de amor incondicional, especialmente aos pobres e aos oprimidos e pela forma como assumiu o drama humano, no meio de humilhações, torturas e da execução na cruz. Apresentou uma imagem de Deus tão íntima e amiga da vida, que é difícil furtar-se a ela até por quem não crê em Deus. Muitos chegam a dizer: "se existe um Deus, este deve ser aquele que traz os traços do Deus de Jesus".
Esse cristianismo como caminho espiritual é o que realmente conta. No entanto, de movimento, ele muito cedo ganhou a forma de instituição religiosa com vários modos de organização. Em seu seio se elaboraram as várias interpretações da figura de Jesus que se transformaram em doutrinas e foram recolhidas pelos atuais evangelhos. As igrejas, ao assumirem caráter institucional, estabeleceram critérios de pertença e de exclusão, doutrinas como referência identitária e ritos próprios de celebrar. Quem explica tal fenômeno é a sociologia e não a teologia. A instituição sempre vive em tensão com o caminho espiritual. Ótimo quando caminham juntas, mas é raro. O decisivo é, no entanto, o caminho espiritual. Este tem a força de alimentar uma visão espiritual da vida e de animar o sentido da caminhada humana.
O problemátio na Igreja romano-católica é sua pretensão de ser a única verdadeira. O correto é todas as igrejas se reconhecerem mutuamente, pois todas revelam dimensões diferentes e complementares do Nazareno. O importante é que o cristianismo mantenha seu caráter de caminho espiritual. É ele que pode sustentar a tantos cristãos e cristãs face à mediocridade e à irrelevância em que caiu a Igreja atual.
Leonardo Boff é teólogo

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Rebelião no Chile: Movimento dos estudantes ganha apoio e marca novas manifestações
Por Bárbara Mengardo

Enviada Especial

Santiago (Chile) – Santiago está em ebulição. Em todos os cantos da capital chilena, a qualquer hora é possível encontrar pixações, eventos culturais e atividades de apoio às manifestações que se estendem há três meses por todo o país, e não se limitam mais às demandas dos estudantes.

O movimento cresceu tanto, e tem tanto apoio popular (o jornal La Tercera, que há meses tenta esconder e desqualificar as movimentações, publicou matéria no último sábado afirmando que 76% da população chilena apóia os protestos), que é impossível saber com exatidão quais atividades vão ocorrer pela cidade.

A praça Ñuñoa, localizada a mais ou menos meia hora do centro de Santiago, em um bairro de classe média, é palco todas as noites de manifestações e confrontos com os carabineiros. Cerca de 3.000 pessoas se deslocam diariamente ao local para participar de panelaços e, geralmente, são recebidos pela polícia que se utiliza de gás lacrimogênio e jatos fortes de água para tentar interromper as atividades.

Esses carros que descarregam água na multidão foram apelidados pela população de Guanacos, que são animais parecidos com Lhamas que vivem nos Andes, e costumam a cuspir nas pessoas. Catalina Gamboa, estudante secundarista que acompanhava uma das manifestações na praça Ñuñoa, explica que o líquido expelido pelos Guanacos da polícia não é apenas água “Quando isso cai no rosto arde. Fizeram algumas análises e viram que tinham fezes nessa água”.

Nos sites das Federações de estudantes brotam relatos de casos de extrema violência policial aplicada pelos Carabineiros. O portal da Federação de Estudantes da Universidade de Valparaiso postou a história de um estudante de História que foi pego por policiais enquanto observava um confronto e levado para um ônibus, onde foi violentamente golpeado.

As agressões resultaram em uma grave fratura nasal, e o estudante necessitou de uma cirurgia. Quando viu a gravidade do machucado, um dos policiais, conta o site, perguntou: “O que se passou filho, porque está sangrando?” o garoto respondeu que eles o haviam agredido, e ouviu a resposta “Nós não batemos em ninguém, você sozinho bateu em uma porta”.

As manifestações, entretanto, não estão presentes apenas nos bairros mais ricos da cidade. Ocupações em universidades e colégios de ensino médio e fundamental se estendem também pela periferia. Estudantes estimam que cerca de 700 colégios estejam ocupados, 200 deles só na capital.

Já no ensino superior ninguém soube dizer quantas ocupações estão em andamento no Chile. Sabe-se que todas as universidade chamadas tradicionais, que foram criadas até a década de 1960 e eram gratuitas até o regime ditatorial de Augusto Pinochet (1973-1990), estão ocupadas ou paralizadas. Andando pelas ruas de Santiago, entretanto, é possível se deparar com dezenas de universidades públicas ou privadas cujos portões estão bloqueados por cadeiras ou os muros estão cobertos com cartazes com dizeres como “fim ao lucro”.

Isso porque, na educação superior chilena, o lucro foi proibido durante a ditadura, com uma lei que instituía que todas as universidades, públicas ou privadas, seriam pagas, mas não poderiam obter lucro.

Atualmente, todas as universidades chilenas são pagas, e a maioria recebe ajuda financeira do governo. Neste cenário, muitos donos de universidades acharam brechas na lei, e obtém muito lucro com as instituições de ensino. É comum que os integrantes dos diretórios acadêmicos, que estão acima dos reitores, possuam também imobiliárias, e repassem dinheiro a partir de obras superfaturadas.

O fim do lucro se tornou uma das principais reivindicações dos estudantes que começaram a realizar marchas e manifestações desde junho. A esse ponto somaram-se muitos outros, sendo um dos principais a educação gratuita e de qualidade que, para todos os atores do movimento que já é conhecido como “inverno chileno”, deve acompanhar uma reforma integral da educação no país.

Sobre o assunto, a Federação dos Estudantes da Universidade do Chile, que tem sido muito ativa durante as manifestações, afirmou em um documento onde reúne todas as pautas do movimeno estudantil: “Nos une a firme convicção de que a educação é um componente essencial para alcançar um novo projeto histórico de desenvolvimento democrático que tanto anseia o país para superar as escandalosas brechas de desigualdade que presenciamos hoje. Desta forma, foi exposta a necessidade urgente de recuperar a educação como um direito social e humano universal que deve ser garantido pela Constituição Chilena.”

Outras demandas importantes são a criação de um novo sistema de financiamento, pois o atual faz com que cerca de 40% dos estudantes deixem as universidades endividados e a desmunicipalização da educação, já que Pinochet desmantelou o Ministério da Educacao, passando a responsabilidade administrativa e financeira para as comunas, que, grosso modo, podem ser comparadas a subprefeituras. Esse sistema faz com que a distribuição de verbas seja desigual entre as comunas.

Atualmente, entretanto, não são só os estudantes que pautam suas reivindicações. No dia 8 deste mês, os trabalhadores do Banco de Santiago começaram uma greve por reajustes salariais, e nos últimos meses ocorreram também paralisações de mineiros e taxistas.

Um hospital público de Santiago, Posta Central, interrompe suas atividades toda vez que ocorrem marchas, e são convocadas também panelaços nos quais muitos adultos e idosos batem panelas para manifestar seu apoio aos estudantes.

Até agora, o governo ainda não apresentou nenhuma proposta satisfatória para os manifestantes. A última tentativa, de estabelcer uma mesa de diálogo com o Congresso, foi rechaçada pelos estudantes universitários, mas bem vista pelos secundaristas. Muitos setores que compõem a ala universitária do movimento acreditam que a melhor solução para o impasse colocado é a realização de um plebiscito, e não veem essa mesa de diálogo como capaz de realizar a mudanca estrutural que desejam.

