sábado, 21 de agosto de 2010

“SEGUE-ME”

“Segue-me", diz o Senhor ressuscitado a Pedro, como sua última palavra a este discípulo, escolhido para apascentar as suas ovelhas. "Segue-me" esta palavra lapidária de Cristo pode ser considerada a chave para compreender a mensagem que vem da vida do nosso saudoso e amado Dom Ricardo, cuja morte ainda causa em nós tristeza, mas também causa jubilosa esperança e profunda gratidão.
“Segue-me” Quando tinha 25 anos e foi ordenado sacerdote em 15 de julho de 1964 na Áustria. “Segue-me” quando chegou em Barreiras dia 24 de fevereiro de 1974 quando Barreiras pertencia a Diocese de Barra.
A partir de três palavras do Senhor nos textos que se seguem interpretamos o sacerdócio particular de Dom Ricardo. Em primeiro lugar, esta: "Não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e dar fruto, e fruto que permaneça" (Jo 15, 16). A segunda palavra é: "O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas" (Jo 10, 11). E finalmente: "Assim como o Pai me tem amor, assim eu vos amo a vós. Permanecei no amor" (Jo 15, 9). Vemos nestas três frases toda a alma do nosso Bispo. Ele foi real e incansavelmente a todas as partes para levar fruto, um fruto que permanece. "Levantai-vos, vamos!" com estas palavras despertou-nos de uma fé cansada, do sono dos discípulos de ontem e de hoje. "Levantai-vos, vamos!" diz-nos também hoje a nós. O nosso Bispo depois foi sacerdote até ao fim, porque ofereceu a sua vida a Deus pelas suas ovelhas e por toda a família humana, numa doação quotidiana ao serviço da Igreja e sobretudo nas difíceis provas dos últimos meses. Assim tornou-se uma só coisa com Cristo, o bom pastor que ama as suas ovelhas. E por fim, "permanecei no meu amor": o Bispo que procurou o encontro com todos, que teve uma capacidade de perdão e de abertura do coração a todos, diz-nos, também hoje, com estas palavras do Senhor: Habitando no amor de Cristo aprendemos, na escola de Cristo, a arte do verdadeiro amor.
"Segue-me" Dom Ricardo aceitou, sentindo na chamada da Igreja a voz de Cristo. E depois deu-se conta de quanto é verdadeira a palavra do Senhor: "Quem procurar salvar a vida há-de perdê-la; e quem a perder, há-de conservá-la" (Lc 17, 33). O nosso Bispo todos nós o sabemos nunca quis salvar a própria vida, tê-la para si; quis oferecer-se a si mesmo sem limites, até ao último momento, por Cristo e também por nós. Precisamente desta forma pôde experimentar como tudo o que confiara nas mãos do Senhor voltou de novo: o amor à palavra, à poesia, às letras foi uma parte essencial da sua missão pastoral e deu renovado vigor, renovada atualidade, renovada atração ao anúncio deste sinal de contradição.
"Segue-me"! No dia 11 de julho de 1979 o monge benditino ouviu de novo a voz do Senhor. Renova-se o diálogo com Pedro narrado no Evangelho desta celebração: "Simão, Filho de João, tu amas-Me? Apascenta as minhas ovelhas!". À pergunta do Senhor: Ricardo, tu amas-Me?, o monge beneditino respondeu do fundo do seu coração: "Senhor, tu sabes tudo, sabes que te amo". O amor de Cristo foi a força dominante do nosso amado Bispo; quem o viu rezar, quem o ouviu pregar, bem o sabe. E assim, graças a este profundo radicamento em Cristo pôde carregar um peso, que vai além das forças meramente humanas: ser pastor do rebanho de Cristo, da sua Igreja particular.
O nosso Bispo defunto exorta-nos em voz alta: "Meus caríssimos e saudosos irmãos, minha coroa e alegria, permanecei assim firmes no Senhor, caríssimos" (Fl 4, 1).
"Segue-me"! Juntamente com o mandato de apascentar o seu rebanho, Cristo anunciou a Pedro o seu martírio. Com esta palavra conclusiva e recapitulativa do diálogo sobre o amor e sobre o mandato de pastor universal, o Senhor recorda outro diálogo, tido no contexto da última ceia. Nele, Jesus dissera: "Para onde Eu vou, vós não podeis ir". Disse Pedro: "Senhor, para onde vais?". Jesus respondeu-lhe: "Não podes seguir-me agora aonde eu vou; mas me seguirás mais tarde" (Jo 13, 33.36). Jesus, da ceia vai para a cruz, para a ressurreição entra no mistério pascal; Pedro ainda não o pode seguir. Agora depois da ressurreição chegou este momento, este "mais tarde". Apascentando o rebanho de Cristo, Pedro entra no mistério pascal, encaminha-se para a cruz e para a ressurreição. O Senhor diz isto com as seguintes palavras, "... quando eras mais novo... ias onde querias, mas quando fores velho, estenderás as mãos e outro há-de atar o cinto e levar-te para onde não queres" (Jo 21, 18).
Para todos nós permanece inesquecível a mensagem que nos deixou antes de viajar para Austria em sua última entrevista veiculada no dia de Corpus Crhisti: Rezem pelos doentes e Valorizem a Eucaristia, Pão da vida, pão do céu!!!Valorizem a Santa missa! Agora ele participa do banquete pascal na casa do Pai!
Podemos ter a certeza de que o nosso amado Bispo agora está na janela da casa do Pai, vê-nos e abençoa-nos. Sim, abençoe-nos, Dom Ricardo. Nós confiamos a tua amada alma à Mãe de Deus, tua Mãe, que te guiou todos os dias e te guiará agora à glória eterna do Seu Filho, Jesus Cristo nosso Senhor. Amém. (Texto baseado em: HOMILIA DO CARDEAL JOSEPH RATZINGER na MISSA DAS EXÉQUIAS DO ROMANO PONTÍFICE JOÃO PAULO II no dia 8 de Abril de 2005 na Praça de São Pedro.

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