Desta forma, seguem as mobilizações no Chile, e já está fechado um calendário nacional de mobilizações para as próximas semanas. No dia 16 está marcada uma “velaton”, e todos que apóiam o movimento devem colocar velas em suas janelas. Na quinta, dia 18, acontecerá uma jornada de protesto nacional, e estão marcadas marchas e panelaços. Nos dias 24 e 25 haverá uma greve geral, puxada pela CUT (Central Unitária dos Trabalhadores do Chile).

Em Santiago, está marcado um bem humorado protesto na Praça das Armas, no qual todos deverão se reunir para fazer um grande “iiiiiiiii” pela educação, fazendo referência ao prefeito da comuna de Santiago, Pablo Zalaquett, que, devido a um tique, utiliza essas vogais no meio de suas frases.

O governo também se diz preocupado com a possibilidade dos estudantes perderem o ano. Quanto a isso, Patricio Perez, 16 anos, estudante de um colégio ocupado, responde com uma frase que muito está se ouvindo: “Perder o ano, mas ganhar o futuro”.

Assista vídeo sobre as manifestações
:

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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A Revolta de Londres: um sinal


Por Osvaldo Coggiola

A recente revolta em bairros periféricos de Londres, que se estendeu rapidamente para outras cidades inglesas, foi apresentada pela grande imprensa como uma série de atos de vandalismo, sem outro conteúdo. Nada mais longe da verdade. O brutal assassinato de Mark Duggan, um taxista negro de 29 anos alvejado pela polícia londrina em Tottenham – uma zona que conta com as maiores taxas de desemprego e de imigrantes da capital britânica – produziu uma reação da juventude que, por sua magnitude e composição, foi rapidamente comparável com o levantamento dos jovens árabes e norte-africanos nos subúrbios parisienses em 2005, ou à sublevação da juventude grega em fins de 2008. Esta vez, no entanto, a bancarrota capitalista mundial vinculou a revolta com a crise dos Estados chamados ao resgate do capital. O movimento também teve lugar no quadro da revolução nos países árabes e da irrupção da juventude européia dos "indignados", na Espanha especialmente. O assassinato de Duggan produziu uma manifestação de cerca de 300 vizinhos que, com o decorrer das horas e frente às manobras de encobrimento da polícia, converteu-se em uma revolta popular. O governo britânico respondeu com uma brutal repressão, junto a uma operação midiática que buscava instalar a versão de um "enfrentamento" da polícia com Duggan, acusado de ser "traficante de armas".

Tottenham tem uma longa história de resistência contra a opressão policial por sua composição majoritariamente imigrante, incluído um levantamento popular em 1985 só comparável ao que ocorreu recentemente. No bairro vivem africanos, caribenhos, polacos, judeus ortodoxos, turcos e ingleses brancos, que sofrem dia a dia a extorsão da polícia. A zona é também representativa da crise que atravessa o país. Mais de 10 mil jovens de Tottenham vivem graças à assistência social e se estima que uns 54 jovens concorrem por cada posto de trabalho. Outro dado alarmante é a alta taxa de gravidez adolescente - a mais alta do Reino Unido. Este quadro social de decomposição é a base sobre a qual opera a rebelião dos subúrbios britânicos. A repressão policial nas ruas de Londres deixou o saldo de cinco mortos, dezenas de feridos e centenas de detidos. No entanto, os protestos aumentaram, em novos bairros, como Oxford Circus e Enfield, e inclusive outras cidades, como Leeds, Birmingham, Liverpool, Manchester e Bristol, o que obrigou ao governo a proceder a uma mobilização inusitada de forças - uns 16 mil policiais. Estes fatos revelam que a pauperização das condições de vida das massas é um fenômeno que se estende ao conjunto do país.

A crise não poderia chegar em pior momento para o regime político britânico que, sacudido pela crise política gerada pela revelação das escutas telefônicas de personagens ou figuras públicas por parte do império midiático de Rupert Murdoch, com a cumplicidade da polícia britânica, Scotland Yard (cujos chefes tiveram que renunciar por sua relação com o escândalo) e dos políticos britânicos. O premiê britânico, o conservador David Cameron, foi obrigado a regressar de suas férias – destinadas a afastá-lo da crise política - ante a extensão da rebelião juvenil contra a força policial. A crise e a rebelião social desatada pela repressão policial voltou a colocar a Cameron no olho da tormenta. Este assumiu com o objetivo de aplicar um rigoroso plano de ajuste frente à crise mundial, e agora luta por manter a seu governo. A rebelião dos jovens explorados da Grã-Bretanha tem lugar enquanto os sindicatos discutem um plano de luta contra o corte às aposentadorias, depois de protagonizar a maior paralisação de funcionários públicos em 80 anos, e no meio de uma grande mobilização estudantil contra o plano de cortes à educação proposto pelos conservadores. A conjunção da crise política com a crise capitalista e com um processo de mobilização de massas excepcional reúne os elementos de uma tormenta que poderia significar o fim do governo conservador na Grã-Bretanha em um quadro de aguçamento da crise mundial.

Na Espanha, um pacote de austeridade reduziu em 5% os salários públicos em 2010, e fez um corte de 600 milhões de euros nos investimentos públicos. Essas medidas foram exigências do FMI, para “enfrentar a crise” nesses países. O pacote de austeridade foi enfrentado com uma massiva paralisação nacional dos trabalhadores, convocada pelas centrais sindicais. Os trabalhadores de outros países europeus também reagiram com grandes manifestações, uma resistência bem superior à de 2008. A classe operária começou a manifestar-se: greves de massas, mobilizações massivas, ocupações de fábricas, tomada de reféns de patrões por trabalhadores, revoltas de jovens e operários. As greves gerais na Grécia e Turquia, as greves e as manifestações na França e Espanha, as numerosas ocupações de fábricas na Itália, são uma mostra da crescente combatividade do proletariado contra o desemprego massivo, a flexibilização trabalhista, as reduções salariais, a destruição dos sistemas sociais.

Nos últimos anos, houve uma recomposição da classe operária mundial, com a incorporação de milhões de novos trabalhadores, que protagonizam novos combates de classe, na Grécia, França, Itália, Alemanha, passando pela América Latina, sem esquecer a recuperação da classe operária russa e na Europa do Leste, os trabalhadores sul-africanos, e a classe operária chinesa, que começa a levantar cabeça com greves extraordinárias. Antes da explosão árabe, a Europa estava no centro da luta classista. Em novembro de 2010, 150 mil pessoas protagonizaram uma grande mobilização em Dublin para rejeitar o resgate da Irlanda por parte da União Européia (UE) e do FMI – um ataque aos salários, ao gasto social e ao emprego. Poucos dias antes, havia ocorrido uma grande greve geral em Portugal, grandes mobilizações estudantis na própria Irlanda, Inglaterra e Itália, e nas semanas anteriores manifestações em toda a França. A crise capitalista se estende a Portugal, Espanha e Itália, e inclusive à França, ao ponto de se colocar na pauta dos governos um desdobramento da Europa em um bloco do norte e outro do sul – com diferentes moedas (Grécia, Portugal, Espanha e Itália sairiam da “zona euro”). A rebelião árabe, que “cruzou o estreito de Gibraltar” para chegar às praças da Espanha, encontrou no velho continente um terreno propício.

A revolta londrina, certamente desorganizada, não foi um tiro no escuro de uma juventude desesperada, mas um sinal anunciador do terremoto social nas próprias metrópoles do capitalismo.

Osvaldo Coggiola é historiador, economista e professor da Universidade de São Paulo

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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A criação deste Estado traria soluções para todo o mundo!Ao contrário da criação do Estado do Rio São Francisco!

Entidades lançam Comitê pelo Estado da Palestina Já!

Foi lançado na última segunda-feira (29), em São Paulo, o Comitê pelo Estado da Palestina Já!. O evento ocorrerá às 17h no Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo (rua Genebra, 25 - Centro, próximo à estação de metrô Anhangabau).
O comitê reunirá diversas organizações e centralizará todas as ações no país em torno das mobilizações para que a Palestina seja reconhecida pela 66ª sessão da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que será realizada em 13 de setembro, em Nova York, nos Estados Unidos.
Já no dia 20 de setembro, um dia antes do início das votações na ONU, o Comitê pelo Estado da Palestina Já! promoverá um ato público e uma caminhada em defesa do Estado da Palestina. A concentração do protesto será às 17h na Praça Ramos de Azevedo, no centro da capital paulista (em frente ao Theatro Municipal de São Paulo, na esquina com o viaduto do Chá, próximo à estação de metrô Anhangabaú).
Leia aqui o manifesto das entidades que integram o Comitê.
Mais sobre o assunto:

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Orgulho de ser baiano: O meu amor e o meu xodó é a Bahia!
Criou-se uma expectativa em Barreiras em torno da Mobilização em prol da Criação do Estado do Rio São Francisco, a realizar-se amanhã. Gostaria de expor dois fatos ocorridos comigo esse ano para em seguida tratar da idéia irresponsável de divisão da Bahia.

O primeiro episódio foi mais ou menos no início desse ano quando indo para o trabalho me deparei com voluntários do Instituto Plínio Correa de Oliveira, - organização essencialmente reacionária da Igreja Católica da Tradição, Família e Propriedade – TFP – quando um dos voluntários se aproximou de mim e pediu-me para assinar o abaixo assinado a ser entregue no Congresso Nacional visando “proibir” a união homossexual e a legalização do aborto. Eu respondi que era contra a legalização do aborto e a favor da união homossexual. Como essa não era resposta que ele queria ouvir, o voluntário virou-me as costas e saiu, sequer argumentou ou quis argumentar, pois só servia para ele se fosse ouvir o que lhe agradava, ainda que infundadamente.

O outro episódio se refere a divisão irresponsável da Bahia, um dos voluntários dessa comissão aproximou-se a mim e pediu-me para assinar o abaixo-assinado em favor da criação do Estado do Rio São Francisco, quando eu respondi que não era e não sou favorável a criação ele irritou-se e começou a sair. Cheguei a perguntá-lo: Criar um estado para quê? Mas, como a minha postura não era a que ele queria, ele saiu irritado, não dialogou, não conversou, não debateu, não respondeu, não justificou...

Relato esses fatos simplesmente para demonstrar como as pessoas não estão disponíveis a um debate de idéias. Há algum tempo postei em um site de um dos jornais daqui de Barreiras a pergunta: Por que criar um novo estado? Para que criar um novo estado? Alguém tem justificativas plausíveis para essa criação? Até hoje não fui respondido. Tenho observado que algumas pessoas com mais capital cultural, tipo alguns professores da UFBA, se posicionam contra essa criação, ou pelo menos questionam a necessidade dessa criação.

Qual a reação a essas posturas? Comentários desrespeitosos tipo algumas insinuações de que eles são forasteiros e etc e tal...

Se dissermos o que os componentes dessa divisão irresponsável da Bahia não querem ouvir, é ridicularizado, serve como piada, chacota, execração pública... Basta ver o tratamento que será dado a esse texto.

Pois bem, eu tenho a tranqüilidade de dizer que sou veementemente contra a criação que chamo de estapafúrdia, esquizofrência e irresponsável do Estado do Rio São Francisco.

Sou contrário à divisão do estado da Bahia! A tese de que os problemas da região oeste são decorrentes do tamanho do estado não se sustentam e na verdade tentam desviar a atenção para os reais motivos da questão, seja dos problemas como dos interesses por detrás daquelas (es) que defendem a criação. A verdade é que o abandono do interior é fruto das políticas aplicadas pelos governos estaduais anteriores e o atual, que se pautaram e ainda pauta por priorizar o agronegócio predatório e o desmatamento, abandonando nosso povo, inclusive a própria região metropolitana, à sua própria sorte.

Dividir não vai resolver o problema! Além disso, diversos estudos comprovam a inviabilidade econômica da divisão. Isso é uma irresponsabilidade! O povo é quem vai ter que pagar as contas, mais uma vez! Os novos estados já nasceriam deficitários, o que obrigaria a elevação da já altíssima carga tributária em todo o país!

Eu não poderia deixar, neste momento em que interesses sólidos, uma vez mais lançam uma investida para ludibriar o povo simples, trabalhador, marginalizado, excluído, segregado, estratificado, de explicitar minha posição com toda a coragem, com toda a ousadia que é peculiar da minha personalidade e da minha trajetória política.

Ainda, eu tenho a tranqüilidade, de dizer que, na história da Bahia, a trajetória política dos políticos deste Estado, os governos que se sucederam são os grandes responsáveis pelo sentimento de separação que uma parcela significativa da população tem nessa região; um Estado com um patrimônio econômico, um potencial hídrico, um potencial energético, um potencial mineral, um Estado que dá inveja para qualquer país do mundo, um Estado capaz de sustentar economicamente e financeiramente todo o povo brasileiro se os olhares do Governo Federal também tivesse se voltado para aqui ao longo dos anos.

E aqui devemos perguntar: Ao lado de quem todas essas figuras políticas que hoje levantam a bandeira da criação sempre estiveram? Alguns ainda estão. Todas essas figuras políticas que hoje fazem essa agitação em torno dessa criação, sempre foram favoráveis a essa criação? O que as fizeram mudar de opinião, o que as convenceram da necessidade dessa criação?

A nossa região é uma região abandonada, é uma parte do Brasil que vive do flagelo, que vive do desespero do trabalho escravo, - estão aí os casos nesta semana em Riachão das Neves -, que registra altos índices de mortes no campo. Tem os piores índices educacionais e os piores índices de desenvolvimento humano. Tudo isso nos envergonha, e esse sentimento, lamentavelmente, tem tomado conta dos corações e das mentes, de uma parcela da população.

Alguns poderia dizer que sou corajoso por declarar-me contra a criação do estado. Mas, não, os outros é que são covardes. Os outros é que não têm coragem de explicitar sua posição, seus interesses que nada tem que ver com a melhoria de vida do nosso povo.

Eu sou contra a divisão do Estado. E não tenho medo de dizer porque tenho argumentos, tenho estudado, tenho buscado me informar. Eu não quero deixar de ser baiano porque nasci na região oeste do outro lado do Rio São Francisco. Eu não quero sentir e nem quero que nenhuma/nenhum cidadã (ao) do meu Estado se sinta menor porque historicamente foi violentado com a falta de políticas públicas. Eu quero dizer, que alguns se acovardam e estão atrás da sua posição, com medo de perder o eleitorado, porque ontem estavam no poder e hoje não estão mais no poder. Não estou escrevendo e publicando este para mentir, para ser subserviente a ninguém, estou escrevendo e publicando este para defender o que eu acredito, para defender melhores condições de vida para mim e, sobretudo, o povo do meu Estado, UM ESTADO RICO QUE, ENQUANTO TIVER POLÍTICOS QUE SAQUEIA OS COFRES PÚBLICOS DO ESTADO, NÃO VAI TER CONDIÇÕES DE VIDA: NEM DIVIDINDO, NEM SEPARANDO E NEM JUNTANDO O ESTADO.

É uma falácia achar que criar Estado e Município reforçam a Federação, melhora a vida do povo. Não necessariamente. Se fosse assim, a Lei de Terras, de 1850, teria, por exemplo, melhorado a distribuição fundiária no País; e pelo contrário, ela concentrou.

A DIVISÃO DA BAHIA NÃO RESOLVERÁ OS PROBLEMAS DO POVO! A Bahia e conseqüentemente todos nós vivemos a ameaça da divisão. A divisão da Bahia não resolverá os graves problemas do povo baiano. Ao contrário, poderá agravá-los ainda mais, porque se pretende manter e aprofundar nesta nova unidade federativa o mesmo modelo excludente e devastador que está na raiz das mazelas sociais existentes em nosso Estado.

Por outro lado, reconheço que o desejo de separação é motivado pelo sentimento do mais completo abandono, por parte dos governos (PFL e PT), ao qual todas/todos estas/ estes que hoje dizem defender a criação do estado para melhorar a vida do povo, sempre estiveram e/ou estão unidas (os). A Bahia é um estado rico, de povo pobre. São milhares de pessoas vivendo na mais absoluta miséria. Além disso, as políticas públicas de saúde, saneamento, educação, segurança, transporte e infraestrutura não atendem às mais elementares necessidades da população, TANTO DA CAPITAL, QUANTO DAS REGIÕES MAIS DISTANTES. Enfim, é evidente também que poderosos grupos econômicos e políticos estão por trás da proposta separatista. E isso não é de graça de forma desinteressada.

É neste contexto que boa parte da população destas regiões é a favor da separação, esperançosa de que o abandono tenha fim. Muitos acreditam que a miséria tem origem no tamanho do estado. Se assim fosse, estados como Sergipe, Espírito Santo e Rio de Janeiro seriam verdadeiros paraísos. Estou absolutamente convencido de que a questão não é geográfica, mas política. Não é verdade que a capital do estado fique com as “riquezas” provenientes do interior. Salvador é uma cidade pobre, que ainda padece de muitas mazelas sociais.

Quem fica com o dinheiro são as grandes empresas, as oligarquias e os corruptos, que desviam dinheiro público para suas contas milionárias, vide a megaoperação da PF contra sonegação ocorrida na última quarta-feira dia 17/08/2011 que confiscou até uma ilha na BA.

A divisão, além de não resolver efetivamente o abandono, vai custar muito caro aos cofres públicos. Serão bilhões de reais ao ano. Dinheiro que poderia ser usado em políticas públicas e obras para o povo.

Essa criação do Estado não é para melhorar a vida do povo, mas apenas melhorar a vida de algumas famílias e das/dos amigas (os) dessas famílias: Pedrosas/Moreira, Oliveira e Barbosa. É apenas para se criar mais uma oligarquia, aristocracia no Brasil. Mal, o estado saiu – espero que não saia – e já tem governador/governadora. Isso é melhorar a vida do povo?

Pergunto: O que essas figuras políticas que hoje defendem a divisão da Bahia, todas/todos elas/eles com mandatos eletivos de prefeitas (os), vices, deputadas (os) estaduais e federais fizeram de concreto em Barreiras, Luis Eduardo Magalhães, São Desidério, Formosa do Rio Preto, Riachão das Neves... para viabilizar a criação do Estado? Eu respondo: Nada!

É sempre assim, quando elas/eles estão no poder são contra a divisão, quando não estão no poder são a favor.

As pessoas costumam apresentar a criação do Tocantins como modelo de sucesso, mister é, dizer que a criação do Tocantins se deu em outro contexto histórico e político. Um período de reestruturação/reforma política/administrativa, redemocratização, de constituinte. Um contexto totalmente contrário ao que vivemos hoje. Período em que a crise do Capitalismo que a mídia dava como superada se mostra viva e cada vez mais feroz e nociva ao povo pobre. Nesse sentido é uma irresponsabilidade criar um estado nessas condições.

Por fim se estamos organizados ou dispostos a nos organizar para dividir a Bahia, - e não estamos - porque não nos organizarmos e disponibilizarmos para exigir a presença, ação do Estado em nossa região? Eis os motivos:

A Bahia a despeito de toadas as mazelas que é vítima, é a oitava maravilha do mundo e Barreiras a nona maravilha do mundo!!!

Todo brasileiro é baiano, pois foi na Bahia que o Brasil nasceu!

A Bahia é o nosso amor e xodó! Bahia que não nos sai da cabeça! A Bahia de Caetano, Gal Bethânia, Gil, Jorge Amado...E alguém pode dizer, mas eles moram no Rio de Janeiro. E eu retruco a Bahia de Vinícius de Morais o carioca, mais baiano!

Só tem orgulho de ser baiano quem luta pela Bahia. Por isso se você é contra a criação irresponsável de um novo estado faça parte do Movimento Orgulho de ser Baiano. A Bahia não se divide! Não vamos criar palácios para quem tem amor ao poder!

Vamos entra na onda ou criar o movimento ORGULHO DE SER BAIANO?



CLAUDIO ROBERTO DE JESUS

quinta-feira, 18 de agosto de 2011












*Por Heloisa Helena

Os velhos humanistas espanhóis propagavam em belo enunciado que as leis ao serem aplicadas deveriam ser flexíveis para os fracos, firmes para os fortes e implacáveis para os contumazes. Na realidade, dos nossos tristes e violentos dias, os fracos enfrentam o rigor das leis ou a própria barbárie em que eles estão inseridos enquanto que os poderosos e contumazes sempre conseguem usufruir da flexibilidade da legislação e das benécias do poder para consolidar a vergonhosa impunidade. Vez ou outra – tipo um em um milhão – é que um desses poderosos é condenado até para salvaguardar o próprio sistema e sua podridão! Em outro texto – antigo e bastante atual – o Pe. Antonio Vieira alertava que até Jesus tratava de forma diferenciada o ladrão pobre do ladrão rico… Para Dimas – pobre e por isso mesmo crucificado com Ele e que nada tinha a restituir – o perdão imediato em “Estarás comigo hoje na Casa do meu Pai!”… Para Zaqueu – rico não por trabalhar, mas por muito roubar – o perdão só veio mesmo quando ele se assumiu como ladrão e se comprometeu a restituir quadruplicado o que tinha roubado! O texto é de 1655, mas muito atual ao mostrar a metodologia dos “príncipes” que conjugam de todas as formas e modos o verbo roubar e costumam não restituir o dinheiro público vorazmente roubado e até ousam restituir aos cargos aqueles igualmente mal acostumados na conjugação do tal verbo. Segundo o referido Padre vão todos para o inferno e eu sempre fico a me perguntar se haverá braseiro suficiente pra tanto político cínico e ladrão… por isso prefiro lutar para que essas excelências delinqüentes sejam devidamente condenados, como manda a legislação em vigor no país, na experiência terrena mesmo!
Mas analisemos a situação concreta – e alternativas de reversão – de quem está sendo cotidianamente condenado de forma implacável, sem julgamento, sem conhecimento das motivações e vivenciando as penalidades, sem possibilidade de superação dos dramáticos momentos do cotidiano e sem mecanismos objetivos de ressocialização se já formalmente encarcerados. Existem milhões de seres humanos em nosso país (Alagoas ostenta os piores indicadores sociais) que nasceram em comunidades vulneráveis socialmente nas periferias e são condenados à miséria humana (que é infinitamente mais infame que a pobreza absoluta). Foram condenados a nascer em condições absolutamente precárias – e se não foram jogados numa calçada em noite fria ou numa lata de lixo – foram condenados a ter como chão para suas brincadeiras os esgotos a céu aberto… Foram condenados a morar num casebre sem lençóis limpos e perfumes delicados, compartilhando camas com adultos onde a sexualidade precoce é estimulada ou a maldita iniciação sexual é ditada pelo abuso e exploração na pedofilia… Foram condenados a não manusear a textura dos papéis de livros cheios de estórias e desenhos maravilhosos que poderiam até encantar e suavizar as suas próprias histórias dilacerantes de dias e dias de gritos, espancamento, alcoolismo e outras drogas, destruição de laços afetivos familiares e tantas outras situações angustiantes… Foram condenados a perderem seus nomes e a ingenuidade da identidade infantil, pois logo cedo foram “incluídos” como aviãozinho, fogueteiro, mula do pequeno e maldito tráfico de drogas – conduzido por pequenos bárbaros – para fomentar a imensa riqueza de uma canalha muito rica e poderosa, que vive muito distante das favelas e movimentam bilhões de dólares com as drogas psicotrópicas lícitas ou não… Foram condenados nos presídios imundos a se tornarem depósitos de AIDS, tuberculose, hepatites, hanseníase e a serem estuprados e violentados na sua dignidade pelos chefes dos presídios – que já barbarizados pela vida – criam verdadeiras “escolas” de crimes e perversidades para a grande maioria que lá está por ser pobre e por ter praticado pequenos delitos e acaba saindo do cárcere com “diploma” de assassino potencial.
Quais as opções a serem assumidas e implementadas por uma sociedade que se apresenta como moderna e civilizada? Quais os verdadeiros compromissos de uma sociedade que se apresenta como democrática, mas admite de forma cínica e dissimulada a tirania da miséria e do sofrimento dilacerador? Quais os verdadeiros Projetos para minimizar a Violência em Prevenção – educação, música, cultura, esporte, emprego digno – e Repressão – com condições dignas de trabalho e salários para os trabalhadores civis e militares da área de segurança pública – e na Recuperação e Ressocialização – do tratamento dos usuários de drogas psicotrópicas até a capacitação profissional e inserção econômica… Quais as Metas e Prazos e Cronogramas para a implementação das Ações, Projetos, Leis? Volto a insistir na necessidade de implementação de Políticas Públicas voltadas para intervenções globais em comunidades vulneráveis socialmente antes que a indigência social e a miséria humana aniquilem as possibilidades, de talento e vida digna, para milhões de crianças e jovens que podem acabar vivenciando apenas o triste e perverso decreto das gerações perdidas. Sempre lutei muito por tudo isso – com Projetos, Emendas ao Orçamento, Propostas Concretas – mesmo sendo incompreendida pela inocência de alguns e atacada pelos sórdidos vigaristas das gangues políticas que não aceitam conviver com quem não é domesticada pelo banditismo deles. Continuo lutando e acreditando que é possível resgatar o que de melhor e mais belo ainda possa existir especialmente nas crianças e jovens – em situações de risco – antes que a vida os condene à barbárie e se encarregue de afastá-los definitivamente da solidariedade, da bondade, da compaixão, do amor! Como dizia Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender e, se pode aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar!”.

*HELOÍSA HELENA, vereadora pelo PSOL em Maceió.
Twitter: @_heloisa_helena

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Seja bem vinda Universidade Federal do Oeste!

Hoje será anunciada oficialmente a criação da Universidade Federal do Oeste com a transformação do campus da UFBA na UFOB. A Bahia ganhará, nesta terça-feira (16), mais duas Universidades Federais e nove Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFETs). A presidente Dilma Rousseff anunciará numa cerimônia a expansão da rede federal de educação superior e profissional e tecnológica. Essa notícia pegou a todas (os) de surpresa e encheu de alegria e esperança a muitas (os). Seja bem vinda UFOB!!!

Recordo que em 2008 participando 28º Encontro Nacional das/dos Estudantes de Pedagogia – ENEPE em Vitória (ES) conversando com outras (os) participantes do referido encontro essa se mostrava admiradas pelo fato de termos duas Universidades públicas aqui em Barreiras e eles tinham apenas uma. Por isso não podemos abrir mão da nossa Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Departamento de Ciências Humanas DCH/Campus IX. Como dizem no Direito, trata-se de um “direito adquirido” e ninguém pode nos retirar esse direito sob pretexto nenhum. Quem sabe podemos agora reivindicar que o nosso Campus IX seja transformado na Universidade Estadual!

Precisamos de mais Universidades, escolas... Nunca é demais construirmos mais escolas, universidades..., Não é gasto, despesa... que deve ser cortada como dizem os cínicos da política com alegação da Responsabilidade Fiscal. Escola não se fecha! Escolas se abre mais e mais! É investimento! Há demanda! Basta olharmos a imensa esmagadora maioria que fica de fora da Universidade no processo “meritocrático e excludente” que é o vestibular.

Todavia, apesar de toda euforia pela criação da UFOB, não podemos nos silenciar diante da contradição da presidente e do seu governo. Tem alguma coisa de estranho e incompreensível nessa criação, que de fato é irresponsável, eleitoreira e em cima de palanque. É a mesma expansão irresponsável, eleitoreira e em cima de palanque da qual a nossa UNEB hoje é vítima com seus 24 campi  e 29 Departamentos. Pois, se expandiu a Universidade sem aumentar realmente os seus recursos, sem aumentar o quadro docente, técnico...

Ora, a primeira coisa que a presidente fez ao tomar posse foi cortar 50 bilhões de reais de “gastos” do governo. Destes algo em torno de 3 bilhões da educação. Tem algo estranho ou não nessa criação. Ainda, os Institutos Federais, inclusive os campi  novos estão em greves reivindicado justamente mais recursos, mais professores, melhores condições de funcionamento... No Plano nacional da Educação – PNE do governo pretendem destinar 7% do PIB para educação todas (os) as/os professoras (es) estudantes, entidades defendem 10% do PIB. O problema maior é que o governo que 7% do PIB, mas não cumpre nem o 7% a que se propõe. Se pelo menos cumprisse os 7%, a história seria bem outra! Mais outro agravante, o governo não demonstra sensibilidade com as históricas e justas reivindicações, quando libera a contratação de professoras (es) sem concurso público e sem a devida titulação. Fato histórico nas federais. Nunca visto antes na história deste país!

Estou citando esses problemas que a UNEB com 30 anos de existência passa e que a UFBA com pouco menos de 10 anos aqui em Barreiras já enfrenta. Ou seja, o processo de sucateamento nas federais está bem mais acelerado. Na UNEB começamos a vivenciar para valer essa situação há pouco menos de 5 anos.

Fiquemos atentas (os) a essa situação. Pois, na UNEB, por exemplo, existem cursos que foram criados apenas para eleger certas figuras política deputada (o). E agora com a UFOB qual o verdadeiro interesse? Qual a motivação dessa contraditória criação?

Para que dois campi numa distância de menos de 100KM? Enquanto em Santa Maria da Vitória não tem nenhuma Universidade Pública.

Já disse certa vez a nossa Prefeita Municipal Jusmari Oliveira e a nossa Deputada Estadual Kelly Magalhães que sou plenamente favorável a criação da UFOB. Ainda, que se possível que se criasse até uma municipal. Pois como já disse acima: Precisamos de mais Universidades, escolas... Nunca é demais construirmos mais escolas, universidades..., Não é gasto, despesa... que deve ser cortada como dizem os cínicos da política com alegação da Responsabilidade Fiscal. Escola não se fecha! Escolas se abre mais e mais! É investimento! Há demanda! Basta olharmos a imensa esmagadora maioria que fica de fora da Universidade no processo “meritocrático e excludente” que é o vestibular.

Sou contra a criação irresponsável, eleitoreira e em cima de palanques que cria as Universidades sem um orçamento que atenda as demandas reais da mesma, sem professoras (es) efetivas (os), técnicos...Sou contra a criação de uma Universidade elitista, aonde o filho da pobreza não pode entrar nela, ou se entra não pode permanecer na mesma. Para isso precisaremos “combater a riqueza e não a pobreza!” Sou contra que se ludibrie as/os nossas jovens!!!

Desde já precisaremos ficar atentas (os) ao que se pretendem fazer com essa criação! Estarmos na linha de frente organizando a luta para enfrentar os eventuais ataques vil e torpe que serão desferidos contra a Educação Pública Superior.


Claudio Roberto de Jesus
Partido Socialismo e Liberdade - PSOL

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

As/aos lutadoras (es) grevistas do IFBA

Caríssimos (as) companheiros (as),
“Ou os estudantes se identificam com o destino do seu povo, com ele sofrendo a mesma luta, ou se dissociam do seu povo, e nesse caso, serão aliados daqueles que exploram o povo”. (Florestan Fernandes)

É com muita satisfação que eu Claudio Roberto de Jesus ex-militante do Movimento Estudantil na Universidade do Estado da Bahia – Departamento de Ciências Humanas – Campus IX, Barreiras – Bahia, no Diretório Acadêmico de Pedagogia - DAPed, ex-militante do Movimento Estudantil Unificado – MEU e militante do Partido Socialismo e LiberdadePSOL, identificando-me com o destino do meu povo e com ele sofrendo e lutando a mesma luta me dirijo a vocês para externar o meu sincero apoio neste período de luta e enfrentamento à ordem neoliberal galopante na Educação pública e na sociedade.

Externo também meu profundo respeito e admiração a vocês, nobres companheiras (os) de luta, por não se calarem ao ver os mandos e desmandos de quem tem o “amor do/ao poder”! Como poderíamos nos calar e separarmos, de tão nobre batalha, se nossas lutas são tão convergentes?

Nossa luta encontra abrigo e similaridade na resistência e luta por uma Educação verdadeiramente pública, gratuita e de qualidade para todas (os), referenciada nas lutas sociais. Queremos uma educação democrática e autônoma, voltada inteiramente para as lutas democráticas. Queremos mais Escolas e/ou Universidades sim, mas com o aumento real de sua verbas, com políticas afirmativas, reforma universitária, assistência estudantil, mais pesquisas e mais professoras (es).

A educação no Brasil passa por um período crítico, em que ao longo do tempo a educação pública, de qualidade vem deixando de ser um direito e passa a ser uma mercadoria. Presenciamos, cotidianamente, os ataques vil e torpe à educação pública que sofrendo grave sucateamento em decorrência dos sucessivos cortes de verbas, vem perdendo sua autonomia política e financeira... Essa condição afasta a Educação do seu papel de instrumento para a emancipação.

A profunda desigualdade social do país também se reflete dentro das universidades públicas. É real a existência de estudantes na comunidade acadêmica com dificuldades de se manter em seus cursos. A falta de restaurantes universitários; o escasso número de bolsas; ausência de vagas nas residências universitárias, quando estas existem; gastos imensos com transportes e reprodução de textos, devido a pouca oferta de livros nas bibliotecas têm por conseqüência um baixo rendimento acadêmico, além da grande evasão e retenção de vagas.

Uma situação grave gerada não só pela falta de políticas que visem garantir a permanência dos estudantes nas instituições, mas principalmente pela falta de verbas públicas para sua implementação.

A assistência estudantil não deve ser encarada como uma forma assistencialista, onde imperam a troca de favores ou mesmo a “esmola” para o estudante de nível sócio – econômico baixo. A assistência estudantil é um instrumento de democratização da universidade, possibilitando que os estudantes de baixa renda possam se manter na Universidade de forma plena.”

Na verdade , na verdade, todas essas leis/decretos/planos é mais uma prova da traição de toda história política e social de mais de vinte anos do PT, no caso do PSDB – DEM - PMDB não se trata de traição, aliás podemos até falar em coerência, visto que essa sempre foi a sua postura política, atender o interesse do mercado colocando em prática as políticas neoliberais sem nenhum constrangimento.

Não poderia deixar de apoiar essa luta, nem ela poderia ser feita de forma isolada e fragmentada. Estamos entre os milhares de estudantes espalhadas (os) pelo Brasil, unidas (os) pela coragem e a imensa disposição de darmos uma nova cara para o país. Queremos mais espaços e encontros das diversas áreas. Queremos mais do que diversão e arte. A nossa vontade vai ao encontro de um Brasil plural. Um país para todas (os), democrático, soberano e desenvolvido.

Fazemos parte daquelas (es) que querem um Movimento Estudantil de luta, base, sério, transparente, honesto, enfrentamento e de embate propositivo para mudar a educação e construir um novo Brasil.

A luta das/dos estudantes sempre se deu em vista da superação de crises criando perspectivas mais democráticas e transformadora para toda a sociedade.

Caríssimas (os) companheiras (os), vocês – nós, estamos vivenciando e construindo também, um momento histórico ímpar, bastante propício para debatermos nossa concepção de Movimento Estudantil, Educação, participação, democracia, Universidade e sociedade. Sendo assim, esse momento não pode passar como um momento comum, passar alheio a tudo isso, ou seja, alheio ao debate sobre o Movimento Estudantil, Educação, participação, democracia, Universidade e sociedade. A greve ainda é um recurso revolucionário! Toda greve é vitória, é luta... A greve é um processo de conscientização e atitude!

O Movimento Estudantil, na sua grande maioria compostos por jovens que paradoxalmente ao que se desenha na mídia, é detentor de uma histórica e valente participação combativa, de luta, enfrentamento e embate propositivo reivindicando e lutando junto às classes oprimidas, bem como desempenhando um papel importante e imprescindível nas decisões políticas no cenário da sociedade brasileira e mundial. É comovente constatarmos com o movimento deflagrado por vocês e tantas (os) outras (os) estudantes nesse país, que o Movimento Estudantil (as/os estudantes) não foge a luta e nem trai sua história! É nestes termos que eu Claudio Roberto de Jesus ex-militante do Movimento Estudantil na Universidade do Estado da Bahia – Departamento de Ciências Humanas – Campus IX, Barreiras – Bahia, no Diretório Acadêmico de Pedagogia - DAPed, ex-militante do Movimento Estudantil Unificado – MEU e militante do Partido Socialismo e LiberdadePSOL, saúdo e reitero o meu apoio e solidariedade nesta singular batalha.



“Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros” Che Guevara



“Um homem só morre quando deixa de lutar”

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“.... Que todo jovem militante seja essencialmente humano, que seja tão humano que se aproxime daquilo que há de melhor no homem por meio do trabalho, do estudo, do exercício de solidariedade contínua com o povo e com todos os povos do mundo, que desenvolva ao máximo a sensibilidade a ponto de se sentir angustiado quando um homem é assassinado em qualquer recanto do mundo, ou entusiasmado quando uma nova bandeira de liberdade se levanta em qualquer recanto do mundo, o que todo jovem militante capaz de fazer a revolução precisa é de estudo, trabalho e fuzil...”

(Che Guevara)

Claudio Roberto de Jesus

Partido Socialismo e Liberdade - PSOL



sábado, 6 de agosto de 2011

Resposta ao texto: HETEROSSEXUALIDADE, CONVICÇÃO E PRECONCEITO

“Ama e faze o que quiseres”
(In epist. Joan. 7, 8 Santo Agostinho)



O Jornal Nova Fronteira publicou no editorial da Edicão 400 o texto intitulado: HETEROSSEXUALIDADE, CONVICÇÃO E PRECONCEITO, de autoria de Ronaldo Ausone Lupinacci. Como de acordo a interpretação que fiz do mesmo encontrei algumas análises deturpadas e equivocadas acerca da polêmica que envolve o projeto n.º 5003/2001 (PLC122/06) que além de combater e criminalizar a homofobia, quer combater e criminalizar o preconceito contra os idosos, portadores de necessidades especiais, negro, indígenas e quilombolas - Isso é ruim? Não deve ser aprovado? -, solicitei a publicação deste, bem como de outros textos já publicados aqui no blog1, também enviei os textos aos e-mails de Ronaldo Ausone Lupinacci, Miryan Rios e publiquei em outros sites de relacionamento do qual faço parte.

A solicitação ao departamento de edição do Jornal Nova Fronteira foi feita no dia 13 de julho do ano em curso. Como não obtive resposta satisfatória da equipe de redação do Jornal Nova Fronteira, por algum motivo alheio à vontade deles, e o mesmo já fez a publicação da edição 401, edição posterior ao texto acima mencionado e a minha solicitação, resolvi adaptar este, publicá-lo e divulgá-lo. Só assim poderemos desmascarar as mentiras ditas em torno desta temática e estabelecer um debate de idéias e concepções com outra visão também.

No supracitado algumas análises e informações inexatas e deturpadas, análises e concepções reproduzidas e embasadas nos ditos Livros Sagrados (Bíblia, Cartas dos Padres do Deserto e Encíclicas Papais) muitos destes livros escritos há mais de três mil anos que reproduzem os valores éticos, morais e espirituais de uma sociedade marcadamente machista/patriarcal, e definitivamente, decorridos mais de dois mil anos, descontextualizados. Aqui lembro da frase de Carlos Mesters: “Quem lê a Bíblia sem analisar o contexto, usa a Bíblia de pretexto para dizer o que quer.” As idéias e as posturas defendidas e divulgadas no texto referido causaram em mim e outras (os) companheiras (os), amigas (os) que junto comigo liam o artigo, muita revolta, indignação, nojo, raiva, enfim, sentimentos negativos.

Já que o autor do texto referido, faz tanta questão de citar os textos da Igreja Católica, gostaria de trazer a público que a Igreja no seu catecismo reconhece que a homossexualidade tem sua gênese inexplicada. E aqui é bom que se diga que a ciência também não explica a heterossexualidade. Obviamente que do ponto de vista biológico, para haver a procriação é necessário um animal macho e um animal fêmea. Todavia, a ciência não explica o porquê um homem sente atração sexual, amor, sentimento, desejo por uma mulher e vice-versa. O mesmo se diga de um homem que sente atração sexual, amor, sentimento, desejo por outro homem, ou uma mulher por outra.

Ainda, a Igreja reconhece que um número não negligenciável de homens e mulheres apresentam características, traços e/o tendências homossexuais enraizadas/natas. Diz o Catecismo que as/os homossexuais: “Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condição.” O catecismo diz que as pessoas homossexuais podem se aproximar, gradual e resolutamente, da perfeição cristã, pela oração e pela graça sacramental.

Algumas religiosas (os) poderiam argumentar que está expressamente nítido na Bíblia que a homossexualidade é proibida. Contudo, vem me repetidas vezes à memória a declaração de Jesus na mesma Bíblia: “O sábado é para o homem e não o homem para o sábado”. Com isso Jesus queria dizer que a lei é para servir ao ser humano, para protegê-lo, preservá-lo, garantir sua liberdade e que, portanto, toda lei que não confere nada destas coisas ao ser humano não deve ser seguida, cumprida... Diz ainda Jesus: “Eis que faço novas todas as coisas!”

Na condição de negro afro-descendente, de lutador/militante social (movimento estudantil e partido político), de educador e acadêmico senti-me na obrigação de escrever este para que as/os nobres leitoras (es) deste augusto veículo de comunicação pudessem participar de um debate de idéias e/ou concepções livres da conveniência das religiões, sem a sordidez e cretinice de todas as religiões, sobretudo a cristã com suas visões medíocres, mesquinhas, escassas quando lhes convém.

Este objetiva prestar algumas explicações para dissipar toda e qualquer deturpação consciente ou inconsciente, voluntária ou involuntária, às vezes até mesmo despercebida. No caso do autor do texto em questão, trata-se de deturpação, consciente e voluntária, como é praxe acontecer naquelas (es) que querem manter o preconceito, a violência contra as/os homossexuais, sua visão conservadora e falso moralista. Mentem para conseguir adeptos!

Não se trata aqui de dizer que os heterossexuais não possam defender sua heterossexualidade, seu ponto de vista...Podem e devem! Agora, usar deliberada e consciensiosamente de inverdades para ludibriar as/os mais simples, as/os que não tiveram acesso ao conhecimento sistematizado e acumulado, as pessoas de “boa fé”, isso é inojável, reprovável, abominável, intolerável e inadmissível.
Mentiras como: “Vão ensinar sua/seu filha (o) a ser homossexual!”; Apresentar um material que nada tem que ver com o Kit de combate a homofobia, como se fosse o mesmo; associar a homossexualidade a pedofilia. Tudo isso é jogar sujo! Vamos ao debate, ao diálogo sincero, aberto, transparente, tranqüilo e com idéias atualizadas das idéias, concepções...!

Argumentam que querem destruir a instituição família. Ora, a morte, a violência, a agressão praticada contra as/os adolescentes/jovens homossexuais, - e agora casos de agressão a suspeitos de serem homossexuais -, não destrói a família? Não causam dor na família?

Sinceramente é revoltante assistir ao cinismo, dissimulação e a farsa criminosa socialmente de figuras públicas com discurso histérico e vazio de defesa da família, figuras estas que só assumiram o mandato eletivo porque o Supremo Tribunal Federal – STF barrou a Lei da Ficha Limpa nas eleições do ano passado, Pois, melhor defesa da família se faz, não roubando e/ou não desviando os recursos públicos, suficientes para garantir os direitos elementares a que cada cidadão tem previsto na Constituição Federal de 88 e que impediria a dor das crianças, adolescentes, jovens que nos surpreendem nas ruas, bares e restaurantes pedindo-nos para comprar balas, doces, pedindo um troco, “roubando”, se prostituindo e/ou servindo de mão de obra escrava do crack, tráfico e narcotráfico. Em suma, melhor defesa da família se faz em não se promover os saques aos cofres públicos!

O referido autor do texto já mencionando e que utiliza fundamentos religiosos para defender sua idéia, é advogado, ou seja, teve acesso ao universo das várias idéias, ao conhecimento... É inadmissível e inacreditável que um advogado não saiba que o ESTADO, ou seja, o poder público não possui paixão religiosa, não professa crença em nenhuma religião. Será que ele nunca leu a Constituição Federal de 88? Se for sim a resposta, está entendido o porquê do MEC está fechando vagas do curso de Direito pelo Brasil a fora, e o alto índice de pessoas reprovadas no exame da OAB.

Gostaria de questionar: Quem disse que a Bíblia é o Livro Sagrado da humanidade? Para quem ela é sagrada? Por que o Corão, o Torá e os livros de outras religiões não são sagrados para a humanidade? A Bíblia não é o Livro Sagrado (o único)! É apenas mais um dos livros ditos sagrados!

E aquelas pessoas que não são cristãs, católicas e/ou não professam religião nenhuma? Devem seguir as prescrições papais, cristãs das/dos santas (os) das igrejas cristãs e/ou católicas? Quem fundou a civilização cristã? Quem faz parte dela? Todas (os) são obrigadas (os) a pertencer a ela?

Outra questão abordada pelo autor do texto é a idéia de que a homossexualidade pode ser aprendida, ensinada e que, portanto, um dia alguém chega e decide: “Oi, eu vou ser homossexual, porque me convenceram, vou experimentar toda a sorte de violência, de sofrimento, perseguição, crueldade, tortura, piadas, chacotas, ridicularizações porque eu gosto, me ensinaram, eu aprendi a ser homossexual”. Ora, a homossexualidade não é aprendida, escolhida ou ensinada! Aprendido, ensinado e divulgado é o ódio, a raiva, o rancor, o plano que quer matar todas (os) homossexuais, - às vezes até em nome de Deus - o desrespeito, enfim, o preconceito. E do mesmo modo que esses sentimentos podem ser ensinados, divulgados e aprendidos, também se pode aprender a aceitar, a respeitar, a tolerar e a conviver harmônica e pacificamente com as pessoas que simplesmente sentem amor e/ou atração sexual por pessoas do mesmo sexo.

Outro equivoco é a análise de que os meios de comunicação estariam todos eles empenhados na luta LGBTT. Vale lembrar que esses meios de comunicação estão todos nas mãos de quatro famílias tradicionais e conservadoras. E outros tantos nas mãos das igrejas arcaicas, atrasadas, desatualizadas, conservadoras, tradicionais todas elas, e volto a enfatizar, sobretudo, as cristãs.

O que acontece na verdade é a espécie do “mito da democracia sexual e/ou de gênero”, tal como o “mito da democracia racial”. Quantas vezes presenciamos beijos gays na televisão? Por quais motivos?

Enquanto a Rede Boba de Televisão finge ser democrática ao tocar no assunto, na verdade o que ela quer é impor o modelo de homossexual ou de casal gay aceitável e tolerável na sociedade. Um modelo “quieto, comportado, reservado, dentro de quatro paredes.” É como se dissesse: “Pode até ser homossexual, a gente aceita, mas é só entre quatro paredes. Aqui fora, na sociedade tem que ser como se fosse ‘normal’”. Basta analisar as duas novelas que tem dois casos de homossexual: a novela do horário das 19h00 e a do horário das 21h00.

Na novela das sete o homossexual é apresentado como motivo de chacota, ridicularização e que, portanto deve ser condenado e rejeitado. Tanto que o pai usa a expressão: “Fecha esse armário!”. Já na novela das nove o homossexual é aceitado, compreendido, porque ele é “comportado”.

Ora, se um casal hetero pode trocar carícias diante de todas (os) aquelas(es) que estão em seu redor em espaço público, por que um casal homossexual não pode trocar carícias em espaço público?

Ao apresentar cenas de agressão aos homossexuais na TV, a Rede Boba de Televisão quer dizer: ‘É perigoso ser homossexual!Se você for homossexual, não assuma publicamente. Porque senão, olha qual pode ser os eu fim!” Ela quer mesmo instaurar o medo e a inseguridade na comunidade LGBTTS.

Duas questões abordadas no texto mencionado que vou tratar como ignorância, é preferível acreditar que é ignorância e não má fé, má caratismo. É o uso da palavra homossexualismo pelo autor do texto ao invés de homossexualidade. Essa palavra era usada quando a ciência encarava a homossexualidade uma patologia. Há um bom tempo essa palavra foi deixada de lado, quando a ciência retira a homossexualidade do quadro de patologias. As pessoas que tiveram acesso ao conhecimento sabem disso e insistem em utilizar esse termo para inculcar ou internalizar de alguma forma que a homossexualidade é uma doença. Quando se trata de uma pessoa que nunca passou por uma universidade, mestrados, doutorados, é até um pouco compreensível. A outra questão é a associação que o autor do texto faz da homossexualidade com a pedofilia, mesmo sem nenhum embasamento científico para tanto. Poderia eu aqui reproduzir o discurso mentiroso de que a maioria dos padres são pedófilos, mas, não vou cair na mesma sordidez e cretinice, porque sei que isso não corresponde a verdade. Não quero travar debate de idéias com mentiras!!!

Está comprovado que a maioria dos casos de pedofilia são praticados por heterossexuais em sua grande maioria casados e próximos da vítima. Recentemente um pedófilo casado foi preso.

Gostaria de perguntar: Se foi Deus que nos criou, as pessoas homossexuais são suas filhas (os)? Se são, não devem ter a dignidade de filhas (os) de Deus respeitados,a dignidade de ser humano, a cidadania....? Quantas pessoas lêm o “gibi” chamado VEJA? Como o próprio nome diz, não é para ler é apenas para ver. Leu na VEJA azar o seu!!! A VEJA não tem respaldo, credibilidade e nem público para fazer essa enquete. Os 73% a que o autor do texto citado se refere corresponde a quanto da parcela da sociedade? Quantos filhos o autor do texto referido tem? Quantas vezes o autor do texto já fez sexo com sua esposa? Todas as vezes que se relacionou com ela foi para a procriação? Os casais que são estéreis como ficam?

Como cristão que sou gostaria de dizer que o Senhor Jesus nos manda/pede para fazermos tantas coisas e nós não fazemos! Dentre as coisas que ele nos pede é: não acusarmos, não condenarmos, não criticarmos, acolher a todas (os), não roubarmos, não matarmos ... O Senhor Jesus morreu por todas (os)!!! Ele nos ama do jeito que somos! Se é pecado porque ele permite que uma pessoa nasça com a tendência homossexual? Por que Ele permite que a pessoa nasça assim e sofra tanto? Porque as/os homossexuais passam por todo tipo de sofrimento, possível e impossível! Ora, a pessoa não opta por ser homossexual, ela opta em assumir ou não sua condição homossexual!

Deixemos de conveniência, de sordidez e de cretinice!! Deus manda a gente fazer tantas coisas e não fazemos, mas neste caso da homossexualidade viemos com esse discurso de que: "Deus fez homem e mulher e é assim que tem que ser" E quem prova que Deus existe mesmo? E as pessoas que não acreditam em Deus e/ou acreditam em outras divindades ou nenhuma? Serão obrigadas a viverem de acordo com o que a conveniência cristã dos crentes querem e dizem? Quanta hipocrisia!!!

Lembro as/aos religiosas (os) que Jesus disse: "Amem vossos inimigos!"Se devemos amar nossos inimigos, por que termos ódio, raiva, rancor, de alguém que não é nosso inimigo? Disse Jesus: "Deixo ao partir nova lei. Que vos amei uns aos outros assim como eu vos amei" Por que odiar, perseguir, magoar, machucar, ferir, ofender, maltratar alguém que simplesmente gosta de outra pessoa do mesmo sexo? São Paulo nos diz: "O amor é prestativo, não é invejoso, não é rancoroso... Tudo crê, tudo aceita, tudo perdoa... Não faz o mal a ninguém..." Portanto, AMEMOS!!! Como diz Santo Agostinho: 'Ama e faça o que quiseres!"





Claudio Roberto de Jesus

Partido Socialismo e Liberdade – PSOL



1- Textos publicados no blog, em outros sites de relacionamento que pertenço, ao Jornal Nova Fronteira e enviados ao e-mail de Ronaldo Ausone Lupinacci e Miryan Rios: Frei Beto defende com a Bíblia a União homoafetiva; Carta a um Fundamentalista; Trecho de decisão judicial que autoritorizou o primeiro casamento gay no Brasil;